Arborização

Aliadas verdes: árvores amenizam impactos climáticos no Recife

O processo acelerado de desmatamento contribui para o aumento da temperatura. Recife é uma das cidades que mais aquecidas em todo o Brasil

Publicado em: 13/05/2024 05:20 | Atualizado em: 13/05/2024 05:16

Ainda há uma visão distorcida sobre o papel e importância das árvores, principalmente nos grandes centros urbanos, o que contribuiu com o desmatamento acelerado (Foto: Andrea Rego Barros/PCR))
Ainda há uma visão distorcida sobre o papel e importância das árvores, principalmente nos grandes centros urbanos, o que contribuiu com o desmatamento acelerado (Foto: Andrea Rego Barros/PCR))
Quem costuma andar a pé, esperar ônibus nas paradas ou até mesmo quem sai de carro e precisa estacionar o veículo em um local aberto no Recife já notou a dificuldade de passar muito tempo debaixo do sol. À medida que as pessoas procuram por sombras para escapar do calor, a quantidade de árvores parece que tem diminuído. Procurada por muitos por ser uma ótima opção para fugir do sol, as árvores possuem um papel muito maior nos centros urbanos do que servir de amparo em dias ensolarados.

O desmatamento é uma pauta constantemente abordada por líderes políticos que discutem os problemas ambientais. A preocupação surge diante do crescimento desenfreado das cidades e a ampliação dos centros urbanos. No entanto, boa parte das pessoas acredita que o desmatamento é causado por aqueles que vivem próximos a florestas, mas na verdade ele é resultado de ações da população que vive a milhares de quilômetros de qualquer mata.

Os processos de urbanização e desmatamento andam lado a lado, uma vez que para atender a demanda da população é preciso abrir novos espaços. Cenários como estes são comuns em grandes cidades como o Recife e, com isso, áreas florestais somem “aos poucos” para dar espaço a rodovias, indústrias, casas, shoppings, entre outras construções. A agropecuária para industrialização dos bens de consumo também é aceleradora do processo de desmatamento.

Todo município precisa ter um Plano Diretor com as estratégias de crescimento e como isso afeta o meio ambiente. O documento reúne um conjunto de normas legais e diretrizes técnicas para o desenvolvimento global e constante do município, sob o aspecto físico, ambiental, social, econômico e administrativo. Mesmo assim, nem todas as regras ambientais são seguidas durante o processo de crescimento.

“Cada cidade tem um Plano Diretor que norteia o que está previsto para cada cidade. Se não é respeitado o mínimo que é trazido dentro de um Plano Diretor, que tem um delineamento de áreas que são de preservação permanente, áreas que são de uma preservação ecológica e que tem um contexto ecológico associado, consequentemente, estamos favorecendo ao desmatamento. Por isso vemos cidades próximas da Região Metropolitana do Recife que sofrem bastante por essa falta de gestão e isso implica que cidades mal projetadas tenham um crescimento urbano desenfreado. Os aparelhos  públicos são projetados de forma a não atender a população, muito menos o clima”, explica o engenheiro ambiental, Gabriel Mendes. 

Ainda há uma visão distorcida sobre o papel e importância das árvores, principalmente nos grandes centros urbanos, o que contribuiu com o desmatamento acelerado. Normalmente, árvores são derrubadas para dar espaços a equipamentos urbanos como postes, fiações, bueiros, prédios, mas essas construções devem ser feitas levando em conta a presença desta planta e não tratá-la apenas como um problema a ser resolvido.

Com o sumiço das árvores para ampliação dos grandes centros urbanos, problemas como calor intenso, poluição do ar, diminuição da fauna, problemas respiratórios e o desequilíbrio ambiental tendem a se agravar ainda mais. 

“A utilização de árvores hoje no panorama de redução do clima se dá por alguns fatores. A vegetação regula a umidade relativa do ar e segura mais umidade. Também tem um efeito de absorção do dióxido de carbono que ocorre e isso também melhora a qualidade do ar né. A gente sabe que as cidades sofrem bastante com o efeito das ‘ilhas de calor’, e as árvores com esse sistema de criação do microclima reduzem esses efeitos”, ressalta Gabriel Mendes.

Nas cidades, as árvores cumprem um papel fundamental para o equilíbrio do ecossistema, absorvendo ruídos, diminuindo o calor do sol, controlando fortes ventos, além de constituir filtro para a purificação do ar e regulação das chuvas. Elas também retém CO2, reduzem a incidência de asma, câncer de pele e doenças relacionadas ao estresse, uma vez que ajudam a diminuir a poluição do ar e promovem sombreamento.

O papel delas ainda se estende para a redução de até 10% do consumo de energia por meio do efeito de moderação climática e  fornecimento de substâncias para produtos como medicamentos e chás e frutas.

Recife investe em plantio de árvores para amenizar impactos climáticos
 (Foto: Marcos Pastich/PCR)
Foto: Marcos Pastich/PCR

O Recife é uma das cidades mais aquecidas por conta do aumento de temperatura em decorrência do aquecimento global, segundo o Climate Central, organização americana de monitoramento meteorológico. A capital pernambucana ocupa o quarto lugar no ranking, com um aumento de 0,90°C, ficando atrás apenas de Campinas (0,93ºC), Goiânia, (0,99°C) e Vila Velha, (1,15°C).

O plantio de árvores é uma boa estratégia para amenizar os efeitos do aquecimento global e a Prefeitura do Recife tem investido nisso através do Programa Via Jardim. A iniciativa prevê o plantio de árvores nos principais corredores viários da capital. 

Segundo a gestão municipal, das 1.500 árvores que estão sendo destinadas ao projeto, 1.251 já foram plantadas nas avenidas:  Agamenon Magalhães (150 árvores); Norte (122 árvores); Recife (100 árvores); Mascarenhas de Moraes (100 árvores); Domingos Ferreira (100 árvores); Rui Barbosa (21 árvores); Rosa e Silva (35 árvores); Professor José dos Anjos (145); Visconde de Jequitinhonha (215); Conselheiro Aguiar (60), Arquiteto Luiz Nunes (34) e a AV. Pinheiros (40).

A prefeitura destaca que as espécies selecionadas seguem a mesma cor de floração para cada localidade e são nativas do bioma Mata Atlântica e, com isso, ajudam na diversidade de espécies da flora local. 

Além disso, também contribuem para atrair a aves, que encontram nessas árvores alimentos e abrigos para reprodução, contribuindo com  a manutenção da biodiversidade da capital pernambucana. As espécies de árvores selecionadas se adequam às condições adversas do ambiente urbano.
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