Música

Juvenil Silva lança novo disco no Teatro de Santa Isabel

O álbum, inspirado na rotina de um cidadão comum em dia de folga na cidade grande, ganha show de estreia na próxima sexta

Publicado em: 29/09/2014 17:56 | Atualizado em: 03/06/2020 17:21

Juvenil Silva lança no Recife seu segundo álbum solo. (Foto: Nelson Garrido/Divulgação)
Juvenil Silva lança no Recife seu segundo álbum solo. (Foto: Nelson Garrido/Divulgação)


Não há a pretensão de passar uma mensagem. Há um recorte de realidade que expõe os imprevistos e batalhas diárias de um cidadão comum. O público é convidado a se identificar, muito mais do que refletir. É o que diz o músico pernambucano Juvenil Silva sobre seu novo álbum, intitulado Super Qualquer no meio de lugar nenhum. O personagem que dá nome ao disco poderia ser ele, você ou qualquer pessoa. Inspirado em referências do cotidiano moderno, o Super Qualquer é um homem do interior em convivência com os obstáculos e a correria da vida na grande metrópole. As 12 faixas do disco contam a história de um dia de folga em sua rotina, quando Super Qualquer aproveita para resolver pendências e dar sentido e bom humor a mais um de seus dias. "Assim como todos nós, o Super Qualquer está sempre matando um leão por dia, tentando salvar sua rotina com coisas simples, como uma cerveja gelada, um escapa", descreve Juvenil.

O álbum, o segundo do cantor, é fruto de sua observação do cotidiano ao seu redor, somada às memórias do avô, que deixou o interior do estado para viver na capital. Misturando folk, funk, rock, ciranda e psicodelia, Super qualquer no meio de lugar nenhum conta com participações especiais de intérpretes como Juliano Holanda, Isaar, Claudio N, Aninha Martins, Leo Vila Nova, Márcio Oliveira, Arthur Soares e Rachel Bourbon. Todos estes subirão ao palco do Teatro Santa Isabel, na sexta (03), às 20h, para acompanhar Juvenil no lançamento desse novo projeto. A escolha do local, nobre e sofisticado, foi facilitada por edital de incentivo à cultura. Enquanto a lista de participações especiais é resultado de cuidadosa seleção feita pelo músico, que escolhia os nomes conforme o resultado sonoro que pretendia obter em cada faixa. "Há muitos amigos que eu gostaria de chamar, mas priorizei os timbres, entonações e aptidões que casassem com a sonoridade que eu buscava para o álbum", explica Juvenil.

O lançamento na internet, planejado para preceder a apresentação ao vivo - a primeira da turnê de divulgação - estava previsto para o último dia 23. Por imprevistos técnicos, porém, foi adiado e deve acontecer ainda esta semana, possivelmente antes da sexta-feira. "Mesmo não estando ainda na web, muitos músicos e amigos ouviram o disco a meu convite e o aprovaram, enquanto o público continua curioso sobre o que vem por aí, me enviando mensagens e perguntando quando poderão ouvir todo o álbum", conta o músico, que confessa estar igualmente ansioso para receber esse feedback.

 (Foto: Nelsson Garrido/Divulgação)
Foto: Nelsson Garrido/Divulgação


Em entrevista ao Viver, Juvenil Silva falou sobre Super qualquer no meio de lugar nenhum, analisou os avanços em relação ao seu primeiro disco, revelou inspirações, referências e projetos para a nova fase. Confira:

Como vai funcionar a dinâmica do show? O que o público pode esperar?

A dinâmica vai ser bem à vontade, eu transformo o palco em meu habitat. Não costumo amarrar um espetaculo engessado, a coisa vai acontecendo. O público pode esperar a interação entre amigos no palco, onde estaremos eu e os convidados especiais. Eles vão chegando, vão cantando, tomamos uma água, conversamos com a plateia. O principal é fazer música. O repertório será composto por 99% do disco novo e 1% do álgum anterior, Desapego.

Haverá cenário?
Haverá somente luz. O lugar já é lindo, o cenário seremos eu e os convidados. A luz será pensada a favorecer o show e o ambiente.

Os convidados da apresentação também são convidados do disco. Como se deu a escolha desses nomes?

O disco tem bastante participações, eu gosto de chamar as pessoas. As chamo por timbre, pela estética, pelo perfil da voz, dependendo do resultado que pretendo alcançar. A intenção é produzir determinado som e, conforme o artista combine com aquilo, faço a associação. As decisões se devem à sonoridade. Não é necessariamente por vínculo afetivo. Muitos amigos eu gostaria de chamar, mas não se encaixariam no perfil sonoro do álbum.

A capa de Super Qualquer no meio de lugar nenhum foi criada pelo artista visual Victor Zalma. Foi uma encomenda? Como chegaram ao resultado final?
Ele é meu amigo, é um cara que me conhece há anos, expliquei o conceito e ele sabia o que eu queria, o que pensava. [Ele] Foi produzindo o desenho, os quadrinhos, conforme a ideia que eu sugeri. Na contracapa, há a captura de um tubarão, o que é algo surreal, já que a captura acontece em meio à rua. Mas é uma alusão a Boa Viagem, ao Recife, a referências do dia a dia, como aquele ditado sobre matar um leão por dia.

