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Unidos do Viradouro leva história de Malunguinho, líder quilombola pernambucano, para a Marquês de Sapucaí

Pelo menos 70 juremeiros do Estado irão integrar o desfile marcado para o dia 2 de março

A história e cultura de Pernambuco estarão presentes no desfile das escolas de samba do Rio de Janeiro deste ano. A Unidos do Viradouro, vencedora do Grupo Especial no ano passado, vai entrar na Marquês de Sapucaí no dia 2 de março, contando a história de uma figura pouco conhecida no Brasil: Malunguinho, um líder quilombola da Zona da Mata de Pernambuco que é celebrado em práticas religiosas, entre elas o Catimbó e a Jurema Sagrada.

O enredo “Malunguinho: o Mensageiro de Três Mundos” traz a história da luta por liberdade e resistência de um povo escravizado, além de abordar culturas de matrizes africanas e indígenas. O tema foi sugerido pelo carnavalesco Tarcísio Zanon, que começou a estudar sobre a figura durante a pandemia. “Eu me encantei pelo universo da Jurema e, no ano passado, mergulhei naquela pesquisa e encontrei essa questão do Malunguinho. A gente trouxe como proposta, e foi uma das mais aceitas. Estamos muito felizes por poder desenvolver esse enredo e temos sentido essa energia desde o início do processo até aqui”, explica Tarcísio.

Malunguinho recebeu esse nome por ser líder dos malungos e viveu no século XIX, liderando o quilombo do Catucá, em Pernambuco. Tornou-se um símbolo por representar o desafio à escravidão e ser uma figura de espiritualidade. Ele aplicava estratégias indígenas para conseguir fugir dos ataques das tropas portuguesas. Malunguinho teve sua história representada de forma negativa nos registros documentais da época da Coroa Portuguesa, sendo colocado como um criminoso e chefe de quadrilha. Foi visto dessa forma por ir contra os ideais escravocratas.

No desfile, Malunguinho será apresentado ao público como João Batista, o líder quilombola temido pelos senhores de engenho. Ao longo da apresentação, ele evolui para sua versão espiritual, quando passa a viver em três mundos de maneiras diferentes: como caboclo curandeiro, mestre da Jurema e guardião das encruzilhadas.


A diretora-presidente da Associação Raízes da Tradição, Ana Paula Jones, explica que trazer esse enredo para a Sapucaí é uma retratação histórica e ajuda a perpetuar a história de uma figura invisibilizada. “É uma luta de dois povos, que são os indígenas e os africanos. Malunguinho foi escravizado e encontrou os povos indígenas do Nordeste. É de uma importância enorme trazer esse enredo porque esse homem foi invisibilizado e considerado inimigo da Coroa. Mas ele lutava pela libertação dos escravizados em comunhão com os povos indígenas”, detalha.


“Ser uma escola que hoje detém o campeonato e que lidera o ranking sempre traz uma maior responsabilidade em todos os processos, desde a escolha do enredo até o desfile. Quando chegamos a Pernambuco, fomos maravilhosamente recebidos pelo professor João Monteiro, que descortinou muitas das coisas que tínhamos em mente. Ele foi nosso primeiro contato e a certeza de que havíamos encontrado um grande caminho”, pontuou.

Leia a notícia no Diario de Pernambuco