Perfil "Para fazer mais do mesmo, prefiro não fazer", declara Julia Petit em entrevista exclusiva Enquanto lança sua primeira coleção de maquiagem, a blogueira e produtora musical fala sobre moda e a vontade de inspirar projetos na televisão

Por: Larissa Lins - Diario de Pernambuco

Publicado em: 22/03/2015 15:00 Atualizado em: 20/03/2015 15:14


Julia concedeu entrevista na Casa Petiscos. Foto: João Sal/Divulgação
Julia concedeu entrevista na Casa Petiscos. Foto: João Sal/Divulgação


Mencionar o nome da paulistana Julia Petit provoca a associação imediata ao seu site de moda e comportamento, o Petiscos. Não são muitos os que conhecem por completo a carreira da ruiva, que também atua como designer de joias, apresentadora de televisão e produtora musical de comerciais publicitários.

Julia já foi, inclusive, premiada com o Leão de Ouro no Cannes pela produção da trilha sonora de comercial da marca de eletrodomésticos GE (General Electric). Comandou o programa Base Aliada, com dicas de maquiagem e beleza, no GNT. E, na TV brasileira, fez participações em programas de auditório compartilhando seus segredos para, nas palavras dela, “usar a maquiagem para ser o que quiser.”

Esta semana, a blogueira, produtora e apresentadora tornou-se a primeira mulher brasileira a assinar uma linha de produtos em parceria com a gigante canadense MAC Cosmetics. Aos quase 43 anos de idade, Julia vive em São Paulo com a filha Nina e escolheu a metrópole para sediar o lançamento de sua coleção.

Foram dois anos e meio entre o convite da MAC e o lançamento da coleção. Foto: João Sal/Divulgação
Foram dois anos e meio entre o convite da MAC e o lançamento da coleção. Foto: João Sal/Divulgação


Listada pela FFW como uma das 50 personalidades mais estilosas do país, ela acredita que o poder da moda sirva de resgate à autoestima de uma nação economicamente enfraquecida. Lança mão de sua imagem através das telas – da TV tradicional aos portáteis – a fim de fazer do ato de se maquiar um exercício de libertação.

>> NÚMEROS

198 mil

Curtidores na página Petiscos no Facebook

42
Anos de idade, uma das buscas mais associadas ao nome de Julia Petit nos sites de pesquisa

30
Meses de desenvolvimento da coleção de Julia Petit para a MAC

A coleção é intuitiva e contempla todos os tons de pele das brasileiras. Foto: João Sal/Divulgação
A coleção é intuitiva e contempla todos os tons de pele das brasileiras. Foto: João Sal/Divulgação


>> ENTREVISTA

A cômoda verde-azulada encostada à parede decorada com papel estampado denuncia o cenário da nossa entrevista: a Casa Petiscos, em São Paulo, onde Julia Petit coordena a equipe que mantém o site Petiscos. É véspera do evento de lançamento da coleção MAC Julia Petit, incubada durante os dois últimos anos. O clima na mansão é de euforia: docinhos e salgados sobre as mesas, fotógrafo da MAC Cosmetics a postos, convidados sorridentes, cosméticos expostos na mesa de centro.

Julia se apresenta, vestindo modelo preto assinado pelo estilista brasileiro Ricardo Almeida, e senta-se ao sofá. Cruza as mãos sobre o colo e aguarda com olhos expressivos e maquiados a sabatina de questionamentos. Madura, não segue o estereótipo da blogueira cosmopolita com perfil de it girl. Ela acredita, ao contrário, que as melhores blogueiras da atualidade não são it girls: falam sobre trivialidades, rotina pessoal, assuntos comuns. Tatuada, expansiva, bem humorada., faz piadas sobre tudo e principalmente sobre si mesma. Defensora do consumo consciente e da liberdade da mulher, defende que cada um deve ser e fazer o que quiser. Como ela fez.

Julia tem 42 anos e também atua como produtora musical. Foto: João Sal/Divulgação
Julia tem 42 anos e também atua como produtora musical. Foto: João Sal/Divulgação
Viver: Como recebeu o convite da MAC para assinar sua própria coleção?
Julia:
Fiquei desmaiada. É algo que não esperava. Estou vendo os produtos prontos, a festa de lançamento pronta, mas ainda não acredito. Num ano um pouco triste para o Brasil, é incrível receber o reconhecimento de uma gigante internacional como a MAC. Isso resgata a autoestima das pessoas.

Viver: E como desenvolveu os produtos?
Julia:
Pensei em contemplar todas as mulheres brasileiras. Esta era minha preocupação desde o início. Então selecionamos uma paleta de cores clássicas, que combinam com todas as peles, desde a mais clara à mais escura. Adaptamos as texturas dos produtos, para facilitar a aplicação e não conflitar com o clima brasileiro que deixa as peles sempre um pouco brilhosas. É uma coleção intuitiva.

Viver: Diante de tantos subtemas relacionados à cultura, qual você considera ser o papel da moda e da beleza? Sente alguma ressalva das pessoas, que podem considerar essa área fútil?
Julia:
Moda e beleza são retratos de uma época. Nos ajudam a reconhecer comportamentos e hábitos de determinados recortes de tempo. Há um grande mérito histórico nisso. É possível tratá-las com futilidade, sim. Mas também é possível enxergá-las como ferramentas de comunicação, mensagens que as pessoas passam sobre a vida que têm. Através da maquiagem, por exemplo, você pode se transformar no que quiser. Isso é um exercício de libertação.

Viver: Em que você mais gosta de se transformar?
Julia:
Em tudo! (risos) Gosto de maquiagens mais clássicas, que me transformam numa versão mais bonita de mim mesma. E também das mais ousadas, que me levam ao universo da fantasia, dos seres mágicos, animais e personagens mais caricatos. Até cobrir uma olheira pela manhã é se transformar.

Viver: Há uma nova temporada do Base Aliada engatilhada com a GNT?
Julia:
Não. Foi uma experiência ótima. Assim como no caso da MAC, essa foi outra proposta que sequer acreditei que fosse dirigida a mim. Eu sempre tinha a sensação de que era um sonho e alguém entraria no estúdio e descobriria aquilo tudo, nos mandando parar. (risos) Foi excelente, mas por enquanto não há planos de continuar. O Base Aliada teve a fase dele e passou.

Viver: Mas há outros projetos para a televisão?
Julia:
Acredito que me adapto melhor ao formato de vídeos na internet, mais autorais. Mas participo de programas na TV e não descarto possibilidades. Gosto de aceitar propostas como o Base Aliada, que era inovador porque discutia beleza numa linguagem desconstruída, acessível. Vejo outros programas atualmente que, com certeza, se inspiraram nele. Isso é o que me atrai: inspirar novos formatos. Para fazer mais do mesmo, prefiro não fazer.

Viver: Em um universo cheio de vozes e ecos que ditam tendências e regras, qual a mensagem que você quer passar para a moda?
Julia:
Que ninguém tem que ter nada. Que não existe “it isso”, “it aquilo”, bolsa do momento, vestido da estação... Que a moda e a beleza servem para nos comunicarmos, nos libertarmos. Que o cuidado com a linguagem, com a forma como falamos sobre o assunto, é a única coisa que pode nos salvar do consumismo desenfreado dessa indústria. Nós não temos que ter nada, ser nada. Temos que ter, ser e fazer o que quisermos.

Julia não obedece aos estereótipos de it girl. Foto: João Sal/Divulgação
Julia não obedece aos estereótipos de it girl. Foto: João Sal/Divulgação



MAIS NOTÍCIAS DO CANAL