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MAUS-TRATOS

Suspeito de assassinar gatos no Recife não entrou pelo acesso principal da delegacia para prestar depoimento

Publicado em: 19/02/2021 13:14 | Atualizado em: 24/02/2021 09:14

Ativistas em frente à Delegacia de Polícia do Meio Ambiente  (Foto: Sandy James/Esp.DP)
Ativistas em frente à Delegacia de Polícia do Meio Ambiente (Foto: Sandy James/Esp.DP)
O homem suspeito de cometer os crimes de maus-tratos, tortura e assissanato contra gatos vítimas de abondono, em um local de desova, na Zona Norte do Recife, prestou depoimento nesta sexta-feira (19), disse a delegada responsável pelo caso Isabela Porpino. De acordo com ela, o jovem de 23 anos, identificado como Pedro Leal, foi ouvido por volta das 10h, na Delegacia de Polícia do Meio Ambiente (Depoma), no bairro de Tejipió, na Zona Oeste da Capital. O que chamou atenção, no entanto, é que o suspeito não entrou na delacia pela entrada principal, como de praxe, mas por outro acesso, como forma de "evitar aglomeração". 

Ainda segundo a delegada, o depoimento durou cerca de duas horas. "Até o momento do que fora apurado, ele estava sozinho no dia do fato", afirmou Porpino. Por outro lado, na manhã da sexta-feira, cerca de cinco ativistas foram para a frente da Depoma aguardar o depoimento do suspeito, mas foram frustrados, pois o estudante não entrou pelo acesso principal da unidade - que seria o procedimento corriqueiro. Já a não confirmação sobre o dia exato do depoimento, de forma pública, assim como a entrada do supeito por outro acesso da delegacia foi uma forma de evitar "tumulto que poderia frustrar o próprio interrogatório, mas também por estarmos em meio a uma pandemia o que poderia atrair mais gente" para a frente do local, segundo ela. 

Movimentação em frente à delegacia
Com camisetas e carregando um cartaz, um grupo de aproximadamente cinco ativistas que luta pela defesa e direitos dos animais em Pernambuco, se concentrou em frente à delegacia para reivindicar a prisão do suspeito. A técnica administrativa, Amélia de Arce, foi uma delas. Ativista há nove anos, ela descreve a indignação com o caso. "A gente trabalha tanto para dar um pouco de dignidade a esses animais que foram abandonados. É revoltante ver uma pessoa fazer algo tão cruel com um ser indefeso. Espero que ele seja punido por cada animal que maltratou e que a justiça seja feita".

Em setembro de 2020, foi sancionada a Lei 1.095/2019, que aumentou a punição para a prática dos crimes de abuso e maus-tratos aos animais. Caso o suspeito seja condenado, poderá pegar de dois a cinco anos de reclusão, além de pagamento de multa e proibição de guarda.

Para a professora de Engenharia Elétrica e ativista, Milde Lira, a lei deve ser cumprida à risca, independente do contexto social de cada indivíduo. "Precisamos fazer as leis serem cumpridas. Lutamos tanto para que essas penas fossem aumentadas, independente de ser uma pessoa que tem bens ou não. Se fosse uma pessoa de rua, já estaria presa", lamenta, ao mesmo tempo em que descreve o cansaço da luta diária pela garantia dos direitos dos animais.

“A gente está sempre batalhando. Tenho amigas precisando de apoio psicológico porque onde a gente vai tem um animal sofrendo. Eu tenho muita dificuldade de ir para a rua porque fico com medo de encontrar um animal sofrendo e não poder fazer nada por ele, visto que já ultrapassei os meus limites”. Milde conta que abriga 30 gatos em seu apartamento e auxilia a irmã a cuidar de outros 20 animais.

Douglas Brito, integrante da Comissão Nacional de Proteção Animal (Foto: Sandy James/Esp.DP)
Douglas Brito, integrante da Comissão Nacional de Proteção Animal (Foto: Sandy James/Esp.DP)
Uma das lideranças da Comissão Nacional de Proteção Animal, horas antes do horário do depoimento do suspeito, Douglas Brito afirmou que o grupo recorreria ao Ministério Público de Pernambuco (MPPE) caso o universitário não fosse ouvido.

"Lamentavelmente, é mais um crime bárbaro que a gente enfrenta contra os animais. Estamos aqui buscando justiça, a delegacia já instaurou o processo, deve ser feita a oitiva dele. Estamos no aguardo que ele venha (depor). Caso, ele não venha, vamos recorrer ao Ministério Público", indagou. O ativista reforçou o fato já terem se passado 10 dias desde a execução do crime. “O crime aconteceu no dia 9 (de fevereiro), então ele já deveria ter sido ouvido e prestado os esclarecimentos dele, assim como todo mundo que tem direito à legítima defesa".

O caso foi denunciado à Depoma três dias após as imagens mostrarem o jovem praticando maus-tratos contra os animais. Segundo Douglas, a pessoa responsável pela denúncia - a qual preferiu não se identificar - foi alvo de xingamentos e ameaças através das redes sociais, nessa quinta-feira (18), supostamente partindo de familiares do estudante.

“As ameaças começaram ontem. Pessoas que cuidam daqueles gatinhos começaram a receber ameaças de familiares dele. Vamos entrar com ação contra essas pessoas que estão ameaçando nosso grupo. Vamos abrir um boletim de ocorrência e possivelmente um TCO para que respondam criminalmente”, concluiu.

Entenda o caso
Na madrugada do dia 9 de fevereiro, o suspeito identificado como Pedro Leal parou o carro no local de desova, na Zona Norte do Recife, e desferiu vários chutes contra os animais. Através de imagens de segurança do circuito de vigilância do local, é possível ver o homem maltratando os gatos, chegando a esmagar alguns com as próprias mãos. Ao todo, cinco felinos foram mortos, sendo um adulto e quatro filhotes. A ação criminosa durou cerca de uma hora, com início por volta das 3h da manhã e finalizada por volta das 4h.

O caso ganhou repercussão nas redes sociais após a divulgação das imagens de segurança e posterior identificação do suspeito, que é estudante de Direito de uma universidade privada do Centro do Recife. Desde o dia 12 de fevereiro, Pedro Leal é alvo de inúmeras denúncias por maus-tratos através das redes sociais.

De acordo com a Polícia Civil de Pernambuco (PCPE), um inquérito foi aberto para a investigação do caso, que está sob responsabilidade da Delegacia de Polícia do Meio Ambiente. 

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