PESQUISA

Fiocruz PE investiga ressurgimento da Dengue após a epidemia de Zika

Publicado em: 12/05/2021 13:49 | Atualizado em: 12/05/2021 15:20

 (Rafael Neddermeyer/Fotos Públicas)
Rafael Neddermeyer/Fotos Públicas
Um estudo realizado pela Fiocruz Pernambuco buscou entender o que trouxe à tona o crescente caso de Dengue no ano de 2019, em que foram registrados 2,1 milhões de casos, números que apontam um cenário de epidemia. A pesquisa aponta que grande parte da população ao ser infectada pelo vírus Zika, nos anos anteriores, pode ter produzido imunidade cruzada contra o vírus da Dengue resultando, curiosamente, em uma grande diminuição do número de casos entre os anos 2017 a 2018. Os resultados foram publicados nesta terça-feira (11) na revista científica Nature Communications.

“Nossos achados mostram que a epidemia foi causada majoritariamente por Dengue 2 no Sudeste e Dengue 1 no Nordeste brasileiro e que estas linhagens já estavam circulando no país por mais de uma década”, explica o pesquisador da Fiocruz PE, Gabriel Wallau, que integrou a equipe responsável por esse estudo.

De acordo com a Fiocruz, os resultados sugerem que, em linha com outros estudos previamente publicados, grande parte da população foi infectada pelo vírus Zika, o que pode ter produzido imunidade cruzada contra o vírus da dengue resultando em uma grande diminuição do número de casos em 2017 a 2018. Segundo a pesquisa, esse efeito também pode ter sido causado pelo aumento da imunidade da população, devido às altas taxas de infecção pelo próprio vírus da dengue nos anos anteriores a 2016 e/ou a uma combinação desses fatores.

O estudo, segundo os pesquisadores, combinou dados genômicos, ecológicos e epidemiológicos para investigar a dinâmica do reaparecimento desse vírus. “O grupo utilizou o sequenciamento genômico do vírus da dengue de amostras coletadas no Nordeste e Sudeste do Brasil para investigar o porquê de terem sido reportados poucos casos da doença em 2017-2018 e quais as origens dos vírus que causaram a epidemia de 2019”.

O cientista também ressaltou que são necessárias novas pesquisas para que se possa entender com precisão como as linhagens do vírus da dengue podem permanecer não detectadas por longos períodos de baixa transmissão. “De qualquer forma, o vírus da dengue se manteve circulando com baixa prevalência até seu ressurgimento massivo na população suscetível em 2019”, complementou o pesquisador.

O vírus da dengue é uma das maiores ameaças à saúde pública nas regiões tropicais do globo e especialmente no Brasil, onde epidemias anuais levam ao adoecimento de milhares de brasileiros. Somente no ano de 2019 ocorreram 2,1 milhões de casos. Nos anos de 2017 a 2018, logo após a tríplice epidemia dos vírus zika, dengue e chikungunya em 2016, foram reportados números de casos de Dengue bem abaixo da média até a sua ressurgência em 2019. O fato chamou a atenção dos pesquisadores, que desenvolveram este novo estudo para entender o fenômeno.

A pesquisa “Lying in wait: the resurgence of dengue virus after the Zika epidemic in Brazil”, foi realizada em cooperação por pesquisadores da Fiocruz Pernambuco; das universidades norte-americanas de Yale, Flórida e Notre Dame; da Universidade de São Paulo (USP / Ribeirão Preto) e do Rega Institute for Medical Research (Bélgica). Além de Gabriel Wallau, participaram também o pesquisador Rafael França, do Departamento de Virologia e Terapia Experimental, e os alunos da Pós-Graduação em Biociências e Biotecnologia em Saúde da instituição Lais Ceschini e Filipe Zimmer. O artigo publicado na revista Nature Communications pode ser lido acessando: https://www.nature.com/articles/s41467-021-22921-7.

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