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INCLUSÃO

IFPE Olinda promove cursos de capacitação profissional para mulheres transexuais

Aula inaugural dos cursos "Artesã de Pintura em Tecido" e de "Manicure e Pedicure" promoveu encontros marcados por resistência e inspiração

Publicado em: 28/08/2024 10:49

Intitulada "Arte e Beleza: estratégias de resistência e existência", a aula inaugural foi conduzida por Brenda Bazante, uma mulher trans, mestra em Artes Visuais e docente (Foto: Divulgação)
Intitulada "Arte e Beleza: estratégias de resistência e existência", a aula inaugural foi conduzida por Brenda Bazante, uma mulher trans, mestra em Artes Visuais e docente (Foto: Divulgação)
O Instituto Federal de Pernambuco (IFPE) de Olinda promoveu na segunda-feira (26) uma sala especial para receber as alunas do programa Mulheres Mil, que chega ao Campus com prioridade de atender mulheres transexuais e travestis. 

A aula inaugural dos “Artesã de Pintura em Tecido" e de "Manicure e Pedicure" também promoveu diálogos sobre as vivências de cada aluna e apresentou conhecimentos específicos sobre os temas.

Intitulada "Arte e Beleza: estratégias de resistência e existência", a aula inaugural foi conduzida por Brenda Bazante, uma mulher trans, mestra em Artes Visuais e docente. 

Para as alunas, ver uma professora trans pela primeira vez trouxe um sentimento de identificação. 

"Nunca tive uma professora trans", relataram algumas alunas, destacando o ineditismo do momento também para Brenda, que encontrou na sala de aula trajetórias distintas, mas com desafios semelhantes.

A aula começou com um vídeo de Divina Valéria, homenageando a ancestralidade.

"Ela abriu os caminhos. Na verdade, derrubou a porta. A gente era levada pela polícia só por estar na rua", contou Brenda.

Outras alunas também se identificaram com o relato, uma vez que muitas lutas da comunidade trans são parecidas.

"Estamos na cozinha, no tráfico, na rua, na vida errada. Quando chegamos, dizem: “Lá vem a marginal”, desabafou Camilly Lima, uma das alunas do curso de “Artesã de Pintura em Tecido". Ela vê na estamparia uma chance de construir uma nova vida. "Quero trabalhar por conta própria. Agradeço a oportunidade, porque são poucos os lugares que abrem as portas para mulheres trans. Somos vistas como marginais", afirmou.

Luciana Tavares, diretora-geral do IFPE Olinda, emocionada, expressou o desejo de que as alunas, agora, sejam vistas de outra forma: "Espero que escutem “Lá vem a estudante do IFPE”, em vez de “lá vem a marginal”. Tavares também reconheceu que o Campus tem muito a aprender com as novas alunas.

“Nunca vou saber, de fato, o que é ser uma mulher trans, mas queremos que vocês se sintam acolhidas aqui. Temos muito o que melhorar, e vocês vão nos ensinar bastante", afirmou, reforçando a importância da formação profissional para esse público. 

"É raro ver mulheres trans no comércio e em outros espaços formais. Sabemos o quanto é difícil para vocês conseguirem um emprego, e agradecemos a confiança que depositam na gente", finalizou.

Adiliane Batista, coordenadora geral do Mulheres Mil no IFPE, também esteve presente e destacou a relevância de políticas públicas para mulheres, especialmente as trans. 

"É preciso fortalecer essas políticas", afirmou. O programa Mulheres Mil, criado com o objetivo inicial de capacitar mil mulheres, já alcançou cem mil participantes e, após um período sem financiamento, está sendo retomado nacionalmente.

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