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Mulheres têm 3,5 vezes mais chances de sofrerem violência que homens e seguem sendo a principal vítima de todos os tipos de violência
Publicado: 24/11/2022 às 10:05

Mulheres negras permanecem entre as principais vítimas de feminicídio e figuram em 67% dos casos notificados/Divulgação
A violência contra a mulher continua sendo o principal tipo de violência no Brasil. Dados obtidos pelo Instituto Igarapé para atualização da plataforma EVA (Evidências sobre Violências e Alternativas para mulheres e meninas), que conta com o apoio da Uber, mostram que em 2020, todas as formas de violência contra a mulher aumentaram e revelam que mulheres foram vítimas em 89% dos casos de violência sexual; 84% dos casos de violência psicológica; 83% dos casos de violência patrimonial e; 69% dos casos de violência física. Além disso, mulheres têm 3,5 vezes mais chances de sofrerem violência que homens. A taxa de violência de mulheres é 270 para cada 1000 mil habitantes, enquanto a de homens é de 79.
Os dados acima foram extraídos do SINAN - Sistema de Informação de Agravos de Notificação, vinculado ao SUS - Sistema Único de Saúde e revelam que as informações provenientes do sistema de saúde são fundamentais para que se tenha um quadro mais fidedigno da gravidade do problema. Quando se analisa o problema apenas pelos dados das polícias compreendemos uma parte do problema, já que nem todas as mulheres denunciam as violências sofridas aos órgãos do sistema de justiça criminal. A comparação entre essas duas fontes, nos permite verificar o desafio que ainda há com a subnotificação.
Segundo o DATASUS, em 2020, 3.822 mulheres foram assassinadas no Brasil, o que representa um aumento de 10% em comparação ao ano de 2019 e uma taxa de homicídio de mulheres de 3,7 para cada 100 mil habitantes.
Mulheres negras permanecem entre as principais vítimas e figuram em 67% dos casos em 2020, sendo 61% pardas e 6% pretas. Mulheres brancas correspondem a 29,5% dos casos e indígenas 1%. A taxa de homicídio de mulheres indígenas é 2,3 vezes maior que a de mulheres brancas. Entre 2000 e 2020, o assassinato de mulheres indígenas aumentou em 7 vezes. Já o assassinato de mulheres negras aumentou 45% e o de mulheres brancas diminuiu em 33% no mesmo período.
Os dados do Sistema de Saúde mostram que armas de fogo estão associadas a aumentos da violência contra mulher, inclusive de vítimas fatais. Em 2020, 50% das mulheres foram assassinadas com armas de fogo, o que representa um aumento de 5,7% em relação a 2019. A presença de armas de fogo nas residências é um elemento de desestabilização. Os dados mostram que 32% das mulheres foram assassinadas no interior de seus lares, com predominância de mulheres jovens, de 15 a 29 anos.
"A atualização constante desses dados é fundamental para se compreender o tamanho do problema. O aumento da violência contra mulher precisa ser analisado sob perspectiva racial e etária e os dados precisam ser acompanhados de perto pelos tomadores de decisão”, afirma Renata Giannini, pesquisadora sênior à frente do projeto.
Os dados fazem parte da atualização da plataforma EVA, desenvolvida pelo Instituto Igarapé, com apoio da Uber, e serão lançados nesta terça-feira (22).
A plataforma EVA apresenta dados relevantes para informar políticas públicas voltadas para a prevenção, redução e eliminação da violência contra mulheres na América Latina. Lançada em 2019 com o apoio da Uber, a plataforma é atualizada periodicamente e abrange todos os tipos de violência cometidos contra mulheres em três países: Brasil, Colômbia e México. Os dados, em nível municipal, são desagregados por idade, raça e tipo de instrumento utilizado. A plataforma também mostra a evolução dos direitos das mulheres e explora a implementação de iniciativas voltadas à violência contra a mulher.