Prevenção
Fim do inverno atrai banhistas para praias e cuidados devem ser redobrados com tubarões e marés
Número de banhistas nas praias deve aumentar nos próximos meses, assim como o de incidentes
Por: Adelmo Lucena
Publicado em: 02/09/2024 06:00 | Atualizado em: 02/09/2024 06:25
Desde 1992, Pernambuco registrou 67 ataques com 26 mortes causadas por ataques de tubarões na Região Metropolitana do Recife e em Fernando de Noronha (Foto: Rafael Vieira/DP Foto) |
O fim do inverno atrai novamente banhistas para as praias, principalmente com a elevação da temperatura, No litoral pernambucano, os cuidados com o mar devem ser redobrados, uma vez que a costa traz perigos que nem sempre são vistos pelos banhistas, como correntes de retorno, e outros que, mesmo com avisos, a população se recusa a ver, como os frequentes ataques de tubarões.
Os recentes afogamentos na costa pernambucana reativaram o alerta sobre as precauções a serem tomadas nas praias, principalmente as que já possuem históricos deste tipo de ocorrência. No dia 18 de agosto, dois turistas morreram afogados na Praia do Cupe, em Ipojuca, no Litoral Sul. Uma das vítimas era um libanês de 31 anos que estava com o amigo do Paraná, identificado como Anderson de Almeida, de 37 anos.
Na época, a gestão municipal informou que o afogamento aconteceu no momento em que a maré encheu e as vítimas foram arrastadas pela água.
No dia 10 de agosto, um homem de 19 anos morreu vítima de afogamento na praia de Boa Viagem, Zona Sul do Recife. O Corpo de Bombeiros Militar de Pernambuco (CBMPE) foi acionado e efetuou a busca e o resgate da vítima, que estava desaparecida. O jovem chegou a receber procedimentos de reanimação, mas não resistiu.
No domingo (1º), aconteceu outro afogamento. Um idoso de 77 anos morrfeu também em Boa Viagem.
Maré alta
Uma das principais causas dos afogamentos é a maré alta, que passa despercebido por muitos banhistas que costumam entrar na água quando ela está rasa. As marés altas ocorrem nas regiões que estão mais próximas ao Sol e à Lua, enquanto nas demais regiões ocorrem as marés baixas.
O movimento das marés ocorre devido à força gravitacional que estes corpos celestes exercem sobre a água do mar. Cada uma das marés acontecem duas vezes em todos os pontos do planeta. Além disso, quando o Sol, a Terra e a Lua ficam alinhados, as forças gravitacionais sobrepõem-se e as marés ficam bem mais elevadas.
Correntes de retorno
Foto: Rafael Vieira/DP Foto |
Outro fenômeno natural que costuma causar afogamentos nas praias é a corrente de retorno, segundo o Salvamar. Ela é formada pelo acúmulo de água na parte rasa da praia e favorecida pelas ondas e ventos. A velocidade do fluxo de água retornando ao mar pode variar de 0,5 m/s a até 3,5 m/s.
O fenômeno ocorre quando as ondas quebram e empurram a água que está acima do nível médio do mar. Quando a energia se espalha, a água que ficou no nível médio é empurrada de volta pela força da gravidade. A água de retorno continua a ser empurrada pela gravidade e procura o caminho de menor resistência. Como a água de retorno se concentra em um canal, ela se torna uma corrente movendo-se para dentro do mar. Dependendo do número de fatores, esta corrente pode ser muito forte.
Foto: Rafael Vieira/DP Foto |
“Tem que ter muito cuidado com as correntes de retorno, chamadas de valas, principalmente com as crianças e a gente orienta que os banhistas sempre fiquem com a água na linha cintura. O nosso trabalho é feito com prevenção. Os guarda-vidas que estão distribuídos no litoral nas cidades de Recife, Jaboatão dos Guararapes e Olinda indicam os melhores lugares para banho e alertam para certas áreas que não são apropriadas para banho”, destaca o tenente-coronel Ramos, Comandante do Grupamento de Bombeiros Marítimo (GBMar).
Como reconhecer uma corrente de retorno
Apesar de parecerem invisíveis, é possível reconhecer as correntes de retorno, uma vez que a água onde ela se forma fica marrom e descolorida, devido à agitação da areia do fundo, causada pelo retorno das águas. A água nesta localidade é mais fria, as ondas se quebram com menos frequência e o local atrai duas ondas de sentidos opostos.
Quando as correntes de retorno se formam na maré baixa, é possível ver ondas do tipo buraco, alimentadas pela água em seu retorno. A água também fica com mais espuma e se formam escavações na areia, formando cúspides praiais em frente às valas.
Ressaca do mar
A ressaca do mar é um fenômeno natural que pode ser entendido como um aumento incomum do nível do mar e uma maior agitação das águas por conta de mudanças abruptas no tempo, como a passagem de frentes frias e marés. O evento natural resulta do forte movimento das ondas sobre si mesmas, que podem chegar à costa com mais violência. Quando isso acontece, o mar fica muito agitado e as ondas podem ser mais altas do que o normal.
Em casos como este, é recomendado que o banhista não entre no mar, uma vez que os riscos de afogamentos são ainda mais altos. Segundo o tenente-coronel Ramos, os locais mais propensos a afogamentos no litoral pernambucano são em frente à Igreja Nossa Senhora da Piedade, em Jaboatão, na Praia de Brasília Teimosa e em frente ao edifício Acaiaca, em Boa Viagem, ambos no Recife.
