Vida Urbana
Encalhes de filhotes de peixes-bois-marinhos no Nordeste têm relação com perda de áreas de manguezal e estuário
Publicado: 08/06/2022 às 15:52

/Foto: Divulgação.
A conservação dos manguezais e estuários tem relação direta com a conservação dos peixes-bois-marinhos. Os animais da espécie, ameaçada de extinção do Brasil, buscam estas áreas como fonte de alimentação, água limpa para beber e viver, como local ideal para reprodução, para cuidar dos filhotes, descansar, também como abrigo e proteção. Recentemente, um estudo desenvolvido pela pesquisadora paraibana Iara Medeiros, durante atuação no Projeto Viva o Peixe-Boi-Marinho, revelou que há uma relação direta entre eventos de encalhes de filhotes de peixe-bois-marinhos com a perda de manguezais e áreas estuarinas ao longo dos anos no Nordeste do Brasil. O estudo também permitiu perceber a importância das unidades de conservação, que, com normativas socioambientais, conseguiram manter em suas delimitações as áreas de mangue conservadas em maior proporção.
O artigo “Spatiotemporal dynamics of mangrove forest and association with strandings of Antillean manatee (Trichechus manatus) calves in Paraíba, Brazil”, desenvolvido por Iara Medeiros durante atuação no Projeto Viva o Peixe-Boi-Marinho e mestrado no Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Monitoramento Ambiental da Universidade Federal da Paraíba, foi publicado no Journal of the Marine Biological Association of the United Kingdom, uma revista científica pertencente à Universidade de Cambridge e considerada de alto impacto na área de Biologia Marinha. No artigo, a pesquisadora, que contou com a orientação do Prof. Dr. João Carlos Gomes Borges e a coorientação da Profa. Dra. Nadjacléia Vilar Almeida, aborda a dinâmica espaço temporal dos bosques de mangues e sua relação com as ocorrências de encalhes de filhotes de peixes-bois-marinhos (Trichechus manatus) na Paraíba.
A pesquisa em questão foi importante para avaliar uma das hipóteses que tem sido levantada ao longo do tempo que estabelece uma relação entre o aumento do número de encalhes de filhotes em consequência da perda dos ambientes estuarinos, especialmente dos manguezais. Para testar esta hipótese, foi estabelecida uma série temporal e, a partir de técnicas geoespaciais, foi feita uma análise de quais coberturas de manguezais existiam no passado nessa faixa do litoral da Paraíba e como elas foram se comportando, representando em termos de distribuição, ao longo dos anos, com algumas perdas e em alguns locais até com alguns danos. Paralelamente a isso, foram avaliados todos os encalhes que aconteceram no litoral da Paraíba nessa mesma escala temporal, e foi de fato possível constatar que, no transcorrer do tempo, quanto maior a perda desses ambientes de manguezais, maior foi acontecendo o número de encalhes de filhotes.
“Esses achados são de extrema importância para primeiro constatarmos que nos locais que as unidades de conservação foram criadas de algum modo reforçaram a proteção desses ambientes estuarinos e a integridade desses recursos permaneceu maior em detrimento àqueles fragmentos de manguezais em que, ainda que protegidos por leis, não estão assegurados por unidades de conservação. Outro aspecto muito importante do trabalho foi gerar subsídios e condições para que essas medidas de proteção a esses recursos florestais pudessem de fato ser assegurados, porque, quando não, além de outros impactos sociais e ambientais que representam, traz uma implicação direta, como constatado do estudo, em função do aumento do número de encalhes dos filhotes”, ressalta o Prof. Dr. João Carlos Gomes Borges, coordenador do Projeto Viva o Peixe-Boi-Marinho.
O Projeto Viva o Peixe-Boi-Marinho - realizado pela Fundação Mamíferos Aquáticos em parceria com a Petrobras por meio do Programa Petrobras Socioambiental, é uma estratégia de conservação e pesquisa para evitar a extinção desta espécie no Nordeste do Brasil. Atua nas áreas de pesquisa, tecnologia de monitoramento via satélite, manejo, educação ambiental, desenvolvimento comunitário, fomento ao turismo eco pedagógico e políticas públicas. Conta com o apoio da APA da Barra do Rio Mamanguape, Arie Manguezais da Foz do Rio Mamanguape, CEPENE/ICMBio e do Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Monitoramento Ambiental da Universidade Federal da Paraíba.
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