Imprudência
O perigo anda de moto: número de mortes aumenta no Recife
Entre 2017 e 2022, pelo menos 219 motociclistas morreram por conta de acidentes no Recife
Por: Adelmo Lucena
Publicado em: 18/12/2023 05:50 | Atualizado em: 18/12/2023 05:42
Entre os anos de 2017 e 2022, foram 6.636 pessoas feridas em acidentes com motos, sendo 5.227 condutores e 1.409 passageiros. (Foto: Ruan Pablo/DP) |
Pilotar uma moto hoje em dia permite mais agilidade no trânsito, facilidade em estacionar e economia no bolso. Mas andar sobre duas rodas tornou-se sinônimo de exposição em excesso, ultrapassagem de limites, imprudência e infrações de trânsito.
No Recife, este cenário não é diferente. Um levantamento feito pela Autarquia de Trânsito e Transporte Urbano do Recife (CTTU) mostra que 321 motociclistas foram vítimas de sinistros de trânsito em 2022, o que significa um aumento de 3% comparado ao ano anterior. Houve incremento na quantidade de mortos e feridos.
Apesar do número alarmante, não é difícil de entender o porquê destes dados, pois basta relembrar quantas infrações são cometidas pelos motociclistas em um breve percurso.
Entre as principais violações cometidas por eles estão desrespeitar o sinal vermelho e a placa pare, trafegar em velocidade acima do permitido, pilotar sem capacete ou com a viseira irregular, ultrapassar pela contramão, fazer manobras de risco, transportar crianças menores de 7 anos, estacionar em local proibido e pilotar usando chinelo.
Algumas destas infrações são as principais responsáveis pelos sinistros no trânsito do Recife e o relatório emitido pela CTTU destaca que, entre 2021 e 2022, verificou-se um aumento de aproximadamente 22,9% na quantidade de motociclistas feridos.
Já entre os anos de 2017 e 2022, foram 6.636 pessoas feridas em sinistros com motos, sendo 5.227 condutores e 1.409 passageiros.
As informações coletadas pela CTTU no ano de 2022 indicam que a cidade segue o mesmo padrão dos centros urbanos de países em desenvolvimento em que as principais vítimas feridas são homens com idade entre 20 e 29 anos.
Pelo menos 74,7% dos feridos são homens. O documento ainda expõe que o número de homens feridos no trânsito do Recife é três vezes maior do que o número de mulheres.
Os dados de vítimas fatais em sinistros envolvendo motociclistas segue o mesmo padrão. Em 2022 o número de mortes gerais no trânsito teve um crescimento de 19% em comparação ao ano de 2021.
Das vítimas, 39 eram motociclistas. O balanço feito com dados entre os anos de 2017 e 2022, aponta que houve 219 motociclistas mortos em decorrência de acidentes. Eles ficam atrás apenas dos pedestres, com 293 vítimas fatais.
A CTTU também mapeou os locais onde mais são registrados infrações de trânsito no Recife. “Dentre as ocorrências de sinistros de trânsito envolvendo motociclistas feridos entre 2017 - 2022, a maioria dos registros está nos grandes corredores da cidade. Destacam-se a Av. Agamenon Magalhães, Av. Caxangá e Av.Dr. José Rufino. Sobre os pontos críticos observa-se alto volume de registros, nos Bairros do Derby, Benfica e na região central do bairro de Afogados”, consta o relatório.
A série histórica de ocorrências de sinistros de trânsito envolvendo feridos no período da noite e da madrugada entre 2017 e 2022, apresenta elevada concentração de registros em diversos corredores viários da cidade com destaque para a Av. Caxangá, Av. Prof. José Rufino, Av. Agamenon Magalhães e Av. Norte. Destaca-se também a Zona Sul da cidade com alto volume de ocorrências.
A imprudência dos motoqueiros também prejudica outras pessoas que passam diariamente pelo trânsito da cidade. Pedestres andam com mais receio por não se sentirem respeitados e motoristas de outros veículos redobram a atenção nas vias. O taxista Luiz Bezerra comentou que vê todos os dias infrações cometidas pelos motociclistas.
"Tem que ter cuidado redobrado, porque muitas vezes os motoqueiros fazem o próprio corredor e ficam nos pontos cegos dos carros. As infrações mais constantes são avanço de sinal, subir em cima das calçadas e estacionar em locais proibidos. Na minha opinião, o que poderia ser feito para melhorar esse cenário é criar um corredor para as motos, assim como os ônibus possuem. Sei que é difícil, mas diminuiria bastante os acidentes”, contou.
A falta de responsabilidade dos motoqueiros no trânsito também é mal vista por integrantes da mesma classe. Alberto Monteiro pilota moto desde cedo e destacou que sempre vê entregadores por aplicativo infringindo as leis. “Os entregadores precisam cumprir prazos e correm demais com as motos e passam no sinal mesmo ele estando vermelho. Recentemente, um amigo meu que é entregador sofreu um acidente por ultrapassar o sinal. Ele teve fratura exposta e perdeu uma perna”, relatou.
Em entrevista ao Diario de Pernambuco, o prefeito do Recife, João Campos, explicou que a cidade estava avançando com uma política pública para regulamentar os entregadores por aplicativo da capital pernambucana. Mas, segundo ele, houve uma suspensão por conta de uma decisão judicial.
Ações tentam reverter cenário preocupante
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CTTU e Detran-PE promovem ações para tentar reverter o cenário alarmante, que deixa mais vítimas a cada ano (Foto: Divulgação/Detran-PE) |
Ações de trânsito para conscientizar os motoqueiros sobre os riscos de dirigir infringindo as leis se tornam cada vez mais necessários à medida que os números nos índices de acidentes aumentam. Atividades como estas são promovidas pela CTTU e pelo Departamento Estadual de Trânsito (Detran-PE) de forma incansável ano após ano.
A CTTU realizou entre janeiro de 2022 e setembro de 2023, aproximadamente 1.250 operações de fiscalização na cidade. As operações são associadas às campanhas de comunicação.
A autarquia também modernizou os semáforos para dar maior eficiência operacional e garantir interação segura entre os diversos usuários das vias. Entre 2022 e 2023 foram implementados 195 novos controladores semafóricos. A CTTU também deu continuidade à implementação de novos radares de velocidade.
O Detran-PE, por sua vez, disponibilizou um curso gratuito de segurança para motociclistas em agosto deste ano. Foram abordadas situações de risco, postura para evitar sinistros, pilotagem em condições adversas e posicionamento da motocicleta na via. Já na parte prática, estava incluído o ajuste de equipamentos, inspeção preventiva, troca de pneus, circulação, parada e estacionamento.
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