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Dia das Crianças

Pandemia do novo coronavírus ressignificou a infância e criou novos desafios

Publicado em: 12/10/2020 08:48 | Atualizado em: 12/10/2020 09:48

As famílias experimentam as novas formas de ser criança durante o isolamento social. (Foto: Leandro de Santana/DP.)
As famílias experimentam as novas formas de ser criança durante o isolamento social. (Foto: Leandro de Santana/DP.)
Com espaços restritos para se movimentar, contato apenas por meio virtual com a família, distância dos colegas, afastamento da escola e saudade dos avós, as crianças precisam de um estímulo extra para manter o desenvolvimento saudável. As mudanças de hábitos impostas nos últimos sete meses afetaram a socialização, a compreensão de mundo e até o modo de brincar. Mesmo com o fim do isolamento social rígido e mais opções de lazer liberadas na cidade, ainda é preciso conviver com o distanciamento, uso de máscara, reforço na higiene e adaptação às aulas on-line. Para cuidadores, psicólogos e pediatras ouvidos pelo Diario, essas novas vivências estão ressignificando a infância durante a pandemia do novo coronavírus.

A dentista Marcela Coutinho Domingues, de 37 anos, notou irritação e maior agitação na filha mais velha, Maria, de 5 anos, e maior necessidade de apego no filho mais novo, Felipe, de 1 ano e 6 meses. “Houve uma mudança de comportamento logo no início da pandemia, quando tivemos que ficar em casa com restrição total. Fomos adaptando para driblar essa ansiedade e necessidade de movimento deles. Colocamos uma piscina no box do banheiro, inventamos brincadeiras. Mas foi bem difícil, porque no início do isolamento, as crianças não podiam ir para a escola, ver os amigos, nem ir ao parque. E estando dentro de casa o tempo inteiro fica mais complicado limitar o tempo de TV”, diz.

Para a psicóloga clínica e educadora parental Juliana Alves, o papel dos pais e cuidadores nesse momento é de validar as emoções das crianças, entendendo que sentimentos comuns nessa fase, como medo e tristeza são normais e fazem parte da vida toda. “É importante que as crianças conheçam o papel das emoções na vida delas. Mas, infelizmente, alguns pais não conhecem esses significados e repetem suas histórias, reprimem emoções. E a forma como foram criados reflete na criação dos filhos. Algumas crianças estão tendo uma carga maior por viverem em um ambiente que potencializa medos, provocando um desgaste emocional. O que eu digo no consultório para ilustrar isso é que somos como um barco e as nossas emoções são como as ondas que vão e voltam o tempo todo”, explica.

Nos meses de julho e agosto, com o avanço da reabertura dos espaços de lazer, a família passou a frequentar locais ao ar livre, como parques e praias. A área verde do prédio onde moram, no bairro da Ilha do Retiro, na Zona Oeste do Recife, também foi liberada e ajudou a expandir o olhar das crianças, que estava restrito ao apartamento e garantiu o contato com a natureza. “Todos os dias frequentamos o campinho do prédio. Estamos voltando a ver alguns parentes e as crianças passam a reconhecer outras pessoas que também são parte da família, mas que não viam há muito tempo”.

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A reação dos filhos ao saírem de casa nas primeiras vezes após longo período de isolamento social foi de contemplação, segundo ela. “Eu percebi que Felipe ficou parado, observando outras crianças brincarem, vendo a natureza. Porque ele passou muito tempo sem ver tudo isso. E pelo fato de ser mais novo, acho que ele nem lembrava de certas coisas”, comenta.

Aos poucos, uma nova rotina se estabeleceu na casa e as crianças passaram a receber atividades escolares, o que ajudou a estabelecer os horários. “Eu montei com a ajuda da Maria um mural de rotina. Com isso, ela sabe quais atividades e os horários de cada uma. Isso ajudou bastante a diminuir a ansiedade. Separamos a manhã para atividades escolares. Ela tem a aula on-line e Felipe, que está matriculado no berçário, recebe atividades guiadas e orientações de brinquedos sensoriais”, conta.

Marcela dividiu o horário de trabalho com o marido e fica com as crianças pela manhã, e ele, à tarde. Para ela, os dois conseguiram ser mais produtivos com o novo esquema e a família ganhou mais tempo de qualidade juntos. “Ainda estamos enfrentando muitas coisas difíceis. Mas essa vivência está sendo muito importante para eles, e para nós, adultos, porque alimenta nossa alma”.

Crianças em números
*Dados do IBGE.

Recife tem quase 120 mil crianças entre 0 e 6 anos, correspondendo a 8% da população local

Mais de 11 mil crianças de menos de 6 anos vivem em famílias pobres ou extremamente pobres que não estão inseridas no Programa Bolsa Família.

Mais de 14% das crianças até 5 anos estão com peso elevado, quase o dobro da média do país. 

40,3% das crianças de 0 a 3 anos são atendidas por uma creche e 96,5% das crianças de 4 e 5 anos estão matriculadas na pré-escola.

De acordo com o IBGE, 5,4 milhões de crianças de 0 a 6 anos (29% do total) vivem em domicílios pobres, com renda média mensal abaixo de R$ 250.

No Brasil, 34% da população de 0 a 3 anos frequenta creche e 93% das crianças de 4 a 5 anos estão matriculadas na pré-escola.

No Brasil, 38,4 milhões de pessoas não têm proteção trabalhista, o que pode aumentar o número de crianças em situação de pobreza.
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