Memória Ícones de outrora: Pernambuco produziu galãs e mocinhas nos anos 60 Atores e atrizes marcaram época no século passado na televisão pernambucana e consolidaram a imagem de estrela

Por: Isabelle Barros

Publicado em: 01/03/2015 09:16 Atualizado em:

O ator José Pimentel está na ativa desde os anos 50 e, antes de encarar o personagem de Jesus Cristo, foi galã de teleteatros. Crédito: Bernardo Dantas/D.P./ D.A. Press
O ator José Pimentel está na ativa desde os anos 50 e, antes de encarar o personagem de Jesus Cristo, foi galã de teleteatros. Crédito: Bernardo Dantas/D.P./ D.A. Press


Durante a década de 1960, o teatro, o rádio e a televisão passaram por uma transição que marcou a vida artística dos três meios em Pernambuco. A inauguração dos dois primeiros canais locais de televisão, em 1960 - a TV Rádio Clube (canal 6) e a TV Jornal (canal 2) - modificaram a forma com a qual atores e atrizes eram vistos. As apresentações teatrais, que tinham alcance mais limitado de público comparado à televisão, e as radionovelas, que não mostravam o rosto dos artistas, agora tinham a companhia de um veículo de comunicação que poderia dar fama instantânea.

Os teleteatros e, depois, as telenovelas locais ajudaram a disseminar a figura dos galãs, que estrelavam as produções e arrebatavam a audiência. A existência do protagonista cujo destaque vinha da beleza e dos bons sentimentos dos personagens já existia desde o teatro e era aproveitada pelo cinema hollywoodiano. Mas foi a partir do início da TV em Pernambuco que se criou um star system local, alimentado pelo teatro e pelo rádio. Vários dos atores famosos foram produto da época e guardam histórias curiosas, um pedaço da memória da arte e da comunicação de Pernambuco.

CARMEN PEIXOTO

A TV pernambucana abria espaço para as mocinhas que, afinal, contracenavam com os galãs. Um dos nomes mais conhecidos era o de Carmen Peixoto. A ex-atriz e atual diretora de relações institucionais do Shopping RioMar começou nos palcos aos 16 anos e logo foi para a televisão. “Minha família era muito resistente ao meu trabalho, principalmente meu pai”. O primeiro trabalho foi na TV Rádio Clube, com o teleteatro O diário de Anne Frank. “Tudo era ao vivo e muito marcado, cronometrado. Lembro de ter de correr em um determinado momento, e acabava me arranhando no cenário”. Carmen passou a apresentar programas de auditório. Em paralelo, continuava no teleteatro. Foi a estrela da peça O processo contra Joana D’Arc, de 1965, no qual teve de raspar a cabeça, fato ainda inusitado para a época. “Quase morri queimada na cena da fogueira, pois fiquei lá até aguentar”. Foi na TV que a atriz conheceu o marido, o diretor Jorge José Santana, com quem é casada.

JOSÉ PIMENTEL


Muito antes de ser conhecido como Jesus Cristo, primeiro na Paixão de Cristo de Nova Jerusalém e, depois, na Paixão de Cristo do Recife, José Pimentel, 80, já era experiente. “Nos anos 1950, fiz quase todas as peças de Ariano Suassuna, que foi meu professor de português e padrinho de casamento, incluindo A Compadecida, hoje conhecida como O Auto da Compadecida. Passei a atuar e dirigir, além de apresentar programas de variedades”. A primeira vez na televisão foi com teleteatro. “Minha primeira peça foi Eles não usam black-tie e as pessoas passaram a me reconhecer. Era bonito. Tive uma fase Don Juan. Não deixo de atender ninguém”.

ALBUQUERQUE PEREIRA


A voz de Albuquerque, nascido em Canindé (CE), guarda as inflexões de quando trabalhava no rádio, onde foi produtor e diretor. Quando um dos atores da equipe faltou à gravação de radionovela, ele o substituiu. Segundo Albuquerque, a tevê exercia fascínio enorme entre as pessoas, algo que experimentou ao contracenar com a atriz Arlete Salles no teleteatro Os inimigos não mandam flores, de Pedro Bloch. “A repercussão foi enorme. Fui ao Bal Masqué e havia uma fila de mocinhas querendo autógrafos. Tive muitas alegrias, mas trabalhava como louco, pois tinha de ser tudo muito bem decorado. Tudo era feito na hora. Às vezes, largava às 5h para voltar às 9h”. Mas isso acabou com a transmissão da programação das TVs do Sudeste por cadeia nacional. “Os elencos locais foram desfeitos e quem queria continuar na área tinha de migrar ou mudar de profissão”. Albuquerque, hoje, trabalha na Companhia Editora de Pernambuco (Cepe).

MARCOS MACENA

O rádio atraiu de forma definitiva Marcos Macena, nascido em Pesqueira. Trabalhou no Recife com locução e passou às radionovelas, onde viveu protagonista pelo talento com a voz. No teleteatro, participou de obras como Meu filho, meu juiz e da telenovela A moça do sobrado grande. Macena se tornou conhecido a ponto de causar confusão. “Fui receber homenagem em Jaboatão, mas tive de sair sob escolta policial. As moças queriam me beijar e rasgar minha roupa. Minha fotografia era vendida na Praça do Diario. Hoje, ofereço um pôster e ninguém quer”. Macena chegou a se mudar para o Rio, nos anos 1980, onde fez trabalhos para a Globo, como  Rabo de saia (1984) e a adaptação televisiva de Grande Sertão: Veredas (1985). Foi locutor, ator da Paixão de Cristo de Nova Jerusalém e do Recife, além de professor de comunicação. É aposentado como jornalista.



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