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Polícia investiga denúncias de assédio e maus-tratos a animais contra dono de ONG

Publicado em: 18/05/2020 15:25 | Atualizado em: 18/05/2020 15:37

Caso está sendo investigado pela DPCA de Jaboatão. (Foto: Reprodução/Google Street View.)
Caso está sendo investigado pela DPCA de Jaboatão. (Foto: Reprodução/Google Street View.)
A Polícia Civil de Pernambuco começou a investigar denúncias de assédio sexual, fraude e maus-tratos a animais supostamente praticados pelo dono de uma instituição animal de Candeias, em Jaboatão dos Guararapes, Região Metropolitana do Recife. Desde o último sábado (16), o perfil ExpondoPetPE publica no Instagram relatos de mulheres que alegam ter sido assediadas ou testemunhado condutas inadequadas por parte do dono da ONG PetPE.

Ao menos 30 meninas procuraram a página para relatar situações abusivas que passaram. Os textos publicados no perfil mencionam casos ocorridos há, pelo menos, dez anos. Os assédios aconteceriam basicamente em três momentos: durante recrutamento de voluntárias para trabalhar na ONG, durante a produção de chocolates - uma das fontes de renda da instituição -, e durante saídas para realização de ações de divulgação nas ruas. 

Uma das denunciantes relata ter sido assediada durante uma entrevista presencial de trabalho. “Essa entrevista era para saber se eu tinha vergonha ou não. Aí pediu para mostrar os peitos. E segundo ele mesmo, todas as meninas que mostravam se davam bem nas vendas porque não tinham vergonha de falar com o público. Consegui enrolar ele e não mostrei. Mas ele ficava passando a mão nas minhas coxas, queria saber qual era calcinha que eu estava (usando), se era fio dental ou não”, diz a suposta vítima.

Outra vítima relata ter sido assediada aos 17 anos de idade. “Me alisava pelas costas, beijava meu pescoço quando passava pela cozinha (onde fazia os chocolates). Lembro de um dia que eu estava comendo na cozinha, ele se 'encaixou' com as pernas abertas do meu lado, começou a me alisar dizendo que estava muito sozinho desde que a mulher dele tinha ido embora, que eu não ia aguentar a carência dele e que ele era um cara muito carinhoso e as pessoas confundiam isso”, aponta o texto.

Em outro relato, há acusação de maus-tratos a animais. Uma mulher diz ter deixado temporariamente uma cadela de rua no abrigo: "Aceitaram se eu ficasse pagando uma mensalidade pelas despesas. Ela (a cadela) era de rua, mas estava em boas condições. Quando voltei ela estava bem mais magra e apática, quando cheguei lá la nem fez festa, ficou só deitada num canto. Achei estranho e pedi para levar num veterinário. Fiz os exames e ela estava com a doença do carrapato. Levei ela embora no dia seguinte e ela chegou no novo lar extremamente amedrontada, parecia ter muito medo de homens".

“Todas as vítimas que manifestaram interesse foram à delegacia formalizar a queixa. Quando terminarem de depor, iremos nos pronunciar sobre o caso, porque há inúmeras situações diferentes relatadas”, explica a advogada Labybe Ebrahim Nunes, que representa as mulheres.

As acusações postadas viralizaram durante o fim de semana, chegando ao conhecimento dos deputados estaduais Gleide Ângelo (PSB) e Romero Albuquerque (PP). “Eu tomei conhecimento quando Luiza Brunet me avisou. Fui no Instagram e entrei em contato com a administradora da página me deixou a par de tudo”, conta Gleide.

“As vítimas estavam com muito medo, mas expliquei que hoje há uma rede de proteção às mulheres, não só de Polícia, mas com Secretaria da Mulher, Ministério Público. Elas ficaram mais tranquilas e resolveram denuncia. A sociedade precisa parar de naturalizar essas coisas. Não estou julgando quem está certo e quem está errado, e sim buscando a verdade, que é o que todos queremos”, acrescenta a deputada.

Já Romero Albuquerque pediu a abertura de uma CPI na Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe) para investigar casos de pedofilia, abuso, exploração sexual, uso indevido de doações e maus-tratos a animais em ONGs do estado. O deputado afirma ter recebido relatos de que os animais sumiram do abrigo após o surgimento das denúncias. 

“Estou muito preocupado com o desaparecimento desses animais, que eram usados por um provável criminoso apenas para obter vantagens. A delegada Margareth Galdino, nova responsável pela Delegacia do Meio Ambiente (DEPOMA), já foi alertada e se comprometeu a tomar providências imediatas”, afirma Romero.

Em nota, a Polícia Civil afirma que a investigação do caso está sendo tocada pela delegada Vilaneida Aguiar, da 2ª Delegacia de Crimes Contra a Criança e o Adolescente (DPCA), de Jaboatão. “Mais detalhes não podem ser passados para preservar as identidades das vítimas e não atrapalhar as investigações”, pondera a polícia, prometendo se pronunciar em “momento oportuno”.

O dono da ONG foi procurado pelo Diario por telefone e WhatsApp para dar sua versão da história, mas até a publicação desta reportagem, não obtivemos retorno. O espaço segue aberto para acrescentar um posicionamento.
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