Vida Urbana
SOLIDARIEDADE
Idosa usa toda a sua aposentadoria para manter abrigo com mais de 200 animais e pede doações
Publicado: 28/08/2020 às 19:55

Fátima Cristina de Medeiros, 60 anos, cuida do abrigo junto com a amiga, Jacira/Foto: Arquivo pessoal

No momento em que a reportagem entrou em contato, dona Fátima, aposentada de 60 anos, realizava o resgate de um animal abandonado, no bairro de Santo Amaro, Centro do Recife. Era uma cadela de aproximadamente cinco anos, que acabou sendo colocada para fora de casa pelo marido de sua dona, após a morte da mulher. No banco de trás do carro, ela carregava mais uma cadela a caminho da clínica veterinária, onde realizaria uma cirurgia para castração, procedimento necessário para prevenir doenças, além de impedir ninhadas indesejadas.
Ao fundo da ligação, ouvia-se os latidos assustados de "Brendinha", a cadela recém-resgatada. "Ela não está entendendo nada. Dentro do carro com duas pessoas que não conhece. A coitada não entende que é para o bem dela", dizia Fátima com toda a calma, enquanto tentava tranquilizar o animal com a ajuda da sua neta. Brendinha não sabia, mas, ao final do dia, estaria na companhia de mais de 200 cães e gatos, num espaço planejado para abrigar e cuidar de bichos abandonados ou em situação de vulnerabilidade.

Em um sítio localizado numa cidade da Zona da Mata Norte, Fátima e uma amiga, Jacira Souza, não só mantêm os animais, como dão amor, carinho e dedicam todo o seu tempo e dinheiro para o bem-estar dos bichos. "A gente gasta toda a nossa aposentadoria com eles", conta Fátima. "Faz compra no cartão, divide em várias vezes, se endivida". Por mês, são gastos, em média, R$ 6 mil para a compra de insumos, entre ração e medicamentos, para os 163 cachorros e 58 gatos mantidos no espaço. "Não compramos nada para a gente. Quem me dá tudo são minhas filhas. Elas que me dão roupas e colocam gasolina no carro", diz a aposentada.
Junto com Jacira, que há seis anos vendeu seu apartamento no bairro de Boa Viagem, Zona Sul do Recife, e comprou o sítio para abrigar os animais, Fátima ainda conta com a ajuda de um médico veterinário. Ele consegue doações de alguns medicamentos, além de realizar as castrações com desconto para os cães e gatos do abrigo. Mas, mesmo com o auxílio de terceiros, os desafios para manter o lar dos bichinhos não param.
Há cerca de um ano, as duas protetoras dos animais encontraram mais uma dificuldade. Uma empresa que doava jornais antigos para o abrigo, agora cobra R$ 200 para entregar o material, que serve como tapete higiênico para os cães e gatos. "A gente não tem condições de arcar com esse custo. É um valor muito alto", explica Fátima, que contou com as doações durante cinco anos.

Fátima também reclama dos valores das rações que, durante a pandemia, aumentaram de preço. Além disso, ela afirma que quase não conta com doações de dinheiro, alimento ou remédios para o abrigo. "Muita gente procura, doa um mês, e para. A maioria só vem até nós para deixar animais sob os nossos cuidados", revela.
A aposentada conta ainda que prefere não expor o endereço do lugar, justamente para evitar que pessoas abandonem seus cães e gatos por lá, uma vez que o espaço é limitado. Segundo a protetora, raros são os animais que saem de lá para serem adotados. "Só doo para pessoas que eu tenho confiança", explica Fátima. "Eu participava de eventos de adoção, fazia acompanhamento (dos animais adotados), vi coisas que não gostaria", explica.
Para ajudar o abrigo de Fátima e Jacira, são aceitas doações através de transferências ou depósitos bancários nas seguintes contas:
Banco do Brasil
Ag:1833/3
CC: 14347/2
Bradesco
Ag:2798
CC: 65360/8
Fátima Cristina Neto de Medeiros
CPF: 192 245 593 87
O abrigo também aceita doações através do Mercado da Ração, em nome de Fátima Cristina Neto de Medeiros. Fone: (81) 322-5172
O abrigo também aceita doações através do Mercado da Ração, em nome de Fátima Cristina Neto de Medeiros. Fone: (81) 322-5172
História de amor com os animais
O salvamento de Brendinha acontece 20 anos após o primeiro resgate realizado por Fátima. "Encontrei uma cadela abandonada na rua, com muita sarna. Todo mundo com nojo dela. Eu peguei e a enrolei uma sacola plástica e a levei para o veterinário", conta a aposentada. "Naquela época era muito diferente, a castração custava o equivalente a uns R$ 600 hoje em dia. Paguei a cirurgia em seis vezes no cartão".

Desde então, Fátima vem cuidando dos animais "como crianças". Primeiro, alugou o apartamento onde morava na Torre, pegou o dinheiro e alugou uma nova casa com quintal no bairro da Várzea. Depois mudou-se para Jardim Petrópolis e, por fim, voltou à Várzea, sempre procurando espaços grandes o suficiente para manter os cães e gatos. Na última residência, os vizinhos, incomodados com a presença dos bichos, fizeram um abaixo-assinado para tirá-la do lugar. Foi então que surgiu o sítio na Zona da Mata Norte, adquirido pela amiga Jacira após a morte do marido.
"Na infância, eu via aqueles cachorrinhos na praia, pedia para o meu pai, ele levava para casa, mas minha mãe não gostava de bicho e sempre tirava eles de lá", lembra Fátima sobre o seu amor antigo. "Eu dizia 'no dia que tiver a minha casa, eu vou ter quantos bichos quiser'. Hoje eu digo 'mamãe, a culpa é sua'", lembra ela em tom bem-humorado sobre o sonho conquistado.
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