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Rei do frevo Claudionor Germano se despede dos palcos neste carnaval Lenda da cultura pernambucana passa o bastão para o filho, Nonô Germano

Por: Fellipe Torres - Diario de Pernambuco

Publicado em: 29/01/2015 11:15 Atualizado em: 30/01/2015 12:06

Credito: Alcione Ferreira/DP/D.A Press  e Arquivo/DP
Credito: Alcione Ferreira/DP/D.A Press e Arquivo/DP


Claudionor aos 34 anos, em 1966. Arquivo/DP/D.A Press
Claudionor aos 34 anos, em 1966. Arquivo/DP/D.A Press
Quem passou a vida inteira embrenhado em carnavais pernambucanos, sem faltar um ano sequer, acaba por mimetizar os maneirismos da folia. Assim como as orquestras se perpetuam no duelo entre metais, saxofones e percussão, os contrastes em Claudionor Germano são inevitáveis. Em 68 anos de carreira, ele já gravou 478 músicas em 31 discos, mas, quando sobe ao palco, repete um único passo de dança, o do saci. Aos 82 anos, defende "o jeito correto" de cantar frevos tradicionais, mas também acredita na possibilidade de adaptar qualquer música para o gênero carnavalesco. Anunciou a aposentaria da vida artística para 2015, com a transmissão do "bastão" ao filho, Nonô, mas não pretende parar de cantar enquanto estiver vivo.

As aparentes contradições são, na realidade, reflexos da personalidade de um folião incansável. Alguém dedicado à cultura pernambucana desde os 15 anos de idade, quando foi contratado pela Rádio Clube como cantor popular. "Tive a carteira assinada em 2 de outubro de 1947, mas não quis sobreviver da vida artística, puxar calça de autoridade para ter espaço. Como diz o matuto, tomei a massaranduba do tempo e vi que não era para mim". 

Claudionor se mantinha intérprete por amor à causa, enquanto trabalhava de auxiliar de escritório, vendedor de bebidas e de papel higiênico. Anos mais tarde, passou a comercializar produtos mais refinados, as obras de arte do irmão Abelardo da Hora, falecido há quatro meses. Recentemente, tentou unir a paixão pelo frevo à vocação para os negócios. Montou uma escola de dança, mas o empreendimento quase o leva à falência.



Arquivo/DP/D.A Press
Arquivo/DP/D.A Press

A prioridade, agora, é militar em favor do frevo. Repassar adiante os ensinamentos recebidos durante a convivência com os mestres Nelson Ferreira e Capiba, de quem gravou 132 composições. O decano da folia quer atuar em duas frentes – orientar a nova geração de cantores ("eles precisam corrigir tolices, como a colocação correta da sílaba tônica das canções") e apelar às rádios para dar espaço ao frevo. "Tem muita gente com coisa boa para mostrar e dependente de oportunidade. Nenhum artista sobrevive sem divulgação. Eu, por exemplo, gravei várias músicas bonitas e dignas de serem ouvidas, mas não me atrevo a cantá-las no carnaval, pois ninguém conhece", protesta. Por esse motivo, o repertório costuma girar em torno dos mesmos sucessos.

Arquivo/DP/D.A Press
Arquivo/DP/D.A Press


Sobre um dos nomes de maior destaque no frevo atual, o maestro Spok, Claudionor procura ser diplomático, mas discorda da abordagem feita pelo músico, homenageado do carnaval do Recife deste ano. "Ele é digno de respeito e aplauso, mas o gênero não se restringe ao frevo de rua. Por ter se limitado a essa vertente e deixado de lado o frevo canção e o de bloco, Spok apresenta um trabalho restrito, sem literatura. A gente não pode deixar de vangloriar a beleza das músicas líricas dos blocos". Ele critica quem canta frevo rápido, sem se preocupar com dicção e sentimento. "Capiba criava uma mulher imaginária e compunha uma declaração de amor para ela. É preciso interpretar com jeito, carinho. Se for ligeiro deixa de ser declaração e passa a ser chute na canela".

Crédito: Alcione Ferreira/DP/D.A Press
Crédito: Alcione Ferreira/DP/D.A Press
Tudo vira frevo

A interpretação de Claudionor fez com que algumas músicas ficassem mais conhecidas como frevos do que o estilo original. Foi o caso de Pagode russo, Morena tropicana, Isso aqui tá bom demais, Estação da luz. "Sempre batalhei para que Alceu Valença fizesse um disco só de frevo, mas ele nunca teve coragem, porque tem nome enorme a zelar e medo do disco não acontecer", alfineta Claudionor.

As despedidas

A dobradinha Claudionor e Nonô Germano vai render várias apresentações, assim como aconteceu no Baile dos Artistas, no fim de semana passado. O ponto alto do repertório é a canção Filho de gato é gatinho, em cuja primeira parte o pai entoa um frevo de bloco choroso, sobre os muitos carnavais vividos, e o filho assume a segunda metade eletrizante.

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