Vida Urbana
TRAGÉDIA DA TAMARINEIRA
Confira o que disse o réu João Victor Oliveira, acusado de provocar colisão na Tamarineira
Publicado: 17/03/2022 às 19:49

/Foto: Rafael Vieira/Esp.DP

Histórico e relação familiar
Inicialmente João Victor falou sobre a infância, o relacionamento com os familiares e o comportamento na juventude. O réu afirmou que o primeiro contato com a cocaína aconteceu após a separação dos pais, quando tinha idade entre 13 e 15 anos. Na época ele contou que morava em Aracaju com a mãe e a irmã mais nova, que estava com dois anos.
“Minha mãe não tinha mais controle sobre mim. Ela ligou para o meu pai e pediu que eu fosse morar com ele”, relatou. O acusado afirmou que não era adepto ao álcool, mas passou a consumir por causa do pai. De acordo com Victor Ribeiro, a dependência se intensificou quando ele tinha 19 anos.
“Minha mãe não tinha mais controle sobre mim. Ela ligou para o meu pai e pediu que eu fosse morar com ele”, relatou. O acusado afirmou que não era adepto ao álcool, mas passou a consumir por causa do pai. De acordo com Victor Ribeiro, a dependência se intensificou quando ele tinha 19 anos.

O réu também mencionou o dia em que teve uma overdose após chegar em uma rave. Segundo João Victor, ele ingeriu bebida alcoólica e cocaína durante todo o dia e, após o pai se retirar, teria chamado a namorada para acompanhá-lo até João Pessoa, onde a festa seria realizada. O fato teria ocorrido em 2014. João Victor informou, durante o relato, que foi internado pela primeira vez após retornar da rave. Ele comunicou que passou a ser tratado em uma clínica localizada em Aldeia.
“Eu lembro do dia que fui para uma rave em João Pessoa, depois de passar o dia inteiro bebendo com o meu pai e usando cocaína sem ele saber. Fui com a minha namorada Amanda, contra a vontade dela, tarde da noite. Quando cheguei, escondi a droga (cocaína) no pé. Lá eu provei o Ecstasy pela primeira vez. Ali eu precisei ser hospitalizado por um princípio de overdose. Quando eu cheguei em casa eu pedi ajuda para a minha mãe. Eu disse: mãe, me ajuda porque eu vou morrer. Eu vou me matar com essas drogas”.

Recaída
João Victor confessou que teve a primeira recaída em janeiro de 2016, voltando a ingerir álcool e cocaína após uma viagem de fim de ano com a namorada e um casal de amigos. De acordo com o réu, eles teriam parado em um restaurante, onde o amigo solicitou uma cerveja, que também foi consumida por João Victor.
“Muitas vezes eu não conseguia chegar nas festas de tão bêbado que eu estava. Quando eu saía [de casa] eu colocava na cabeça que precisava achar cocaína. Eu não perdia a consciência quando usava cocaína, mas eu sentia medo, angústia”, afirmou.
Em fevereiro de 2016, Victor Ribeiro informou que passou a frequentar Narcóticos Anônimos (NA) -grupo de terapia para adictos em recuperação.

2017, ano da ‘Tragédia da Tamarineira’
Em 2017, Victor Ribeiro afirmou que o pai já possuía o carro envolvido na colisão, um Ford Fusion na cor prata, e que o veículo teria sido comprado de uma pessoa conhecida. O veículo, segundo o depoente, era utilizado pelo pai, irmã e um funcionário que prestava serviço para o pai. O réu já possuía uma caminhonete que, segundo ele, apresentava problemas mecânicos. No mesmo ano ele foi parado por uma blitz da Lei Seca, se recusou a fazer o teste do bafômetro e alegou que teria bebido na noite anterior.
João Victor Ribeiro rememorou o envolvimento em uma confusão ocorrida em um posto de gasolina, onde afirmava que foi abordado abruptamente por um funcionário do estabelecimento. O boletim de ocorrência realizado pelo funcionário contestou o fato, afirmando que o réu teria entrado no posto dirigindo um veículo em alta velocidade, bêbado e sem camisa.

