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Covid-19

Bairro com mais casos no Recife, Boa Viagem tem diferentes cenários de isolamento

Publicado em: 25/05/2020 15:54 | Atualizado em: 25/05/2020 17:40

Praia de Boa Viagem praticamente vazia nesta segunda-feira (25) (Foto: Leandro de Santana/Esp. DP.)
Praia de Boa Viagem praticamente vazia nesta segunda-feira (25) (Foto: Leandro de Santana/Esp. DP.)


Desde que começou a pandemia do novo coronavírus em Pernambuco, Boa Viagem, na Zona Sul, é o bairro do Recife que mais concentra casos - tanto de infecções quanto de mortes. De acordo com o boletim da Secretaria de Saúde da capital (Sesau), divulgado no fim da noite desse domingo (24), a área acumula 528 casos graves e 50 mortes. A discrepância é tamanha que o segundo bairro com mais registros de casos - a Várzea, na Zona Oeste - tem 308 notificações a menos (220).

O Diario circulou por algumas partes do bairro na manhã desta segunda-feira (25), dia que se inicia a segunda semana da quarentena. Na maior parte das ruas, a circulação de carros e pessoas é baixa. Mas há diferenças consideráveis, de acordo com a parte visitada - reflexo do tamanho de Boa Viagem, que tem 753 hectares de área total, praticamente uma cidade dentro de outra. 

Na Avenida Boa Viagem e no Parque Dona Lindu, o movimento é praticamente zero. Alguns até insistem em furar o isolamento social, mas normalmente aparecem solitários, andando de bicicleta ou correndo a pé, utilizando máscaras. No calçadão, agentes da Polícia Militar (PM) observam e orientam o público a voltar para casa e não entrar na praia, de acesso fechado desde 4 de abril, por força de decreto estadual.

"O pessoal até dá um jeito de tentar furar o bloqueio, indo pedalar em outro lugar, mas nem é aquele movimento de antes”, afirma o encanador Marco Antônio Tenório, de 57 anos. Morador do bairro, ele acredita que a quarentena está dando resultados. “Acho que se o governo não tivesse feito isso, essa praia iria estar toda lotada e mais gente teria morrido”, opina.

Mercado de Boa Viagem: entrada só com máscara e após a aplicação de álcool nas mãos. (Foto: Leandro de Santana/Esp. DP.)
Mercado de Boa Viagem: entrada só com máscara e após a aplicação de álcool nas mãos. (Foto: Leandro de Santana/Esp. DP.)


No Mercado de Boa Viagem, a movimentação era moderada. Na porta, uma funcionária coloca álcool 70% na mão de quem entra. O acesso só é permitido com o uso de máscara - sem ela, entrada barrada. Só vai quem realmente precisa, como o empresário Edmundo Soares, 60: "Quando se precisa sair, não tem jeito. O isolamento social está sendo respeitado na medida do possível. Creio que quem pôde ficar em casa, ficou".

Movimento mais intenso foi visto na Avenida Armindo Moura, perto da Vila Militar. Na Pracinha de Boa Viagem, se vê uma grande quantidade de pessoas em situação de rua aglomeradas - ainda mais vulneráveis nessa época de pandemia. Já na comunidade de Entra Apulso, lojas de comércio não essencial - como as de produto para cabelo e de acessórios para celular - estavam abertas.

Perfil
"A gente já esperava que a pandemia chegasse por bairros de nível socioeconômico maior. E os dois primeiros casos confirmados foram justamente em Boa Viagem. A partir do momento que se consolida a transmissão comunitária do vírus, diversos fatores interferem para esse aumento de casos", conta a diretora de Vigilância à Saúde do Recife, Joanna Freire.

Algumas aglomerações ainda são vistas pela Entra Apulso. (Foto: Leandro de Santana/Esp. DP.)
Algumas aglomerações ainda são vistas pela Entra Apulso. (Foto: Leandro de Santana/Esp. DP.)


Ainda há dificuldade em fazer cumprir o isolamento em comunidades, segundo Joanna. “E o que o poder público faz nesses casos? Investe em ações mitigadoras dos efeitos das desigualdades sociais, como distribuição de cestas básicas e kits de higiene, usa carros de som ou drones para passar mensagens educativas”, acrescenta. 

O tenente-coronel Alano José César de Araújo, comandante do 16º Batalhão da PM, aponta para as diferenças de descumprimento que se nota pelo bairro, a depender da condição social. “Em comunidades, como Entra Apulso, a gente encontra muita roda de dominó, grupo de pessoas bebendo ou lojas abertas. Já em outras partes, como Setúbal, a gente nota muita gente praticando atividade física ou saindo para passear com cachorro", discorre.

No entanto, o tenente-coronel acredita que a conscientização da população cresceu ao longo da semana passada - a primeira da quarentena. "O próprio índice de isolamento do Recife (62%, segundo a prefeitura) prova. E o número de pessoas que tivemos que orientar a retornar para casa vem diminuindo", pontua.
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