Quadrinhos Lenda da Perna Cabeluda inspira nova HQ do Recife Assombrado A história bizarra da perna cabeluda está de volta, reinventada e atualizada em história em quadrinhos que será lançada nesta terça, no Bar Central

Por: Fellipe Torres - Diario de Pernambuco

Publicado em: 02/03/2015 09:40 Atualizado em: 02/03/2015 14:18


Crédito: Edições Bagaço/Divulgação
Crédito: Edições Bagaço/Divulgação

Tudo começou com uma falsa notícia inventada nas redações de jornais pernambucanos, em meados da década de 1970. Depois de causar rebuliço nas ruas do Recife, o boato ganhou status de mais famosa lenda urbana do estado e até hoje povoa o imaginário do povo. Com o tempo, inspirou folhetos de literatura de cordel, frevo, música cantada por Chico Science, curta-metragem, contos, crônicas. Agora, a história bizarra está de volta, reinventada e atualizada na HQ A rasteira da perna cabeluda (Edições Bagaço, 32 páginas, R$ 28), com roteiro de André Balaio, edição de Roberto Beltrão e ilustrações de Téo Pinheiro. O álbum será lançado nesta terça-feira (03), às 19h, no Bar Central (Rua Mamede Simões, 144, Santo Amaro).

Para quem não se recorda, a trama original dava conta de um membro inferior peludo e de unhas sujas capaz de meter medo em qualquer cidadão. Na escuridão de ruas pouco iluminadas, perseguia e espancava as aleatoriamente, sem motivo aparente. A história em quadrinhos aproveita a narrativa fantástica para imaginar como seria se a vilã sobrenatural voltasse a atacar nos dias de hoje.

“Resgatamos uma lenda urbana totalmente pernambucana, que não aparece em nenhum outro folclore. Curiosamente, apesar de toda a celeuma dos anos 1970, não conhecemos obras de ficção com esse personagem. Eu era criança, mas lembro de entrevistas com pessoas dizendo que viram a perna atacando um velhinho. Na época, havia mais espaço para esse tipo de notícia”, comenta André Balaio.

Na HQ, além dos sustos e do teor fantasmagórico, questões paralelas são levantadas, como a ética jornalística, a violência gratuita, a ambição pelo poder, o desejo de vingança. Parte da narrativa se passa no ficcional Gazeta do Recife, periódico cuja chefia está preocupada com a baixa vendagem. Em busca de boas manchetes, um repórter resgata o antigo boato para escrever notícias falsas, semelhante àquelas responsáveis pela origem da lenda. As reportagens, no entanto, acabam coincidindo com casos reais de ataques nas proximidades do Parque 13 de Maio, no bairro de Santo Amaro. “É uma maneira de refletir sobre o elemento sensacionalista, no impacto causado pelas notícias, mesmo as mentirosas”.



Para Roberto Beltrão, de tão emblemática, a perna cabeluda “merece figurar na galeria dos monstros e assombrações mais macabras, ao lado de lobisomens, vampiros e zumbis tão explorados pelo cinema”. Ao lado de André Balaio, ele edita o site O Recife Assombrado (orecifeassombrado.com), no ar desde o ano 2000. No ano passado, a dupla lançou outra HQ, Histórias em quadrinhos d’O Recife assombrado (132 páginas, R$ 25).

Serviço
Lançamento da HQ A rasteira da perna cabeluda, com roteiro de André Balaio, edição de Roberto Beltrão e ilustrações de Téo Pinheiro
Edições Bagaço
Páginas: 32
Preço: R$ 28
Quando: Terça-feira, às 19h
Onde: Bar Central (Rua Mamede Simões, 144, Santo Amaro)

"Uma noite nós estávamos na redação do Diario de Pernambuco, onde eu trabalhava na época em que surgiu (a história). Um amigo nosso disse - depois de tomar algumas cervejas - que quando entrou em casa, pela madrugada, viu uma perna cabeluda debaixo da cama. Claro, o resto da perna também estava ali embaixo. A gente começou a brincar. Como naquela época eu escrevia uma coluna chamada Romance Policial, comecei a escrever uma crônica. (...) A crônica foi publicada, junto com uma charge, e O noticiário de rádio assumiu a perna cabeluda. E as pessoas começaram a divulgar as histórias da perna cabeluda (...) Acredito que o problema da moral, da censura, do bloqueio a todos os sonhos criou a parte mais forte da perna cabeluda, que é a divulgação. A partir daí a perna comecou a andar. A partir da possibilidade das pessoas de começar a sonhar”.

Raimundo Carrero, em depoimento ao curta-metragem Perna cabeluda, de 1996, dirigido por Gil Vicente (editor de fotografia do Diario de Pernambuco), Marcelo Gomes, Beto Normal e João Jr.

"No Recife, são muitas as testemunhas dos feitos pavorosos desse abominável ser. A vilã incompleta, no entanto, é inteira no quesito “perversidade” - também causa hematomas, escoriações, às vezes quebra ossos de quem lhe cruzar o caminho. Desconhecida é a origem da entidade. Há quem diga que nunca passou de um boato da década de 1970. É fato que, na época, a Perna Cabeluda foi assunto de inúmeras reportagens, teve muito destaque no noticiário policial. Se estava proibido falar em perseguição política, tortura e injustiça social, podia sobrar espaço para matérias com temas escandalosos. Então a personagem que parecia ter saído de um conto obscuro da Idade Média ganhou notoriedade na metrópole do século 20”.

Roberto Beltrão, jornalista e editor do portal O Recife Assombrado

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