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Coronavírus

Grávidas enfrentam medo e incertezas

Obstetra alerta que gestantes não devem antecipar parto

Publicado: 06/04/2020 às 21:52

/Arquivo pessoal/cortesia

/Arquivo pessoal/cortesia

 

 

A notícia sobre a morte de uma gestante com diagnóstico de coronavírus em Pernambuco no último final de semana gerou tensão e inquietude entre as grávidas do estado. Ontem, em alguns grupos de WhatsApp organizados por clínicas especializadas, como a Obstare, o assunto foi evitado como espécie de blindagem emocional, mas os médicos passaram o dia respondendo a novas dúvidas das pacientes e pregando a calma para evitar pedidos de antecipação de partos cesáreas. “Todas ficaram muito abaladas, mas a mortalidade no geral é pequena se comparada a dos idosos”, diz o obstetra Thiago Saraiva. “Muitos estão querendo antecipar o parto. Meu pensamento é que não se deve antecipar e fica a cargo do profissional tirar o medo da mulher”, afirma Saraiva.

 

Grávidas isoladas em casa com o companheiro ou poucos familiares revelaram como estão enfrentando a ansiedade que já sentiam e foi acentuada. "À espera de um garoto e com parto com data aproximada para a próxima sexta-feira, quando completará quarenta semanas de gestação, Camila Soares, 30 anos, diz que chegou a cogitar um parto domiciliar, mas considerou que não seria viável em virtude dos riscos gerados para eventuais complicações de um parto normal sem a estrutura hospitalar. Ela acredita que em outros países a prática conta com socorro em poucos minutos, o que não acontece na estrutura brasileira. Além do mais, Camila diz que está confiante com a escolha da equipe da Obstare, que não trabalha com parto domiciliar, e ela não pretendia trocar de equipe. “Sabemos que esse não é um monumento bom para estar em hospitais, visto ser o local de maior chance de contrair o vírus, porém entendi que é necessário para o nascimento”, afirmou.

 

Ela e o marido estão confinados em casa e já acordaram as providências a serem tomadas quando as contrações chegarem. “Sairemos apenas na fase ativa e final do trabalho de parto para evitar passarmos muito tempo no hospital”, afirma. Além disso, já avisou aos avós que visitas serão evitadas e eles conhecerão o neto por videochamada, por segurança. Camila terá o bebê em um hospital da rede particular do Recife. As medidas tomadas pela unidade, que incluem a reserva de um andar apenas para maternidade e redução do fluxo de profissionais deste setor, acabaram por lhe acalmar mais nesta espera.

 

    Mas não só as gestantes do terceiro trimestre enfrentam temores. Amália Uchôa, 32 anos, está no segundo trimestre, grávida de Helena. Ontem, relatou sua tristeza quanto à morte da fisioterapeuta vitimada pelo coronavírus e falou do impacto que a notícia lhe causou: “Aumentou a preocupação que já tínhamos. É um medo, uma vontade de ficar em casa, uma sensação de impotência mesmo e até uma revolta por não sermos consideradas do grupo de risco”, disse ela, isolada 100% há 21 dias com o marido. Noemy Silva, gestante com 25 semanas, também conta que aumentou sua insegurança. “Está todo mundo tenso porque os estudos são poucos”, lembra. 

 

O Ministério da Saúde decidiu no final da semana passada que puérperas - mulheres com até 42 dias após o parto - e gestantes com comorbidades passaram a ser consideradas grupo de risco e devem ser afastadas de seus trabalhos. São grávidas com hipertensão, asma, diabetes e trombofilia. De maneira mais ampla, no entanto, continua valendo o entendimento da nota técnica do Ministério da Saúde publicada no dia 25 de março, segundo a qual “o quadro clínico observado em gestantes com a SARS-CoV-2 é semelhante ao observado em adultos não gestantes, bem como taxas de complicações e de evolução para casos graves (aproximadamente 5% dos casos confirmados)”. Assim, o protocolo é semelhante ao dado à população adulta . 

 

 Apenas diante de um quadro de Covid-19 em forma grave, com febre superior a 38°C e um ou mais dos seguintes sintomas - tosse, dificuldade grande de respirar, dores de garganta e sintomas gastrointestinais nos últimos sete dias -, os cuidados são especiais e deve-se procurar ajuda de forma mais regulada, conforme mostra gráfico acima. Um protocolo de atendimento tem sido seguido pelas autoridades. Não havendo sintomas, a gestante deve manter a rotina do pré-natal. 

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