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Foto: Ivan Melo/Imip |
O câncer é a segunda causa morte entre crianças e adolescentes no Brasil e, somente em Pernambuco, cerca de 400 crianças foram diagnosticadas com alguma variação desta doença em 2024. Com uma previsão de aumento no número de casos pelo Ministério da Saúde, a data 15 de fevereiro foi selecionada para ser o Dia Internacional do Câncer na Infância com o objetivo de conscientizar a população sobre a doença.
A data foi escolhida em 2022 pela Childhood Cancer International (CCI) para prestar apoio à crianças e adolescentes diagnosticados com câncer. A criação de um dia com os olhares voltados para este tema se mostra necessário uma vez que dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) mostram que a cada ano, mais de 300 mil crianças com idades entre zero e 19 anos são diagnosticadas com câncer em todo o mundo.
Além disso, o câncer é a primeira causa de morte por doença entre crianças e adolescentes, segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA). Com estes números, a OMS, através da Iniciativa Global para o Câncer na Infância, visa fazer com que a doença seja tratada como uma prioridade global com a meta de alcançar pelo menos 60% de sobrevivência para todos os diagnosticados até 2030.
O número representa quase o dobro da taxa de cura atual e pode salvar mais de um milhão de crianças na próxima década. Uma das maneiras de aumentar as chances de cura é através do diagnóstico precoce.
“Quando o diagnóstico ocorre nos estágios iniciais, as chances de sucesso são maiores, e os impactos na qualidade de vida da criança são reduzidos. No entanto, algumas barreiras dificultam a identificação rápida da doença, como a semelhança dos sintomas com doenças comuns, a falta de conhecimento sobre sinais de alerta e a dificuldade de acesso a especialistas e exames”, explica o professor de oncologia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Luiz Alberto Mattos.
No entanto, nem todas as crianças e adolescentes conseguem ter acesso ao diagnóstico precoce e, por consequência, não possuem o tratamento em tempo adequado. No Brasil, a média de sobrevivência é de 64%, mas as taxas são menores nas regiões Nordeste, Norte e Centro-Oeste.
A cartilha “Diagnóstico Precoce do Câncer na Criança e Adolescente”, do INCA, destaca que as medidas de prevenção primária contra o câncer infantil visam diminuir ou eliminar a exposição a fatores de risco sabidamente carcinogênicos, como o tabagismo.
O documento pontua que “não existem medidas efetivas de prevenção primária para impedir o desenvolvimento do câncer na faixa etária pediátrica, exceto a vacinação contra hepatite B, que é eficaz na prevenção do desenvolvimento do hepatocarcinoma”.
Já na prevenção secundária, as ações são voltadas para detecção do câncer em seu estágio inicial, mas o INCA classifica as as medidas de rastreamento como “não efetivas”, uma vez que estão restritas a um pequeno grupo de pacientes, como portadores da síndrome de Beckwith-Wiedmann.
Entre as consequências do diagnóstico tardio estão: necessidade de tratamento mais agressivo e menor chance de cura, maior possibilidade de sequelas, tratamentos iniciais com impacto negativo no prognóstico e abordagem cirúrgica inicial inadequada.
A cartilha do INCA ainda pontua que a dificuldade de acesso à assistência básica de saúde pode fazer com que alguns casos sejam diagnosticados em emergências, unidades de pronto-atendimento ou pronto-socorro.
“Ilustrativo disso é que, em um estudo de uma coorte de 427 pacientes com doença onco-hematológica, 77 casos (18%) foram admitidos pelo serviço de emergência; desses, apenas quatro (5%) não tiveram suspeita ou diagnóstico de câncer como hipótese inicial”, diz a cartilha.
Sintomas
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Foto: Sumaia Vilella/Agência Brasil |
Boa parte dos sintomas do câncer infantil se apresentam como os de outras doenças comuns em crianças. É recomendado que as idas aos pediatras sejam frequentes, pois eles podem identificar os primeiros sinais do câncer.
De acordo com o Ministério da Saúde, os sintomas mais comuns são: palidez, hematomas ou sangramento, dor óssea; caroços ou inchaços, principalmente aqueles indolores e sem febre; perda de peso inexplicada, tosse persistente, sudorese noturna e falta de ar; alterações nos olhos, como estrabismo; inchaço abdominal; dores de cabeça persistentes ou graves, vômitos pela manhã com piora ao longo do dia; dor em membros e inchaço sem traumas.
Cuidados físicos e psicológicos
O médico oncologista Luiz Alberto Mattos explica que “os avanços no tratamento do câncer infantil aumentaram as chances de cura e reduziram os efeitos colaterais. Terapias-alvo que atacam apenas as células do câncer, enquanto a imunoterapia que estimula o sistema de defesa do corpo, são avanços importantes”.
O profissional pontua o avanço de tratamentos como quimioterapias e radioterapia, além de cirurgias mais seguras que proporcionam tratamentos mais eficazes. “Com esses progressos, a recuperação das crianças tem sido cada vez mais possível, especialmente com o diagnóstico precoce”, complementa.
Em casos de tratamentos paliativos, para crianças que não possuem mais chances de sobrevivência, a cartilha do INCA afirma que “prolongar a vida a qualquer custo ao invés de investir em qualidade, em suporte físico e psicológico dos pacientes, não é mais uma prática aceitável”.
Principalmente em situações como estas, há um grande dano emocional causado tanto para a criança quanto para os pais ou responsáveis. Luiz Alberto Mattos detalha que o processo de tratamento do câncer infantil pode causar medo, ansiedade, incerteza sobre o futuro, assim como impacto da mudança de rotina e afastamento da escola e dos amigos.
“A criança também enfrenta dores e efeitos colaterais, o que pode afetar seu bem-estar. Para os pais e irmãos, o estresse, a preocupação e as dificuldades financeiras podem ser grandes desafios. O apoio psicológico, o acolhimento da equipe médica e o suporte familiar são essenciais para ajudar todos a enfrentarem esse momento com mais segurança e equilíbrio”, frisa.
O comitê psicossocial da Sociedade Internacional de Oncologia Pediátrica (Siop) define como essenciais os seguintes tópicos para a comunicação do diagnóstico:
• Estabelecer um protocolo de comunicação.
• Comunicar imediatamente após o diagnóstico.
• Realizar o processo em lugar privativo e confortável.
• Envolver os pais e outros membros da família.
• Conversar em separado com a criança.
• Respeitar as diferenças culturais.
• Fornecer informações sobre o diagnóstico e o tratamento.
• Orientar quanto aos cuidados gerais.
• Estimular o diálogo aberto e contínuo.
O oncologista Luiz Alberto ainda recomenda que os pais ou responsáveis fiquem atentos aos efeitos tardios do tratamento.
“Alterações no crescimento, dificuldades de aprendizado, problemas cardíacos ou pulmonares e alterações hormonais podem surgir ao longo dos anos. Além disso, algumas crianças podem ter um risco aumentado de desenvolver novos tumores no futuro. Por isso, o acompanhamento médico regular é essencial para monitorar a saúde da criança e tratar precocemente qualquer complicação, garantindo sua qualidade de vida a longo prazo”, orienta o profissional.
Em Pernambuco, as unidades de referência no atendimento são: CEON (Oswaldo Cruz), IMIP, Hospital do Câncer, no Recife, e o Hospital Dom Malan e Hospital Dom Tomás, em Petrolina.