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DEFENSORIA PÚBLICA

Ônibus continuam lotados após medida liminar que evita aglomeração nos coletivos

Publicado em: 22/03/2021 21:46 | Atualizado em: 22/03/2021 22:07

 (Sandy James/DP)
Sandy James/DP
A aglomeração nos coletivos de ônibus, na Região Metropolitana do Recife, é uma realidade diária para usuários do sistema público de transporte. Completado um ano de pandemia, a Defensoria Pública de Pernambuco (DEPPE), notificou judicialmente o Grande Recife Consórcio sobre a determinação em que ônibus e BRTs somente circulem com a capacidade máxima de passageiros correspondente ao número de assentos do veículo. O Consórcio, que alegou limitações operacionais no sistema, informou que já entrou em contato oficialmente com a Defensoria, e que haverá uma reunião na amanhã desta terça-feira (23), para discutirem as exigências feitas pelo órgão.

O Diario foi ao Terminal de Jaboatão, no fim da tarde de hoje, para ver como estava a movimentação nos coletivos diante da determinação, e flagrou o desrespeito a nova regra de circulação.

Para o auxiliar administrativo Marcílio Siqueira, 49 anos, a situação ainda continua sem nenhuma mudança. “Os ônibus estão lotados, as pessoas vão em pé. A gente não vê uma preocupação completa, para que as pessoas possam ter o cuidado devido. Infelizmente, nós que somos os trabalhadores, necessitamos sair de nossas casas para ir ao trabalho. Mas infelizmente, o sistema de transporte público não dá conforto e nem segurança. Isso tanto para o ônibus quanto para o metrô”, relata. O auxiliar esperava o ônibus 252, que faz o percurso para o bairro de Vila Rica, em Jaboatão.

Edilza Maria, 45 anos, conta que os problemas de lotação continuam nos transportes. De acordo com a mulher, que trabalha há 10 anos em Camaragibe e reside em Moreno, e utiliza tanto os ônibus quanto duas linhas do metrô, o cenário é horrível. “Péssimo. Esse horário é o pior e eu tenho que enfrentar. E nesse período de pandemia está do mesmo jeito que antes, não mudou nada. O metrô e os ônibus continuam lotados. Eu vim no metrô agora. Peguei na Estação Camaragibe e desci na Estação Coqueiral, e tive que deixar um outro metrô dessa linha passar, pois não consegui entrar”. A cuidadora esperava o ônibus 208, que faz o percurso Nossa Senhora da Conceição, em direção ao município de Moreno.

 (Sandy James/DP)
Sandy James/DP

Os dilemas de superlotação são os mesmos relatados pela babá Edilene Gomes, de 39 anos, que faz o percurso de Jaboatão Centro, em direção a Imbiribeira, Zona Sul do Recife. “Há muitas dificuldades no transporte público. Eles falam que no ônibus e no metrô não pega vírus, e que só pega vírus nas igrejas, shopping e praias. Eu não concordo com essas medidas. Eu venho quase que, literalmente, pendurada no metrô, todos os dias. É uma pessoa em cima da outra. Não dá para concordar com a falta de fiscalização no metrô e nos ônibus. Não existe isso”. A babá esperava o ônibus 274, que faz o percurso na comunidade do Lote 56, em Jaboatão.

De acordo com o Grande Recife Consórcio, todo o sistema de transporte está atualmente com 80% da frota em circulação. Segundo o Consórcio, responsável pelos transportes, das 138 linhas que funcionam, 100% da frota está ativa. Antes do início das novas medidas restritivas na última quinta-feira (18), a demanda era de 63%.

Reações às medidas

Com a medida liminar, emitida pelo Magistrado Augusto Napoleão Salgado Angelim, da 5ª Vara da Fazenda Pública da Capital, além dos ônibus e BRTs somente circularem com a capacidade máxima de passageiros correspondente ao número de assentos do coletivo, a determinação da Defensoria Pública de Pernambuco (DEPPE), também prevê a disponibilização de frota em quantitativo suficiente para atendimento das demandas de cada linha, considerando os horários de pico; e ainda ressalta que nos terminais, a fila de espera não deve ser superior a 30 passageiros para os ônibus convencionais e 45 para os ônibus articulados e BRTs.

O Diario flagrou, no Terminal de Jaboatão, ônibus cheios no período a partir das 18h, com intensa aglomeração e pessoas em pé dentro dos coletivos, além da circulação de veículos com passageiros acima da capacidade. Tais constatações vão contra a determinação da Defensoria Pública de Pernambuco. Alguns passageiros comentaram sobre a nova liminar.

 (Sandy James/DP)
Sandy James/DP

“Eu acho que essa decisão deveria ser cumprida, impediria mais contaminações. Mas acredito que na prática não vai acontecer. Porque não há fiscalização, não há um controle das pessoas. Você pode observar aqui. Certamente há mais de quarenta pessoas aqui. Talvez essa determinação, na prática, demore a chegar num patamar do que já deveria ter sido há um ano atrás”, relata o auxiliar administrativo Marcílio Siqueira.

Já a cuidadora Edilza Maria, diz que não ver novidade com a liminar. “Já ouvi histórias semelhantes, mas nunca acontecem. Só fazem falar, mas na prática nada acontece. E se acontecesse, seria um milagre. Eu não espero nada dos governantes. Eles nunca fazem nada. Eu tenho 45 anos, é o tempo que espero. Faz dez anos que trabalho nesse emprego e faço o mesmo percurso. Não vejo mudar nada. Só fazem falar e nada. Estou cansada”, afirma.

 (Sandy James/DP)
Sandy James/DP

Para a babá Edilene Gomes, o sistema de transporte público deveria ter parado. “Eu acredito que deveria ter sido proibida a circulação dos coletivos. Da mesma forma que as outras atividades sociais foram proibidas. Parou os shoppings, as praias, as igrejas e parques, por qual motivo os coletivos não pararam?”, questiona.

Em nota, o Grande Recife Consórcio de Transporte informou que recebeu a notificação judicial e já se reuniu com a Defensoria Pública Estadual. “Para encontrar a melhor maneira de avançar na direção das exigências feitas pelo órgão dentro das limitações operacionais do sistema”. A Urbana-PE, Sindicato das Empresas de Transportes de Passageiros, informou que não vai comentar o assunto por enquanto.
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