Carnaval 2015
Cafuçu? Saiba o que pessoas que inspiram fantasias da prévia pensam sobre o termo
Comerciantes, atendentes, frentistas e entregadores de água inspiram fantasias do I Love Cafusu, que ocorre nesta sexta, e contam o que pensam sobre a expressão
Por: Larissa Lins - Diario de Pernambuco
Publicado em: 05/02/2015 08:30 Atualizado em: 05/02/2015 17:23
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Gleison Douglas nunca ouviu a expressão "cafuçu". Foto: Annaclarice Almeida/DP/DA Press |
Pulseiras de prata, colares com as iniciais do próprio nome, óculos de sol espelhados, tatuagens, dentes de ouro, cabelos descoloridos, camisas estampadas, força braçal… o que caracteriza um cafuçu? “É um homem rústico, másculo, sem frescura”, explica Luisa Accetti, uma das fundadoras do bloco carnavalesco que deu origem à prévia I love cafusú. Ela conta que quando desfilou com os amigos pelas ladeiras de Olinda, há 11 anos, e exibiu pela primeira vez o estandarte em homenagem aos cafuçus, queria passar a mensagem de que eles eram o modelo de homem ideal. Para ela, os cafuçus se encaixam no padrão lumbersexual (derivado da expressão lumberjack, que significa “lenhador” em inglês), cujo estilo é semelhante ao personagem Wolverine, da Marvel: em síntese, um “machão” sexy. O grosseirão que sabe ser romântico na hora certa.
Desde então, o bloco fundado por Luisa Accetti, Chris Garrido e Bruno Duzi ganhou novas proporções - atualmente, se instala como baile de gala no Clube Internacional do Recife, sempre na semana anterior ao carnaval - e o significado da palavra que dá nome à festa também. Para comparecer a caráter, os foliões se apropriam da identidade visual de profissões “braçais” e informais ao compor o figurino. Bombeiros, frentistas, motociclistas, bicheiros, vendedores ambulantes, entregadores de água e gás… a caracterização recorre a estereotipos e os satiriza com bom humor. “Apesar de parecer que sim, a expressão não se refere a classe social, poder aquisitivo ou nível intelectual”, reforça Luisa, que acredita que todos os pernambucanos são, no fundo, cafuçus. Para ela, trata-se do estado de espírito comum a todos os homens com pouca vaidade e nenhuma frivolidade. Brega e pagode seriam os hinos desse way of life.
As chamadas rarius, cuja denominação surgiu mais tarde, são os pares dos cafuçus. Sensuais, ousadas, extravagantes, amam decotes e estampas em animal print. A expressão rariu deriva da pergunta em língua inglesa “how are you?” (como vai você?), treinada pelas brasileiras que tentavam se comunicar com estrangeiros. “A tia de uma amiga comentou que as meninas estavam tendo aulas para praticar a expressão”, conta Luisa Accetti, explicando a origem do termo que designa mulheres que amam os cafuçus lumbersexuais. Juntos, eles formam o par perfeito.
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Para entender o significado dos neologismos cafuçu e rariu entre populares do Recife, o Viver foi às ruas e conversou com alguns dos trabalhadores que servem de inspiração às fantasias da festa. Nenhum deles conhecia os termos, mas falaram à reportagem sobre as semelhanças que veem entre si mesmos e o conceito relacionado a essas expressões. Confira:
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Rogério Augusto (esquerda superior), Gleison Douglas (direita superior), Josué Marques (esquerda inferior) e Manuel Nascimento Jr. (direita inferior). Fotos: Annaclarice Almeida/DP/DA Press |
“Se precisar, sou invocado mesmo. Nunca ouvi a expressão cafuçu, mas se tem a ver com ser marrento, sem frescura, então esse sou eu. Não gosto de tatuagens reais, mas uso essas mangas compridas que imitam tatuagens para me proteger do sol com estilo. Isso é importante, mas não me visto feito maluco, com bermudões e camisas exageradas. Não vivo sem brega, sertanejo e pagode. Só ando cheiroso. Meu estilo é informal.”
