Vida Urbana

/Andréa Rêgo Barros/PCR

A pandemia da Covid-19 escancarou diversos problemas sociais. Na saúde e na educação, duas áreas que foram extremamente afetadas pela crise sanitária, profissionais e representantes dos setores contam as expectativas para este novo ano de 2021. Com a iminência da vacinação a luta contra o vírus e a busca por melhores condições de trabalho são reinvindicações para médicos e professores — profissionais que tiveram suas atividades diretamente impactadas com a nova realidade imposta.
“A gente fica de olho comprido, como diz o povo, com o que vai acontecendo nos países do resto do mundo, e da América do Sul, que já começaram a vacinar. E a gente está aqui sem saber quando começa, porque o governo não tem compromisso”. A declaração da presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Pernambuco (Sintepe), Valéria Silva, representa bem o clima atual dentro de um panorama de crise no país.
Para os profissionais que atuam na linha de frente ao combate da Covid-19, a situação é alarmante. “Os médicos já estão muito cansados, porque o paciente de Covid-19 vale por três pacientes graves numa UTI, pois eles precisam de cuidados específicos, cuidados respiratórios, de manutenção”, ressalta o presidente do Conselho Regional de Medicina de Pernambuco (Cremepe), Mario Fernando Lins.
Os médicos vivenciam o ineditismo e o medo que o efeito do aumento de casos graves pode causar no sistema. “Se formos pensar na Região Metropolitana, a gente está numa crescente de casos. Para que isso realmente se estabilize e comece a cair, a gente precisa do apoio de toda a população, para que possamos manter essas barreiras de seguranças”, relata a infectologista Millena Pinheiro, do Real Hospital Português (RHP).
Os receios da vacina e aumento de casos
A Secretaria Estadual de Saúde (SES-PE) vê um cenário preocupante do sistema público. E, por isso, mais 30 vagas de UTI estão previstas para entrar em funcionamento nesta primeira semana de janeiro. Atualmente, a rede possui cerca de 760 pacientes internados, de acordo com o boletim divulgado no último dia 30. “Quando analisamos o número de pacientes internados em leitos de UTI na rede pública de saúde, ainda vemos uma situação que nos causa preocupação (...) Ainda vivemos um momento que requer atenção e o reforço na adoção de cuidados, porque nossas atitudes serão determinantes para os indicadores das próximas semanas”, explicou o secretário estadual de Saúde, André Longo.
Com abertura de novos leitos e o cansaço dos profissionais de saúde, o Conselho Regional de Medicina (Cremepe), vê a situação como preocupante. “Estamos preocupados com o cansaço das nossas equipes médicas, de enfermagem, fisioterapeutas e etc. Estamos diante de um gravíssimo problema de saúde. O mundo inteiro está se preocupando. E vem por aí uma nova variante do vírus, que chega a ser 70% mais infectante. Isso é preocupante”, enfatiza o doutor Mario Fernando Lins.

O médico afirma que evitar aglomeração, lavar as mãos com água e sabão, fazer uso de álcool 70% e usar máscaras é essencial para evitar o contágio pela disseminação da doença. “Nós entendemos que leitos de UTI e de enfermarias são importantes. Mas tem que se barrar o vírus, tem que se criar barreiras.

Para a infectologista Millena Pinheiro, que integra a Comissão de Controle de Infecção do Real Hospital Português (RHP), o novo imunizante é polêmico. “A vacina ainda está revestida de um cunho político muito forte. Mas quando elas chegarem, a gente ainda não vai perceber de imediato uma mudança dos hábitos que a gente está tendo até agora. O que acredito é que o ano de 2021 vai ser muito parecido com o ano de 2020 no sentido das medidas de proteção”, diz a médica.
Professores buscam melhores condições
A luta por melhores condições de trabalho e pelo direito dos estudantes à Educação é o que marca as expectativas para o novo ano, segundo a presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Educação (Sintepe), Valéria Silva. “O que a gente quer é que tenhamos condições para efetuar nosso trabalho no ano que vem. O professor tem que ter as condições para cumprir o seu trabalho. E os estudantes têm que ter esse direito à educação”, enfatiza.
De acordo com a Secretaria Estadual de Educação e Esportes, o estado adotará um sistema de ciclos, ou seja, serão realizados dois anos letivos em apenas um, com conclusão prevista para o final de 2021. “O que foi aprovado aqui em Pernambuco é que nós teríamos os dois anos, 2020 junto com 2021, pois o ano escolar ainda não terminou neste ano. Essa é uma forma de tentar não prejudicar a aprendizagem dos estudantes. E lutar para que a gente possa avançar, nessas políticas nacionais de educação”, explica a professora Valéria.

A busca pela renovação é o que marcou a rotina profissional dos professores neste ano. Para o próximo ano, segundo Valéria, as perspectivas continuam em levar a educação aos estudantes. “Esse ano isso foi altamente impactado, com a necessidade de um trabalho remoto. Uma tentativa e um esforço que está sendo feito para que a gente não deixe os nossos estudantes sem ter acesso à escola”.
Os desafios desse novo modelo de ensino logo se mostraram persistentes como explica a professora. “Melhorar essa questão da internet e das novas tecnologias; ver em que condições os professores poderiam chegar aos estudantes”, acrescenta.
A falta de regulação é também explicitada pelo professor Wallace Melo Barbosa, que é secretário de formação e assuntos econômicos do Sindicato dos professores de Pernambuco (Sinpro). “Não tínhamos completados nem sessenta dias de atividades remotas e já percebíamos, na comunidade escolar em geral, cansaço e esgotamento, com o tempo de tela, estresse, isolamento. Tudo contribuía, mas era preciso manter a escola viva”, ressalta.

Para o próximo ano ele espera uma escola mais preparada e apta para amadurecer as novas práticas de forma saudável e sustentável. ”Além disso, espera-se que o trabalho docente tenha mais regulamentação, pois os esforços têm sido hercúleos por parte dos professores e professoras, categoria que vem sentindo prejuízos financeiros e na saúde, mental e física”, finaliza Wallace.
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