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Foto: Sandy James/DP Foto |
A história e cultura de Pernambuco estarão presentes no desfile das escolas de samba do Rio de Janeiro deste ano. A Unidos do Viradouro, vencedora do Grupo Especial no ano passado, vai entrar na Marquês de Sapucaí no dia 2 de março, contando a história de uma figura pouco conhecida no Brasil: Malunguinho, um líder quilombola da Zona da Mata de Pernambuco que é celebrado em práticas religiosas, entre elas o Catimbó e a Jurema Sagrada.
O enredo “Malunguinho: o Mensageiro de Três Mundos” traz a história da luta por liberdade e resistência de um povo escravizado, além de abordar culturas de matrizes africanas e indígenas. O tema foi sugerido pelo carnavalesco Tarcísio Zanon, que começou a estudar sobre a figura durante a pandemia. “Eu me encantei pelo universo da Jurema e, no ano passado, mergulhei naquela pesquisa e encontrei essa questão do Malunguinho. A gente trouxe como proposta, e foi uma das mais aceitas. Estamos muito felizes por poder desenvolver esse enredo e temos sentido essa energia desde o início do processo até aqui”, explica Tarcísio.
Malunguinho recebeu esse nome por ser líder dos malungos e viveu no século XIX, liderando o quilombo do Catucá, em Pernambuco. Tornou-se um símbolo por representar o desafio à escravidão e ser uma figura de espiritualidade. Ele aplicava estratégias indígenas para conseguir fugir dos ataques das tropas portuguesas. Malunguinho teve sua história representada de forma negativa nos registros documentais da época da Coroa Portuguesa, sendo colocado como um criminoso e chefe de quadrilha. Foi visto dessa forma por ir contra os ideais escravocratas.
No desfile, Malunguinho será apresentado ao público como João Batista, o líder quilombola temido pelos senhores de engenho. Ao longo da apresentação, ele evolui para sua versão espiritual, quando passa a viver em três mundos de maneiras diferentes: como caboclo curandeiro, mestre da Jurema e guardião das encruzilhadas.
Pelo menos 70 juremeiros pernambucanos (aqueles que cultuam a Jurema Sagrada, religião afro-indígena) irão participar do desfile da Unidos da Viradouro, entre eles José Barba da Silva, de 75 anos. “Pernambuco é rico em cultura porque tem o Cavalo Marinho, o Bumba Meu Boi, a ciranda, o Coco de Roda, o forró, a magia, o catimbó, o xangô e o afoxé. Tudo o que alguém quiser criar em Pernambuco, se cria. E fora do estado não há essa riqueza de culturas. Por felicidade, encontrei Tarcísio, e saiu esse samba-enredo da Viradouro, que vai ganhar o Rio de Janeiro”, afirmou.
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Foto: Sandy James/DP Foto |
A diretora-presidente da Associação Raízes da Tradição, Ana Paula Jones, explica que trazer esse enredo para a Sapucaí é uma retratação histórica e ajuda a perpetuar a história de uma figura invisibilizada. “É uma luta de dois povos, que são os indígenas e os africanos. Malunguinho foi escravizado e encontrou os povos indígenas do Nordeste. É de uma importância enorme trazer esse enredo porque esse homem foi invisibilizado e considerado inimigo da Coroa. Mas ele lutava pela libertação dos escravizados em comunhão com os povos indígenas”, detalha.
Ana Paula Jones ainda disse que conseguiu firmar um termo de fomento com o Governo do Estado, que passou a reconhecer que Malunguinho existiu através do enredo da Viradouro. Além disso, a escola recebeu R$ 2,8 milhões com a Empetur que prevê, ainda uma série de contrapartidas.
“As ações do legado que a Viradouro vai deixar para o povo pernambucano, para o mestre Zé Borba, para os juremeiros são algo cuja dimensão ainda não conseguimos mensurar.” O diretor de carnaval da Unidos da Viradouro, Alex Fab, contou que a escola de samba foi bem recebida em Pernambuco e teve a proposta abraçada por João Monteiro, referência na pesquisa sobre as culturas e religiões de matriz afro-indígena pernambucanas e paraibanas.
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“Ser uma escola que hoje detém o campeonato e que lidera o ranking sempre traz uma maior responsabilidade em todos os processos, desde a escolha do enredo até o desfile. Quando chegamos a Pernambuco, fomos maravilhosamente recebidos pelo professor João Monteiro, que descortinou muitas das coisas que tínhamos em mente. Ele foi nosso primeiro contato e a certeza de que havíamos encontrado um grande caminho”, pontuou.