O que o inspirou a escolher a temática do álbum? Quem seria esse cidadão comum? Qual a mensagem que deseja passar?

Na verdade não há mensagem nenhuma, nem uma história com começo, meio e fim. É um recorte do cotidiano. Na época em que comecei a idealizar o álbum, eu estava trabalhando bastante, passava o dia fora, observava a rotina, fui capturando as paisagens, as cenas, fui montando recortes, como cenas de filmes e montei uma trilha sonora para essa história. Montei um repertório para esse contexto. Tive influências. Meu avô, por exemplo, que veio do interior, me contava muitas histórias de sua vinda à capital. Meu álbum é atemporal, antigo e moderno. Mas peguei muitas influências dele. É sobre pesoas saindo no dia a dia e tentando voltar para casa bem, salvar seu próprio dia, seu próprio humor, sua própria rotina. Um escape para o cotidiano.

Juvenil terá convidados especiais no palco. (Foto: Nelsson Garrido/Divulgação)
Juvenil terá convidados especiais no palco. (Foto: Nelsson Garrido/Divulgação)
Seu primeiro álbum, Desapego, foi gravado em estúdio caseiro. Esse último, não. O que ganhou e o que perdeu com essa mudança?
Eu não perdi nada. Eu ganhei demais. No primeiro disco, eu não tinha aquela ideia de primeiro disco, de começo de carreira. Não teve muita pretensão. Gravei a bateria no estúdio e depois terminei as gravações em casa. No segundo disco eu já tinha mais experiência, gravei com mais calma, desde o final do ano passado, tive mais recursos sonoros de equipamentos, compressores, pedais, guitarras, ouvir, refazer, chamar os amigos. Eu sempre quis isso e, na verdade, queria ter muito mais tempo. O único estreitamento produtivo foi o custo, que era meu, vinha do meu bolso. Por isso, era ideal eu não precisar refazer tanto, não passar tanto tempo lá dentro, custeando o aluguel. Se eu tivesse um incentivo, eu poderia ter feito melhor. Mas foi ótimo, tudo melhorou em relação ao primeiro.

O livro Ulysses, de James Joyce, é citado com uma de suas fontes de inspiração. A obra adapta a Odisseia de Homero a um intervalo de 24 horas e, à época, foi censurada em diversos países. Foi um livro marcante para você? Como colaborou com a produção do álbum?

Na verdade, a história não se relaciona com Homero, apenas é comparada em relação à odisseia. Ulysses introduziu essa ideia de fazer um enredo em 24 horas, é bastante surreal, estranho, tem uma linguagem muito pouco convencional. Tem várias páginas, mas se passa em somente um dia. Se havia um livro, quis fazer um disco com um dia só. Não é Ulysses, mas é o Super Qualquer. Trata-se de um conceito estetico.

O que combina com seu álbum?

É um disco de um rock com estética mais psicodelica, está entre a cidade e, em determinado momento, há certa nostalgia em relação ao campo, já que o personagem veio do interior, ressaltando o rock rural. O dia, narrado no disco, é o dia de folga do Super Qualquer. Ele sai para resolver coisas, ir ao banco, se envolve em imprevistos, começa e termina em contextos semelhantes. É um recorte da rotina. Combina com qualquer momento.

Como tem sido o feedback do público?

O álbum teve problemas técnicos para ser colocado online. Ele entra na internet ainda esta semana, possivelmente. Estão corrigindo esses problemas. Muita gente da mídia, muitos músicos e amigos já ouviram, e eles têm gostado bastante. O feedback tem sido positivo. As pessoas estão muito curiosas, pessoas mandando mensagem, entrando em contato, ansiosas. Eu estou ansioso.

Quando o disco vai estar disponível fisicamente, para vendas?
Não há previsão. Ainda não captei verba para investir nisso. Vou disponibilizar na internet, iTunes e soundcloud. Caso eu consiga apoio ou incentivo, posso fazer uma tiragem e disponibilizar em lojas de musicas alternativas.

Segundo o release do lançamento de seu CD, você alega que, apesar da mistura de ritmos, como funk, ciranda, folk, etc., você o considera um CD de rock, porque o rock estaria na maneira de fazer. O que quis dizer com isso? Como definiria essa maneira de fazer?
Acho que várias coisas eu considero rock. Às vezes considero outros ritmos como rock. Raul Seixas, por exemplo, usou vários ritmos, mas é indiscutível que ele era um roqueiro. São produções mais debochadas, mais informais, sem tantas regrinhas. Coisas mais espontâneas. Meu álbum é assim.

SERVIÇO
Show de lançamento do CD Super Qualquer no meio de lugar nenhum, de Juvenil Silva
03 de outubro (sexta), às 20h
Teatro de Santa Isabel (Praça da República, s/n, Bairro de Santo Antônio – Recife/PE)
Ingressos: R$ 20 (inteira) e R$ 10,00 (meia entrada)

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