Vida Urbana
ANO DESAFIADOR
"Receio e desconfiança": taxistas e motoristas de aplicativo avaliam trabalho em ano de pandemia
Publicado: 29/12/2020 às 12:58

(Foto: Paulo Paiva/ DP Foto)
Taxista há oito anos, Myller Sena, 34, conta que teve que driblar as incertezas da pandemia para conseguir continuar trabalhando, principalmente nas primeiras semanas. “Isso criou um certo pânico, porque a gente que precisa trabalhar de forma autônoma, sair de casa todos os dias para buscar o sustento, [e isso] acabou criando, além da situação duvidosa, meio que um pânico, porque a gente necessita sair”, diz.
Além do perigo de contaminação, o taxista afirma que presenciou muitos momentos difíceis durante os meses de pandemia. “Cheguei a fazer inúmeros socorros, e a chegar em pronto atendimento e não ter vaga para transferir, e o pessoal se desesperar dentro do carro. Aquilo mexe muito com o seu emocional. Também levei muitas pessoas para funerais. Pessoas que perderam entes queridos e viram a situação se agravar mais e mais”, conta.
Quem também enfrentou momentos complicados foi o motorista por aplicativos Fagner Oliveira, 32. Com pouco mais de um ano de atuação, ele conta que viu o número de passageiros diminuir drasticamente, “cerca de 95%”. “As poucas pessoas que estavam trabalhando ainda e usavam a Uber estavam todas amedrontadas, se sentido meio que obrigadas a sair de casa. Então, assim, eram dias de muito receio e desconfiança”, lembra.
Também motorista por aplicativos, Ricardo Martins, 36, conta que, além de ter de conviver com problemas antigos, como a insegurança, teve que lidar com outro tipo de risco: a recusa de alguns passageiros em adotar regras de higiene e proteção, como o uso de máscara de álcool em gel. “Foi um desafio muito grande, para todo mundo, tendo em vista que muitas pessoas demoraram muito para entender o que estava acontecendo de fato”, afirma.
Há dois anos e meio na área, Ricardo afirma que um dos grandes problemas que enfrentou em 2020, além da pandemia em si, foi a instabilidade na economia, que afetou diretamente a função que exerce. Além da vacinação contra o novo coronavírus, o motorista é otimista e categórico quanto às expectativas para 2021: “a expectativa para o ano que vem é que a economia volte a girar”, diz.
“Olhem por nós”
O presidente da Associação dos Motoristas e Motofretistas por Aplicativos de Pernambuco (AMAPE), Thiago Silva, classifica 2020 como um momento difícil para os profissionais da categoria. “O ano foi de muitos desafios, pois no pico da pandemia a demanda chegou a cair 90%. Muita gente ficou endividada, precisou devolver carro e se reinventar para sobreviver. Além do risco enorme de contaminação e a necessidade de estar na rua, buscando o sustento”, destaca.
Segundo Thiago, os motoristas tiveram, também, que conviver com outras dificuldades além dos problemas trazidos pela pandemia. “As medidas e ajudas dadas pelas empresas foram insuficientes. Pelos governos e prefeituras, principalmente a do Recife, não houve qualquer tipo de auxílio. Sequer tratativas nesta direção”, afirma.
Diante de todas as incertezas que ainda se encontram pelo caminho mesmo com o fim do ano, o presidente da AMAPE deixa claro que os profissionais precisam de mais atenção para atravessar o período de pandemia. “O apelo que faço é que as empresas e o poder público olhem por nós”, finaliza.
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