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''Prédios-caixão são recuperáveis'': especialistas comentam desabamento em Jaboatão

Parte do Edifício Kátia Melo, em Jaboatão dos Guararapes, no Grande Recife, desabou nesta terça-feira (6)

Publicado em: 06/05/2025 14:48

Ninguém ficou ferido no desabamento desta terça-feira (6).  (Rafael Vieira/DP Foto)
Ninguém ficou ferido no desabamento desta terça-feira (6). (Rafael Vieira/DP Foto)
Uma parte do Edifício Kátia Melo, em Jaboatão dos Guararapes, no Grande Recife, desabou nesta terça-feira (6) menos de 48 horas após o imóvel ser interditado. Especialistas ouvidos pelo Diario de Pernambuco defendem que prédios do tipo caixão, como é o caso do Kátia Melo, são recuperáveis, mas precisam passar por vistoria.
 
Segundo Carlos Wellington Pires, pesquisador do Instituto de Tecnologia de Pernambuco (Itep-PE) e professor da Universidade de Pernambuco (UPE), essas construções podem ser recuperadas, mas o resgate não tem sido priorizado pelos governos.
 
"A gente tem trabalhado para dizer às prefeituras que, em vez de você demolir, é muito mais econômico, social e cultural manter as pessoas que sempre habitaram essas edificações. Mas o poder público está ignorando isso", afirma o professor. Segundo ele, 7% da população do Grande Recife vive em prédios do tipo caixão.
 
"O Itep e algumas universidades desenvolveram modelos de recuperação. Esses modelos já estão em atividade. A gente está dando apoio a várias construtoras e empresas de consultoria que já usam essa metodologia de reforço", diz.
 
O pesquisador também esteve à frente de um levantamento que apontou a existência de cerca de 5,3 mil edificações em alvenaria resistente (prédio-caixão) na RMR. Desses, 233 tinham grau de risco potencial de ruína muito alto e 2,5 mil, alto. O estudo foi apresentado em 2010. 
 
Segundo Pires, o prédio que caiu nesta manhã em Jaboatão dos Guararapes não foi vistoriado porque o síndico à época não permitiu.
 
Analisando as imagens das ruínas do Kátia Melo, ele acredita que a edificação não tinha uma "fundação aterrada", em que são adicionados materiais para elevar o nível da construção. 
 
"A outra questão que possivelmente contribuiu é o tipo de material. Outras simplificações, como a ausência de uma cinta de amarração, fazem com que a ruptura seja brusca, não dá tempo para nada, que é o que aconteceu com esse prédio", explica.
 
Necessidade de mapeamento
 
Segundo o engenheiro e presidente do Instituto Brasileiro de Avaliações e Perícias de Engenharia (Ibape-PE), Ailson Alves, contribuem para desabamentos de prédios-caixão intervenções realizadas por pessoas sem o devido conhecimento técnico, como retirada de paredes e abertura de portas, e o fato de serem construídos em locais com lençol freático elevado, como é o caso do Kátia Melo. 
 
"Esses prédios não são revestidos com argamassa, ficando direto no tijolo, recebendo toda a umidade do lençol freático", resume.
 
O especialista defende um grande projeto de vistoria dessas edificações. "É preciso vistoriar todos os prédios-caixão que ainda existem e diagnosticar quais são os problemas de cada um", diz. “A partir disso, deve-se montar um plano de ações, porque sabemos que temos vários prédios em condições ruins".
 
Prédios-caixão ficaram comuns em Pernambuco a partir da década de 1970, devido ao baixo custo e agilidade de conclusão. Desde 2005, esse tipo de construção foi proibido nas cidades do Grande Recife.
 
O Itep-PE contabilizada, antes da ocorrência desta terça-feira, 17 desabamentos envolvendo prédios-caixão, pelo menos desde 1977. Mais de 50 pessoas morreram neste tipo de desabamento desde então.

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