Vida Urbana
MEDITAÇÃO
'Tempo de formar redes': Budistas acreditam que a quarentena pode servir para repensar o estilo de vida
Publicado: 27/06/2020 às 10:56

/Foto: Divulgação / CEBB
O momento atual inspira cuidados. Além da higiene e da saúde do corpo, precisamos estar atentos ao nosso estado mental durante a pandemia do novo Coronavírus. Para passar pelo período de isolamento social, muitos se apegaram a meditação e conexão com o íntimo, práticas que já são bastante conhecidas pelo budismo. A religião milenar, que nasceu na Índia, possui mais de 200 mil adeptos no Brasil, de acordo com levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Somente em Recife, o Centro de Estudos Budistas Bodisatva têm quatro salas. Para os que seguem esta crença, os dias que atravessamos devem servir para reavaliar as decisões que tomamos.
“O período da pandemia nos trouxe alguns alertas em relação ao modo como estamos vivendo. Dentro dos ensinamentos budistas temos a noção da interdependência: todos os seres são inseparáveis, partilhamos dos mesmos elementos da vida, tudo o que afeta um, afetará o outro. Chamamos isso de “carma” (do sânscrito, literalmente, “ação”), a construção da nossa experiência de realidade com base em nossas ações e consequências”, explica Vinícius Paes Barreto, psicólogo, psicoterapeuta e facilitador de práticas budistas no CEBB. “Em meio à pandemia e ao confinamento da quarentena, podemos revisar o modo como temos vivido até aqui, tanto no âmbito coletivo quanto no pessoal. É preciso mudar. Formar redes de atuação, redes de solidariedade, superando a busca autocentrada da felicidade.“
Inspirados no processo de “iluminação” do príncipe Sidarta Gautama, que se tornou o Buda Sakyamuni após perceber que a mente é a raiz da felicidade ou do sofrimento, os praticantes da tradição que perdura mais de 2.700 anos, acreditam que as mudanças na rotina causadas pela quarentena podem ser encaradas como um momento disruptivo, onde tomamos ciência daquilo que realmente merece nossa atenção. “Podemos comparar ao próprio processo da meditação silenciosa: paramos, suspendemos nosso modo automático de fazer as coisas; nos mantemos quietos, serenos, apenas presentes em nossa postura, respiração e mente; assim que paramos, percebemos os vários pensamentos e impulsos que atravessam nossa mente, percebemos nossas neuroses; mas, se pudermos ter paciência, se pudermos apenas seguir respirando conscientemente, exercitando uma atitude aberta e lúcida, podemos nos dar conta também do frescor do momento presente, das qualidades naturais da mente; assim, aos poucos, vamos nos sentindo mais inteiros, mais pacíficos, mais presentes. Com a quarentena, podemos parar um pouco e exercitar uma outra forma de ser”, diz Vinicius.
Espalhadas pelos bairros da Encruzilhada, Várzea, Boa Viagem e Torre, as salas da CEBB recebiam alunos diariamente para as reuniões. Com a suspensão obrigatória, devida à quarentena, os praticantes migraram para ambientes online, utilizando aplicativo de videoconferência. “Isso tem sido maravilhoso pois seguimos nos encontrando e partilhando nossa prática, sustentando nossa rede. Assim que for possível, retornaremos aos encontros presenciais, mas imagino que algumas salas virtuais seguirão, para poder acolher pessoas que moram distante ou que não possam se deslocar”, explica o membro do CEBB.
O Centro oferece práticas para o público interessado. Ou seja, não precisa ser budista para frequentar. Nos encontros são exercitados a meditação silenciosa, estudos de textos, debates e partilhas de vivências entre os membros. “Na tradição espiritual do budismo, reverenciamos os professores pois esses são pessoas que se devotaram a amadurecer a sabedoria em suas vidas, a partir dos desafios que foram encontrando. Como se diz, trata-se de uma sabedoria “orgânica”, baseada na experiência e não no amontoado de teorias. Temos muitos professores que atuam no Brasil, falando nossa língua, que entendem nossos diversos modos de vida, nossas desigualdades, nossos contextos”.
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