Ataques de tubarões
Desde 1992, Pernambuco registrou 67 ataques com 26 mortes causadas por ataques de tubarões na Região Metropolitana do Recife e em Fernando de Noronha. Em 2023, foram registrados três incidentes deste tipo, dois deles causaram a amputação de membros das vítimas.
Mesmo com placas de aviso sobre a ocorrência de tubarões nas praias da região Metropolitana, banhistas insistem em entrar em trechos perigosos no mar. Os banhistas que costumam caminhar pelas orlas de Piedade e Boa Viagem, avistam placas degradadas e com ações de vandalismo.
A Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade de Pernambuco (Semas) informou que a assinatura do contrato com a empresa responsável pela fabricação das placas foi realizada no início de agosto e 150 novos equipamentos informativos devem ficar prontos dentro de três meses.
“Infelizmente, o último levantamento do GBMar, realizado em abril deste ano, revelou que existem apenas 58 placas, das 150 inseridas anteriormente em toda a extensão da orla, de Piedade até Olinda. A falta sensibilização das pessoas, quanto à importância da permanência dessas placas nas praias, podem resultar em perdas de vidas, e nós do CEMIT estamos sempre buscando o diálogo para que todos respeitem esse importante instrumento de prevenção de incidentes”, destaca a pasta.
Segundo dados do Comitê Estadual de Monitoramento de Incidentes com Tubarões (CEMIT), as praias com maior número de incidentes com tubarões são Praia de Boa Viagem (23 incidentes) e Praia de Piedade (24 incidentes). Nessas localidades, instrumentos legislativos buscam prevenir os incidentes.
De acordo com a Semas, a “proibição para banho ocorre em um único ponto (Decreto Municipal n. 79/2021), em um trecho de 2,2 km da Praia de Piedade, entre a Igrejinha de Piedade e o Hotel Barramares, localizado ao lado do Hospital da Aeronáutico, no município de Jaboatão dos Guararapes”.
A secretaria informou que o Governo Pernambuco lançou, no início de 2023, 30 ações estratégicas para execução entre 2023 e 2026. As ações apresentam quatro eixos temáticos: Infraestrutura e equipamentos (12 ações); Educação e Comunicação Ambiental (07 ações); Pesquisa e Inovação Tecnológica (06 ações) e Parcerias Institucionais (05 ações).
A Semas ainda ressaltou que atua diretamente na:
(1) Comunicação educativa via mídia sociais;
(2) Coordenação do grupo de trabalho para a implementação do Plano de Educação Ambiental para Segurança Aquática e Prevenção de Incidentes com Tubarões
(PEAST/PE);
(3) Articulação com órgãos de fomento para publicação de editais para pesquisa e inovação;
(4) Articulação e apoio institucional nas esferas federal, estadual e municipal, como ministérios, secretarias, prefeituras e universidades, para viabilizar a execução das ações.
Incidentes com animais vão além dos tubarões
![]() |
Foto: Sergio-sq/Pixabay |
Os avisos de riscos de ataques de tubarões nas praias pernambucanas são vistos em boa parte das orlas da Região Metropolitana. No entanto, estes animais não são os únicos que causam incidentes. A caravela portuguesa é um animal que chama a atenção, principalmente das crianças, pelas cores e formato peculiares.
As caravelas portuguesas vivem nas águas de todas as regiões tropicais dos oceanos. Geralmente, possuem a cor azul ou ainda rosa e roxa, dependendo de diversos fatores ambientais, e tentáculos que possuem diversas células urticantes. Esta “arma” é o que torna o animal perigoso para seres humanos, uma vez que em contato com a pele, os tentáculos podem provocar queimaduras de até terceiro grau.
As caravelas são encontradas boiando no mar ou encalhadas na areia, uma vez que não se locomovem por si só e costumam ser levadas pela força da água. Muitas vítimas não costumam ver o animal se aproximando e acabam sendo queimadas.
Em casos como este, é recomendado lavar a área com água do mar ou utilizar vinagre branco, que ajuda a neutralizar o veneno. Outras substâncias como urina e café não são recomendadas por especialistas.
De acordo com a Secretaria de Meio Ambiente, outro animal que pode trazer transtornos aos banhistas é o Peixe-Leão, uma espécie invasora que possui espinhos venenosos.
“Embora o nosso litoral tenha poucos registros, até o momento, é importante que a população esteja atenta, e sempre busque áreas que possam visualizar o substrato marinho, para não pisar em nenhum animal”, destaca a pasta.
Em maio deste ano, a Semas lançou o Plano de Ação Para Controle e Monitoramento da Bioinvasão do Peixe-Leão em Pernambuco. “Para viabilizar a implementação deste plano, o Governo do Estado, em parceria com o Ministério da Ciência e Tecnologia, já direcionou um recurso de aproximadamente R$ 557.356,92, por meio de Edital Facepe 02/2023 “Estudos e Pesquisas para Políticas Públicas Estaduais Prevenção e Mitigação de Incidentes com Tubarões e de Invasões do Peixe Leão em Pernambuco” e de Projeto para Fim de Conversão de Multas Ambientais (CPRH)”, afirma a secretaria.
Mais notícias
Mais lidas
ÚLTIMAS