Fiéis acompanham celebrações no Morro da Conceição, com novas regras de conduta social

Há mais de um século o Morro da Conceição, Zona Norte do Recife, recebe grandes multidões de fiéis católicos, que peregrinam todos os anos em direção ao monumento dedicado a Nossa Senhora da Conceição. Tradicionalmente, a festividade começa com um cortejo em um ponto da cidade, que reúne devotos e devotas, que segue em direção ao local. Segundo a organização da festa, devido a pandemia, as celebrações serão transmitidas pela internet este ano. A 116ª edição do evento, que já está ocorrendo e vai até o dia 8 de dezembro, não terá procissões, confissões, nem atrações culturais. Com as novas regras de conduta social, o santuário passa a funcionar com 30% da capacidade, acomodando um público de 420 pessoas, sendo duas por banco.

Apesar do incentivo para as pessoas ficarem em casa, muitos fiéis caminham até o local para cumprir promessas ou buscar um sentido mais profundo para suas vidas. É o caso da engenheira de produção Emanuelle Silva, 37 anos, que conta que foi cumprir uma promessa que fez pela saúde do seu amigo capixaba, Luiz Felipe Telles, 37 anos, que foi contaminado por uma cerveja artesanal em Belo Horizonte, no ano passado. "Vim antecipadamente pagar uma promessa. Um amigo meu tomou uma cerveja da Backer, e várias pessoas faleceram, inclusive o sogro dele. Ele sobreviveu, porém, com várias sequelas. Como eu não sabia se ele iria sobreviver eu me agarrei a Nossa Senhora e pedi a ela, e ela me deu o retorno. Enquanto uma pessoa que bebia com ele a mesma quantidade e faleceu, ele ficou vivo e está evoluindo. Tenho certeza que a minha Santa não deixou ele ir embora e intercedeu junto a Jesus", afirma.

A fé também perpassa as gerações. É o caso da família de dona Graciete Carvalho, de 85 anos, que leva seus filhos e netos para a festividade, que frequenta há mais de 25 anos. "Sou devota há muitos anos e ela nunca me negou um pedido. Por isso estou aqui hoje. Não tenho nem como explicar", fala a senhora.

Como esse ano a programação foi alterada em função da pandemia, a família da matriarca resolveu vir antes para evitar aglomerações. "As pessoas tem que ter fé, ainda mais no momento que estamos passando por uma dificuldade tão grande. Todo mundo sabe o que está acontecendo no mundo. E penso que a gente só atravessa isso se acreditarmos em alguma coisa. A fé em Nossa Senhora da Conceição faz com que a nossa energia seja renovada e nos dá muitas esperanças para que as coisas aconteçam da melhor maneira", afirma o aposentado Marcos Carvalho, 61 anos, filho de dona Graciete.

A psicóloga Sofia Holmes Carvalho, 26 anos, filha do aposentado e neta de dona Graciete, fala da relação da família com a festividade. "Desde os meus 13 anos participo ativamente na Igreja, por influência da minha avó que é muito devota e muito praticante. Sou devota de Nossa Senhora, inclusive tenho um tatuagem dela no braço. Pra mim, Nossa Senhora é colo e conforto. É a certeza de ter uma mãe protegendo e sempre que dá, venho aqui olhar para ela".

"Infelizmente esse ano a gente não vai poder estar presente na procissão. Todos os anos a gente vai. A família toda. Mas aí a gente fez o que deu, e viemos antes, para ao menos poder olhar para ela e pedir proteção, pois como meu pai falou, esse é um momento que a fé está em prova. Quando a gente tem fé, as coisas se tornam um pouco menos difíceis", acrescenta a psicóloga.

Para a pedagoga Elisângela de Melo, 44 anos, agradecer as bênçãos alcançadas é importante. "A minha relação com Nossa Senhora é muito forte, pois ela realmente faz o papel de mãe para mim. É muito importante vir, não só hoje, mas todos os dias do ano agradecer a Jesus. Estou agradecendo, principalmente, por ninguém da minha família, e nem eu, ter sido infectada pela Covid-19. Então estou vindo agradecer pela nossa saúde, pelo emprego e pela família. Tenho certeza que o ano de 2021 será um ano muito abençoado e o fim da pandemia".

Ocorrem no Morro da Conceição, 63 celebrações previstas para serem transmitidas pela internet. Segundo a organização da festa, cerca de 300 voluntários, que receberam instruções de profissionais de saúde, ajudarão os fiéis que forem no santuário ao longo da semana da festividade.