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Recife: Mortes pela Covid-19 superam quantidade de óbitos da gripe espanhola

Publicado: 10/06/2020 às 19:51

/Foto: AFP

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A Covid-19 já matou mais pessoas no Recife, comparando números absolutos, do que na gripe espanhola, no século passado. Apenas na capital pernambucana, na época com 238 mil habitantes, 1.250 óbitos foram registrados em 1918, ou seja, 0,5% da população morreu em menos de dois meses. Já o boletim epidemiológico do novo coronavírus na cidade soma, até esta quarta-feira (10), 1.361 mortes. Considerando que o Recife tem hoje cerca de 1,6 milhão de habitantes, a taxa de letalidade da Covid-19 ainda é menor, em comparação com a gripe espanhola.

Na capital pernambucana, 244 novos casos foram registrados nesta quarta. Desses, 171 são considerados casos leves e 73 enquadram-se como Síndrome Respiratória Aguda Grave (Srag). Agora, são 17.377 casos da doença na cidade. Mais 44 óbitos foram confirmados nesta quarta, chegando a 1.361 mortes. Além disso, há 13,4 mil pessoas curadas no Recife.

Em 1918, a pandemia da gripe espanhola conseguiu deixar, em 60 dias, um rastro de 35 mil mortes no Brasil. Caixões eram empilhados nos cemitérios por falta de coveiros. Escolas estavam sem aulas. O comércio estava fechado. As ruas, vazias. Os espaços não foram esvaziados por orientação das autoridades sanitárias, como tem acontecido durante a pandemia do novo coronavírus. Não havia pessoas nesses lugares porque elas estavam doentes ou mortas. Até hoje, o episódio é considerado por infectologistas como "o maior holocausto médico da história".

Historiadores apontam que a epidemia da gripe espanhola – que, apesar do nome, não surgiu na Espanha, mas em um acampamento militar no Kansas, Estados Unidos – chegou ao Brasil pelo Porto de Recife, a bordo do navio português Demerara, em setembro de 1918, “ao que tudo indica vinda de Dakar, trazida por marinheiros brasileiros que prestaram serviço militar na região”, de acordo com os virologistas Hermann Schatzmayr e Maulori Cabral, no livro A virologia no estado do Rio de Janeiro. À medida que os casos aumentavam em número e gravidade, o pânico começou a tomar conta das cidades, que se tornaram cidades-fantasma, com os serviços parando. “Restaram os serviços públicos da área da saúde, totalmente caóticos e sem condições de prestar auxílio aos que os procuravam, pois sequer a etiologia real da epidemia era conhecida”, relatam Schatzmayr e Cabral.
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