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Gleison Cunha (esquerda superior), Gerlaine Cristina e Aline Félix (direita superior), Flávio Andrade (esquerda inferior) e Edmilson Antônio (direita inferior). Fotos: Annaclarice Almeida/DP/DA Press |
“Não conhecemos essa expressão, mas gostamos de ouvir brega e andar na moda, estilosas, com vestidos e shorts curtos, blusas decotadas, estampas e maquiagem ‘3D’. Nos nossos celulares não podem faltar as últimas músicas da Musa e Banda Sedutora. Meu namorado usa correntes de prata, não tem frescura, nem vaidade. Homem tem que ser assim. Se cafuçu for isso, tem que ser cafuçu.”
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“Tenho meu estilo próprio e não me importo com a moda lançada por ninguém. Ouço todas as músicas da Banda Metade e dos cantores Reginaldo Rossi e Pablo. Gosto da sofrência. Trabalho como comerciante desde pequeno e nunca ouvi a palavra cafuçu, mas sou desse tipo que não tem vaidade, não faço as unhas. Sou tatuado em homenagem a São Jorge.”
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“Só ouço rap, sou fã dos Racionais MC’s. Não tenho frescura nenhuma, com nada. Trabalho como operador de serviços gerais no comércio informal, gosto de andar nas ruas, vivo com o povo. Sou vaidoso porque uso correntes no pescoço, pulseiras, acessórios. Não perco nenhum show de brega na cidade. Não conheço a palavra cafuçu, mas sou homem do tipo marrento, com estilo próprio. Deve ser esse o significado.”
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Rogério Augusto mantém cabelo e sobrancelhas sempre "feitos". . Foto: Annaclarice Almeida/DP/DA Press |
“Não sei definir a palavra cafuçu, mas me enquadro no perfil dos homens que não vivem sem um breguinha. Ouço Musa e MC Sheldon todos os dias. Não tenho frescura, mas sou vaidoso com minha aparência. Tenho estilo. Toda semana vou ao cabeleireiro para aparar os fios e fazer sobrancelha. Estou sempre com relógio, pulseiras e colares.”
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Gleison Douglas retoca o tom do cabelo com frequência e gosta de usar colares de prata.. Foto: Annaclarice Almeida/DP/DA Press |
“Não vivo sem brega, sou fã da banda Sedutora. Sou um cara vaidoso. Toda semana preciso descolorir novamente o cabelo e refazer o corte a cada vinte dias. Não conheço a expressão cafuçu, nem a prévia, mas amo carnaval. Acredito que cafuçu seja o homem simples, masculino, sem frescura, divertido. Eu sou assim.”
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Josué Marques é eclético: gosta de todo tipo de música. Foto: Annaclarice Almeida/DP/DA Press |
“Ouço de tudo um pouco: frevo, forró, brega, MPB. Não acompanho moda, lançamentos, novidades, luxo. Não ligo. Eu mesmo corto meu cabelo, em casa. Faço as unhas sempre, considero parte da higiene pessoal. Mas não sou vaidoso, não tenho frescura alguma. Meu ideal de beleza é a atriz Juliana Paes. Desconheço esse termo cafuçu. Me enquandro no perfil do homem másculo, sem vaidade.”
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Manuel Jr., entregador de água, vive ouvindo brega. Foto: Annaclarice Almeida/DP/DA Press |
“Trabalho como entregador de água e atendente no comércio. Gosto de andar na moda, sim, bem vestido. Mas dispenso essa coisa de pulseiras, colares. Isso é demais. Estou sempre ouvindo brega. Sou fã da banda Musa e a vocalista é meu ideal de beleza numa mulher. Não sei o que significa cafuçu. Nunca ouvi falar.”
SERVIÇO
11º Baile de gala do I love cafusú (shows de Conde do Brega, The Rossi, Victor Camarote e Molejo)
Quando: 06 de feveireiro, 22h
Onde: Clube Internacional do Recife (R. Benfica, 505, Madalena)
Quanto: R$ 80 e R$ 40 (meia-entrada)
Informações: (81) 3088-8261
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