Dia da colisão
Apesar de ter apresentado detalhes sobre vários momentos em que ingeriu álcool e drogas, o réu relatou brevemente os momentos que antecederam a colisão do dia 26 de novembro de 2017, quando atravessou o cruzamento da Avenida Rosa e Silva com a Cônego Barata embriagado, dirigindo o Ford Fusion em uma velocidade de 108 km/h, em uma via que permitia a condução máxima do veículo a 60 km/h.
“No domingo eu fui para Zé Perninha porque um amigo me chamou para fumar maconha. Eu cheguei lá por volta das 12h. Comecei a tomar refrigerante e Mateus tomou cerveja. Então eu peguei um copo e tomei cerveja também. Tomamos em torno de dez [cervejas]. Quando um outro amigo chegou, eu já estava ‘alegre’ [bêbado]. Nós combinamos de sair de Zé Perninha, onde ficamos até às 16h, voltar para casa para trocar de roupa, e seguir para o Auto Bar, onde tem festa todos os domingos”, afirmou.
“Quando eu cheguei em casa, fui no quarto do meu pai e peguei a chave do Fusion. Eu encontrei Artur e Mateus em um posto e combinei que nós voltaríamos de Uber, mas Artur disse que não tinha bebido e que poderia levar o carro. No caminho eu e Mateus fumamos maconha. Quando nós chegamos no Auto Bar, entramos e pedimos um combo que incluía um litro de whisky e quatro energéticos. Eu paguei o combo com o cartão de crédito da minha mãe e fiquei com o dinheiro dos dois. Depois disso eu lembro que comi dois pães de alho e apaguei. Acordei quando já estava preso, em uma cadeira de rodas, sendo levado para o hospital. Eu lembro de ver uma multidão em volta de mim e do meu pai não poder se aproximar”, concluiu.
Sobre o depoimento do acusado, o advogado de Miguel Motta, Ademar Rigueira, fez observações de acordo com o comportamento do indiciado enquanto testemunhava.
“Ao contrário daquela primeira cena que vocês viram durante o depoimento de Miguel, o João Victor teve uma aparente crise histérica e hoje seu depoimento foi muito articulado, com muita calma e muita memória. Inclusive até nos momentos de maior crise que ele teve em virtude do uso de drogas ele sabia exatamente o que tinha acontecido. Ele sabia todo o procedimento, mas por incrível que pareça só o fato que está sendo julgado hoje que ele não teve consciência e não se lembra”, afirma Ademar.

O advogado ainda falou sobre o desejo compulsivo de mentir por parte do acusado. “No início do processo eu fui uma das pessoas mais críticas na questão da mitomania, mas a gente percebe pelo depoimento dele hoje, pelos fatos e distorção deles. Ele só falou o que interessou a defesa dele. Em todas as crises que ele falou serem as mais sérias durante a vida dele, ele lembra”, conta.
Ao finalizar a deposição, João Victor decidiu não responder aos questionamentos da acusação, seguindo para os questionamentos da defesa. O interrogatório foi interrompido após uma discussão ser iniciada entre a promotora Eliane Gaia e os advogados de defesa do réu. A juíza Fernanda Moura de Carvalho, que tentou controlar a sessão, também se envolveu no conflito.
“É preciso guardar respeito neste plenário. O silêncio se impõe aqui nessa sessão, e nesse momento. Qualquer gestual ou palavras que cheguem a nossa audição, partindo da defesa e da acusação, deve ser evitado. Respeito e civilidade devem sempre prevalecer, em qualquer circunstância. O campo de divergência de ideias não é agora”, disse a magistrada.
Prisão
Na prisão, João Victor afirmou que foi ameaçado de morte pelo chaveiro e faxineiro do Centro de Observação e Triagem Professor Everardo Luna (Cotel), onde está detido desde 2017. “Eu fui ameaçado de morte pelo chaveiro e pelo faxineiro do Cotel, o ‘Doguinha e o Chapolim’. Ofereceram R$ 60 mil para quem tentasse me matar. Disseram que iam me matar depois da visita. Na hora, o meu pai saiu e quando voltou pediu para que eu ficasse tranquilo”, afirmou o réu.
Victor Ribeiro ainda declarou que ‘já está condenado pelo resto da vida’. “Eu sou condenado pelo resto da vida. Só sendo psicopata para viver uma vida tranquila sabendo que eu destruí outras famílias. Meu desejo era que eu tivesse batido em um caminhão para acabar logo com a vida trágica que eu levava. Eu nunca tive a intenção de matar alguém em qualquer lugar do mundo. Se eu estiver mentindo, me dê prisão perpétua. Eu sou réu confesso por acidente de trânsito, mas não por assassinato ”, disse.
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