Vida Urbana
Pandemia
Bairro da Cohab está em segundo lugar em número de mortes por Covid-19 no Recife
Publicado: 13/05/2020 às 17:20

Na Cohab, muitos moradores são vistos com máscaras e mercadinhos orientam cuidado aos clientes/Foto: Paulo Paiva/DP
Os bairros da Cohab e Ibura, no Recife, são vizinhos e estão entre os cinco da capital com mais números de casos confirmados de Covid-19, segundo boletim epidemiológico da Secretaria Municipal de Saúde, da terça-feira (12). O documento, atualizado todos os dias, aponta um dado ainda mais preocupante. Quando se fala em número de mortes, a Cohab só está abaixo de Boa Viagem. São 17 óbitos confirmados contra 24 em Boa Viagem. No Ibura, são nove mortes registradas. Apesar dos números pessimistas e às vésperas da decretação da quarentena em cinco municípios pernambucanos, os moradores dos dois bairros continuam circulando pelas ruas. A maioria, é verdade, usa máscaras. Nem todos, de forma correta.
O vendedor de laranjas Rafael Avelino, 22 anos, chega cedo à Avenida Dois Rios, no Ibura, para comercializar o produto. Só deixa o lugar no final da tarde. Na manhã desta quarta-feira (13), a equipe do Diario flagrou o comerciante sem máscara. “A máscara tá no carro. Acabei de tirar para fumar. Vou colocar”, disse. “Não sabia que aqui tinha tantos casos. Obrigada por avisar”, comentou, enquanto posava para a foto. A partir de sábado, o acessório será obrigatório nos municípios da quarentena.
Na UR-01, Cohab, a caixa de supermercado Jéssica da Silva, 22, conta ter visto mudança de comportamento entre os vizinhos. “Acho que as pessoas estão usando mais máscaras e andando menos nas ruas.” Sem máscaras, uma mulher justifica que saiu de casa apenas para falar com a vizinha. Mas prometeu mudar de postura a partir de sábado.
Perto dali, um mercado conta com um funcionário paramentado com máscara e com álcool em spray para higienizar as mãos de quem adentra o comércio. Nas paredes do lado de fora do mercado, o aviso: “Por gentileza, use sua máscara neste estabelecimento.” Circulando pelo bairro da Cohab, quase não se vê mensagens educativas sobre a pandemia. Um muro tem uma pichação com a frase: “Use a máscara e se cuide.”
Lídia Lins, do Coletivo Ibura mais Cultura, que tem feito ações solidárias na localidade, como distribuição de cestas básicas e produtos de higiene, diz que ainda vê muita gente nas ruas, aglomeradas. “Não vemos uma fiscalização, uma campanha informativa, agentes do poder público destinados a fiscalizar na favela, a orientar nos mercados e comércio.”
Outro obstáculo para manter as pessoas em casa nos bairros mais vulneráveis é a necessidade de sobrevivência do ponto de vista financeiro, lembra Lídia. “Muitas muitas pessoas se encaixam no perfil socioeconômico do auxílio emergencial do governo federal, mas não conseguem acessar o benefício. Tem muita gente sem celular e por isso não consegue iniciar o processo também. Além disso, tem celular que nem comporta o aplicativo da Caixa Econômica”, completa. O resultado são trabalhadores informais nas ruas. Nos dois bairros, é comum ver ambulantes, com pessoas vendendo quentinhas e frutas.
Em bairros da periferia, as ações solidárias como a do Ibura mais Cultura se multiplicam. Joelma Andrade, mãe de Mário Andrade, assassinado por um sargento reformado da PM, no Ibura, criou um centro comunitário com o mesmo nome do filho e tem recolhido mantimentos para distribuir cestas básicas para as pessoas mais vulneráveis durante a pandemia. Ela está preocupada com a determinação da quarentena. “Temos que sair para fazer entregas, comprar alimentos. Como ficam os coletivos que estão com essas ações no bairro?”
O secretário de Defesa Social, Antônio de Pádua, disse que essas ações solidárias podem continuar em meio à quarentena. Para isso, é importante que os participantes comprovem, de alguma forma, as atividades. Um exemplo é apresentar folders, fotos e outro materiais relativos às campanhas. Três bloqueios estão em funcionamento no estado para fiscalizar a circulação de pessoas nos cinco municípios em quarentena. Ficam em Olinda, Paulista e Jaboatão dos Guararapes. Estão em quarentena Camaragibe, São Lourenço, Jaboatão, Recife e Olinda. Juntas, essas cidades reúnem 75% dos casos.
Em nota, a Prefeitura do Recife informou que a Secretaria de Saúde realiza, todos os dias, a desinfecção de cerca de 50 espaços do Ibura e da Cohab , entre unidades de saúde, Centro de Referência de Assistência Social (Cras), escola, mercado, terminais de ônibus e vias de grande circulação.
“Cerca de 150 pessoas com suspeita ou confirmação de Covid-19 se internaram no hospital de campanha erguido na área externa da Policlínica Arnaldo Marques, no Ibura. Mais de 20 já tiveram alta dos leitos de enfermaria”, diz outro trecho da nota.
Ainda segundo a PCR, 10.489 alunos em 33 escolas nesses dois bairros recebem cestas básicas desde março. Foram quatro entregas feitas pela Secretaria de Educação, o que atingiu quase cinquenta mil famílias. A Secretaria de Direitos Humanos informou ter distribuído 2.876 cestas na Cohab e 12.730 no Ibura.
Dos 300 sobrevoos de drones já feitos na capital, 20% foram no Ibura e Cohab. Através de um aviso sonoro, os drones servem para alertar as pessoas sobre a necessidade de isolamento.
Número de casos:
Boa viagem 354
Madalena 133
Casa Amarela 124
Cohab 107
Ibura 101
Número de óbitos:
Boa viagem 24
Cohab 17
Afogados 16
Nova Descoberta 16
Vasco da Gama 12
Jardim São Paulo 12
Várzea 12
Iputinga 12
San Martin 11
Imbiribeira 11
Torrões 10
Jordão 9
Ibura 9
Areias 9
Cordeiro 9
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