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Covid-19

Pescadores de Tamandaré se reinventam no comércio online para sobreviver à pandemia

Publicado em: 09/04/2020 15:40 | Atualizado em: 09/04/2020 22:35

Sucesso do comércio virtual fez zerar estoque guardado na Colônia Z5. (Foto: Peu Ricardo/DP.)
Sucesso do comércio virtual fez zerar estoque guardado na Colônia Z5. (Foto: Peu Ricardo/DP.)

A pandemia do novo coronavírus afetou a realidade de Tamandaré, um dos principais destinos turísticos de Pernambuco, localizado na Mata Sul. A economia da cidade vive basicamente da pesca e do turismo, diretamente afetados com as medidas restritivas sanitárias. Para diminuir os impactos do fechamento de bares, restaurantes e hotéis - principais clientes da colônia de pescadores -, foi articulada uma venda direta entre o pescador e o morador do município, através de avisos no WhatsApp. 

A iniciativa foi concebida pela Prefeitura de Tamandaré com a Colônia de Pescadores Z5, e tem garantido uma Semana Santa mais tranquila. A reportagem visitou a colônia, que conta com cerca de 300 associados, na manhã dessa quarta-feira (8). A venda direta deu tão certo que zerou a pesca que estava acumulada nos freezeres. “A coisa se espalhou tanto que teve gente do Recife procurando a gente para comprar e eu tive que explicar que é só para a comunidade”, conta o presidente da colônia Z5, Severino Ramos dos Santos. 

Os pescadores enfrentaram um drama no segundo semestre de 2019 - a crise do petróleo cru, que poluiu mais de 100 praias nordestinas, que espantou a clientela. “A gente mal tinha superado o problema do óleo e aí veio essa outra bomba (coronavírus) para cima de todos nós. Agora isso tem dado uma alternativa para a gente lidar com o problema. Vou ser direto: está bom? Não. Está ruim? Também não. Estamos sobrevivendo”, aponta Severino, conhecido popularmente como Selado.

A proximidade do feriadão santo já fazia crescer o volume de vendas. Desta vez, o fluxo garante a comida no prato. A imprevisibilidade da pandemia traz angústia. “Vamos orar para que tudo dê certo. Imagina se aparece um caso em Tamandaré? Acabou a cidade”, opina o líder da Z5.

Segundo o secretário-executivo de Meio Ambiente de Tamandaré, Manoel Pedrosa, a medida ajuda a evitar o colapso econômico da cidade: “Toda aquela cadeia produtiva do turismo foi sendo quebrada. Tínhamos que buscar alternativas para minimizar esses impactos”. A meta agora é firmar parceria para que costureiras da cidade possam produzir máscaras. “Estamos tentando junto a UFPE e a Fundação Toyota do Brasil. Assim a gente consegue pagar as costureiras e dar assistência ao pessoal que está na ponta da pandemia”, completa.
Movimentação nas ruas de Tamandaré era praticamente zero, até no centro da cidade. (Foto: Peu Ricardo/DP.)
Movimentação nas ruas de Tamandaré era praticamente zero, até no centro da cidade. (Foto: Peu Ricardo/DP.)

A venda por WhatsApp foi uma das recomendações da Secretaria de Desenvolvimento Agrário de Pernambuco. O secretário da pasta, Dilson Peixoto, afirma que o estado vem acompanhando a situação dos pescadores. “O estado já paga o (programa) Chapéu de Palha. Agora estamos trabalhando junto às colônias o cadastro desse pessoal no Auxílio Emergencial do governo federal. Nossos técnicos do Instituto Agronômico de Pernambuco (IPA) estão em contato constante com as colônias, para ajudar no que for preciso”, diz.

Além de dar tempo para o estado pensar em outras alternativas de apoio, o auxílio federal pode beneficiar quem trabalha com mar mas não têm o Registro Geral de Pesca (RGP), que deixou de fazer novos cadastros em 2013. “Na época do auxílio do óleo, muitas marisqueiras ficaram prejudicadas”, exemplifica. 

Cidade parada
Até essa quarta (8), Tamandaré não tinha registrado nenhum caso confirmado da covid-19. O Diario circulou pela cidade e encontrou um cenário diferente do testemunhado em cidades da Região Metropolitana do Recife ao longo da semana. A lotérica localizada na Avenida Doutor Leopoldino Lins, as pessoas procuravam ficar distantes umas das outras na fila, mesmo com o sol forte do meio-dia. Tal como rege o decreto estadual, o comércio não essencial estava fechado. 

A circulação de pessoas praticamente era ínfima, até mesmo no centro. Praias famosas como a de Carneiros e a de Boca da Barra estavam vazias, nem de longe lembrando a badalação de tempos comuns. Um dos acessos públicos à Carneiros foi fechado pela prefeitura. Em outra via de acesso ao município, foram instaladas barreiras sanitárias para auxiliar as ações de monitoramento. 

“Em Carneiros, só está funcionando ainda os trabalhos de manutenção”, conta o supervisor de receptivos de turistas Adriano Soares, de 29 anos. “Já tive que cancelar planos de TV e celular. Na atividade comum eu tinha comissão, hora extra, que aumentava a renda. Agora só o salário, que não dá conta disso tudo”, lamenta.
Praia da Boca da Barra, em Tamandaré, praticamente vazia. (Foto: Peu Ricardo/DP.)
Praia da Boca da Barra, em Tamandaré, praticamente vazia. (Foto: Peu Ricardo/DP.)

A Prefeitura de Tamandaré explica que adotou todas as medidas restritivas do governo do estado e do Ministério da Saúde, “adaptadas à realidade do município, com toda cautela e responsabilidade que o momento exige”. “Além disso, ambulantes cadastrados, mototaxistas, barqueiros, feirantes e recicladores têm recebido cestas básicas. Pais de alunos também recebem kits de alimentação escolares. Nesse primeiro momento, as ações beneficiam 8.500 famílias”, diz a nota.

“As praias têm sido monitoradas. Turistas têm evitado fazer visitas à cidade - mesmo aqueles que possuem moradias próprias, e que antes aproveitavam para passar o final de semana na cidade. Sem turistas, os hotéis, pousadas e restaurantes cumprem as determinações e se mantêm fechados”, pontua o município, em nota.
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