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Profissionais do sexo em condições mais vulneráveis amargam baixa na procura por programas

Publicado em: 03/04/2020 14:52

 (Foto: Alan Torres/arquivo DP)
Foto: Alan Torres/arquivo DP
Em tempos de recolhimento e encontros adiados, o mercado do sexo também pede socorro. E quando se fala na parcela mais vulnerável dessa categoria profissional,  a fome bate à porta. Emanuela, 29 anos, travesti, precisa se alimentar e pagar o quarto onde mora, na Ilha Joana Bezerra. O espaço custa R$ 200, mas ela não sabe como fazer porque os negócios estão parados. Dependente dos clientes captados nas ruas do Recife, Emanuela se recolheu porque o movimento praticamente acabou.

“Nenhuma de nós tá descendo para a rua. Nem as mulheres cis. O movimento tá fraco. Se tivesse cliente, eu iria. Preciso. Agora uma tia está me ajudando. O almoço, pego todo dia, no Centro do Recife, de graça”, diz Emanuela. Ela conta estar na prostituição desde os 16 anos. Apesar de ter terminado o Ensino Médio, nunca conseguiu emprego em outra área. “Quando mostro o currículo com meu nome masculino e minha aparência feminina, ninguém quer contratar”, lamenta. A realidade de Emanuela é a mesma da maioria das travestis. Sem oportunidade no mercado formal, partem para o mercado do sexo.

Valéria, 31, mulher cis, faz programas desde os 15 anos e nunca tinha amargado tamanha queda no movimento. Todos os clientes dela são idosos, faixa etária considerada de risco para a doença. “Na verdade, eles estão com medo da insegurança nas ruas vazias, não é nem da doença. A gente sempre marca em estação de metrô ou BRT, na cidade, mas eles estão com medo de assalto. Por mim eu vou. Doença a gente pega até em casa”, conta Valéria, cujo perfil no Whats’App mostra um coração com as palavras “fique em casa”.

Valéria, que também é camareira, não costuma fazer sexo virtual, solução encontrada por algumas profissionais do sexo com mais acesso a recursos tecnológicos. Diz que não domina essa prática. Prefere os encontros ao vivo. Diante da baixa, ela diz que os clientes têm depositado valores para ela na conta. Isso ajuda Valéria a seguir no enfrentamento da crise. A mesma solução foi adotada por alguns patrões para ajudar as trabalhadoras domésticas.

No Recife, as saunas, redutos de garotos de programa, também fecharam as portas. Um proprietário de uma dessas casas, que pediu para não ser identificado, disse que a pandemia obrigou todo mundo a ir para casa. “Estão todos afastados. Férias coletivas”, resume.

Émerson Paulo da Silva, 23, trabalha como garoto de programa em uma dessas saunas fechadas. “A previsão era abrir no dia primeiro, mas estão vendo ainda por causa desse vírus. Por enquanto não tem uma aberta”, conta. Émerson está recebendo ajuda de uma amiga, considerada uma mãe para ele. “Sempre tem quem ajude”, diz. O site mantido por ele para marcar encontros também foi suspenso. “A maioria dos clientes do site viaja e eu não tenho segurança para isso agora.”

A representante da Associação Pernambucana das Profissionais do Sexo, Vânia Rezende, reforça que boates e pensões não estão funcionando. Algumas mulheres, diz ela, se arriscam ainda porque são autônomas e precisam trabalhar. “A associação faz parte da Rede Brasileira de Prostitutas, que está vendo como ajudar as filiadas. Mas tudo está muito lento. A situação é difícil. Pegou a sociedade de surpresa”, pontua Vânia.

Uma das orientações da associação é para as mulheres tentarem o sexo virtual ou mesmo o pagamento antecipado dos programas para serem compensados após a pandemia. “Mas algumas delas, das praças do Diario e da Joaquim Nabuco, por exemplo, não têm sequer celular.” A rede brasileira está em busca de um apoio internacional para ajudar as profissionais do sexo, diz Vânia.

Uma ajuda emergencial também foi apresentada pela direção da Articulação e Movimento para Travestis e Transexuais de Pernambuco (Amotrans). “Já distribuímos 30 cestas básicas a travestis e transexuais em horário pré-agendados, para evitar aglomeração. Fizemos, também, o cadastro dessas pessoas por três meses. A gente está preocupada com a população LGBT porque o índice de suicídio pode aumentar com o isolamento social. Isso porque são pessoas que ficam trancadas em casa, sem apoio da família e isso é um impacto grande”, explica Chopelly Santos Pereira, da Amotrans.

Quem quiser contribuir com as cestas básicas da Amotrans, pode encaminhar os alimentos para a Rua Sete de Setembro, Edifício Mandacaru, 105, entre as 9h e 12h, na sobreloja 4. Para receber as cestas, Chopely orienta se comunicar através do 98774.1838, no mesmo horário. A Amotrans também posta informações no Instagram @amotrans_pe.

A assessoria de imprensa da Secretaria Estadual da Mulher informou que o Comitê Interinstitucional Pró-Profissionais do Sexo está tentando uma ação para ajudar as profissionais do sexo, mas ainda não há nada formalizado.

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