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Dia das Crianças

Consequências do isolamento na infância vão da insônia à ansiedade

Publicado em: 12/10/2020 08:51 | Atualizado em: 12/10/2020 09:33

 (Foto: Reprodução/Agência Brasil.)
Foto: Reprodução/Agência Brasil.
Casos de insônia, pesadelos, desconforto físico e agitação são relatos frequentes das crianças durante a pandemia. Um estudo foi realizado na província chinesa de Shaanxi, na segunda semana de fevereiro deste ano, para avaliar os efeitos imediatos da pandemia do novo coronavírus no desenvolvimento psicológico. Na pesquisa, foram analisadas 320 crianças e adolescentes de ambos os sexos na faixa etária de 3 a 18 anos. Os resultados mostraram que os problemas emocionais e comportamentais mais prevalentes foram distração, irritabilidade, medo de fazer perguntas sobre a epidemia e apego aos familiares.

As crianças de 3 a 6 anos manifestaram mais o sintoma de apego aos pais e temer que membros da família fossem contaminados. As crianças mais velhas, por sua vez, apresentaram mais desatenção e dúvidas. Por não compreenderem a situação e perceberam as mudanças de rotina e no comportamento dos pais, as crianças menores apresentam reações que alteram o sono, apetite, choro excessivo, e comportamentos como morder e roer unhas.

De acordo com o documento “Repercussões da Pandemia de Covid-19 no Desenvolvimento Infantil”, elaborado pelo Núcleo Ciência Pela Infância (NCPI), o estresse provocado pela pandemia pode trazer algumas consequências, como: dependência excessiva dos pais; desatenção; preocupação; alterações no sono; falta de apetite; agitação. Entre as maneiras para driblar esses desafios impostos pelo isolamento estão alguns hábitos que podem ser feitos em casa, junto com a família. Leitura, desenho, jogos, ajudar nas tarefas domésticas e no preparo dos alimentos.

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“Sem compreender direito a situação, reagindo principalmente às mudanças que percebem no comportamento dos familiares e em sua rotina de vida, é natural que as crianças pequenas passem a dormir mal, não comer, chorar, morder, demonstrar apatia ou distanciamento: são formas de elas lidarem com a situação adversa. Porém, são formas ineficientes, que prejudicam seus processos de aprendizagem, desenvolvimento e convivência. As situações de incerteza e de perdas causadas pela Covid-19 podem provocar na criança sentimentos de raiva, medo da doença e ansiedade pela perda do vínculo com pessoas, seja por distanciamento, adoecimento ou morte “, observa o comitê científico do NCPI.

As consequências na saúde física e mental pode levar, inclusive, a uma regressão no desenvolvimento infantil. “Atendo muitas crianças que desenvolveram ansiedade, manias, taquicardia, irritabilidade uma série de sintomas devido ao isolamento. Alguns pacientes menores, por exemplo, já tinha feito o desfralde e voltaram a usar fraldas”, conta a psicóloga clínica e educadora parental, Juliana Alves.

Nas consultas, os médicos têm notado mudanças de comportamento com indicativo para ansiedade. “Esse comportamento influencia no desenvolvimento e pode repercutir com relação ao crescimento”, comenta a  professora de pediatria da Universidade de Pernambuco (UPE), Alexsandra Costa.

Crise econômica tem efeito negativo

A psicóloga clínica e doutora em neuropsiquiatria e ciências do comportamento Marcela Pires alerta que as mudanças econômicas da família, geradas pelo momento de crise, em que muitos perderam seus empregos, pode repercutir na vida das crianças.

“Quando falamos em desenvolvimento infantil, consideramos a relação entre o biológico e o meio ambiente. A pandemia restringiu esse contato e isso trouxe consequências. E os prejuízos variam à medida da relação que a criança tem com o mundo. As crianças que já têm alguma autonomia, sentem falta do contato com outras vivências com a natureza, família, amigos, contato com outras regras. Até 2 a 3 anos o mundo da criança é a mãe e o pai, os cuidadores, e é através dessa relação que conhecem o mundo, através desse cuidado. Então a mudança no lugar social, no aspecto econômico, pode refletir nas crianças”, comenta.

A pediatra Cristina Pinheiro Rodrigues comenta que não é sempre que os pais têm um olhar, digamos, humano, para as crianças e, por isso, a dificuldade em entender os sentimentos demonstrados com algumas atitudes. Como qualquer um, os pequenos são afetados pela perda da convivência, que trabalha não só o sentir, mas toda uma construção individual e coletiva.

“A socialização é uma das funções fundamentais para a criança. A interação é fonte de aprendizagem de convivência, o contato com os pares, o respeito, o acesso à cultura é muito importante na construção da identidade pessoal e coletiva no desenvolvimento da criança”, ressalta.
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