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Nazismo Reedição do Mein Kampf, obra autobiográfica de Hitler, provoca debate sobre censura Obra deve entrar em domínio público no próximo ano. Enquanto algumas pessoas defendem a censura, outras ressaltam importância histórica

Por: Victor Germano

Publicado em: 27/02/2015 12:11 Atualizado em: 27/02/2015 12:51



Cheia de declarações de ódio, a obra autobiográfica de Hitler, o Mein Kampf, poderá voltar a ser impresso a partir de 2016. A obra deverá entrar em domínio público a partir do dia 31 de dezembro deste ano, quando são completados 70 anos da morte do ditador, abrindo a possibilidade de qualquer editora republicá-lo. Desde o fim da Segunda Guerra Mundial. os direitos autorais do livro pertencem ao Ministério das Finanças da Baviera, na Alemanha.

A proximidade do vencimento dos direitos autorais deu início a um debate acirrado sobre como conter uma possível onda de publicações da obra. Na frente da discussão está o Instituto de História Contemporânea de Munique, que planeja publicar uma nova edição do Mein Kampf combinando o texto original com mais 1300 páginas de comentários e críticas sobre a obra. A justificativa é que a publicação do volume acrescido das observações amenizaria os perigos da divulgação da obra e evidenciaria as omissões e distorções que ela traz.

A discussão ao redor da censura e da republicação do livro reflete o confronto de duas visões distintas. De um lado, contesta-se a republicação da obra sob o argumento de que as ideias de Hitler são um atentado aos direitos humanos e há o risco de influenciar mais pessoas ou fortalecer grupos neonazistas. Na outra ponta, pesquisadores e estudiosos defendem que a obra tem um inegável valor histórico e educacional no sentido de fazer parte de um passado sombrio.

Para Antônio Alves, professor do departamento de História da Universidade Federal de Pernambuco, a censura não tem sentido. Segundo o docente, é importante que o livro seja reeditado e que sejam mostradas as incongruências escritas ali, mesmo com o crescimento dos grupos de extrema direita na Europa nos últimos anos. "De forma alguma censurar seria a melhor opção. A proibição iria, pelo contrário, acirrar os ânimos dos de extrema-direita, que iriam se sentir tolhidos em seus direitos de expressão", alerta Alves.

Ao que tudo indica, o livro realmente deverá voltar a ser impresso no próximo ano. Mesmo com a proibição da distribuição da autobiografia em 1945, ela tem sido vendida em vários países. Na Índia, pode-se achá-lo nas prateleiras de auto-ajuda. Na Grécia, o partido neonazista Aurora Dourada o disponibiliza em suas livrarias. Até no Brasil é possível ter acesso ao livro: No site Estante Virtual, 29 itens correspondem à busca "Mein Kampf".

O professor Antônio Alves recorda uma citação de Monteiro Lobato: "Os livros não mudam o mundo, os livros mudam os homens. Os homens mudam o mundo".

A bíblia nazista

Até 1945, foram impressas mais de 10 milhões de cópias do Mein Kampf. O livro era dado a recém-nascidos, casais recém-casados e soldados, além de ser vendidos em todas as livrarias do país.

Escrito por Hitler em 1925 durante o tempo em que esteve preso, a obra traz dois volumes com capítulos sobre a vida e os ideais do líder nazista. O discurso traz inúmeras críticas ao comunismo, além de um ódio latente aos judeus e uma exaltação constante à raça ariana.

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