Diario de Pernambuco
Busca

CONTÁGIO

Com 13 casos de Covid-19, população de Abreu e Lima ainda se aglomera

Publicado em: 13/04/2020 19:44 | Atualizado em: 13/04/2020 19:45

Apesar de parte do comércio fechado, movimentação ainda era grande no centro de Abreu e Lima (Foto: Bruna Costa / Esp. DP Foto)
Apesar de parte do comércio fechado, movimentação ainda era grande no centro de Abreu e Lima (Foto: Bruna Costa / Esp. DP Foto)
Na tarde desta segunda-feira (13), Abreu e Lima, no Grande Recife, estava com uma grande quantidade de pessoas circulando pela Avenida Duque de Caxias, a principal do município. As aglomerações ocorriam, em sua maioria, em frente às agências bancárias e na casa lotérica localizada na via. Algumas delas usando máscaras. Com 13 casos confirmados de Covid-19, de acordo com o boletim da Secretaria Estadual de Saúde da segunda, a preocupação não parece ter chegado com muita força na cidade. 

Em frente à agência da Caixa Econômica Federal (CEF) da via, havia uma fila, de pelo menos 15 pessoas, seguindo pelo estacionamento e chegando até a calçada. Um funcionário da agência tentava controlar a distância entre as pessoas, mas sem muito sucesso. Alguns foram à agência para ver o andamento do processo para receber o auxílio emergencial do governo federal, de R$ 600.  Foi o caso do motorista de caminhão Leonardo Gonçalves, 43 anos. “Eu sou morador de Igarassu. É a primeira vez que venho nessa agência. Precisei resolver outra coisa aqui no centro, aí aproveitei para vir aqui e ver como anda a situação do meu auxílio”, afirmou.

Leonardo disse que estava sem emprego no momento, e a crise do coronavírus agravou sua situação. “Eu estava fazendo um curso Mopp, de movimentação de cargas perigosas. Comecei no fim de fevereiro e faltavam só 5 dias para acabar o curso quando fechou tudo”, contou. Sobre a doença, o autônomo afirma não concordar com o isolamento. “Acho que tem que abrir o comércio, tudo funcionar. Você tá vendo essa fila, né? Aqui não pega coronavírus? Só no trabalho que pega?”, questionou.
 
Distância de 1 metro não era respeitada na fila da Caixa, apesar das tentativas de organização (Foto: Bruna Costa / Esp. DP Foto)
Distância de 1 metro não era respeitada na fila da Caixa, apesar das tentativas de organização (Foto: Bruna Costa / Esp. DP Foto)
 

O auxiliar de manutenção Josivaldo Rodrigues, 54 anos, também estava na fila para saber sobre a ajuda do governo. “Eu tenho conta aqui na Caixa, mas recebi no meu celular uma mensagem dizendo que era do Banco do Brasil (BB), com um link. Eu quase cliquei, mas como não tenho conta no BB, imaginei que era golpe”, afirmou.

“Minha filha fez minha inscrição no site para pegar o auxílio. Todo dia eu olho e diz que está em análise. Eu moro em Paulista. Vim aqui no banco porque estou precisando desse dinheiro. Estou desempregado”, contou Josivaldo. “Não tem como trabalhar, também, porque eu era funcionário de um restaurante que teve que fechar por conta do coronavírus, aí estou esperando receber esse dinheiro do governo para ter pelo menos uma ajuda”, justificou.

Em frente à agência, está a barraca de José Marcos Santana, 52 anos. Há sete anos ele vende lanches para os clientes da Caixa e que vão à agência do Banco do Brasil localizada exatamente ao lado da da CEF. Santana falou que está abrindo todos os dias, mesmo com a proibição de comércio na cidade por parte da prefeitura. “Eu acho que tem que todo mundo se cuidar com esse coronavírus. Manter distância, estar sempre alerta, ficar com as mãos limpas”, afirmou.

Ele relatou que funcionários da CEF e do BB em frente ao seu comércio tentam controlar as aglomerações nas filas, mas a população não colabora. “O pessoal dos banco vem, reclama, aí saem de perto um do outro. Mas não demora muito para aglomerar de novo”, contou. “O auxílio de R$ 600 é muito pouco e devia ter saído há mais tempo. O desemprego já tava batendo na porta antes do vírus, agora a situação só fez piorar”, continuou o comerciante.

Na casa lotérica localizada na mesma via, os responsáveis pelo estabelecimento pintaram bolas brancas na calçada, para demarcar a distância entre as pessoas na fila. À tarde, a movimentação era grande. Poucas pessoas quiseram falar com a reportagem. Foi o caso do segurança Israel Nascimento, 46 anos, morador do bairro de Caetés I. Ele disse que foi à casa lotérica para verificar a situação do Bolsa Família da esposa, que é beneficiária.

“Eu mal tenho saído da minha casa. Vim agora tentar resolver isso do Bolsa Família. Eu acho que as pessoas aqui em Abreu e Lima não têm muito medo do coronavírus, não. Pessoal sempre fica na rua, conversando”, afirmou Nascimento, que mora com a esposa, de 40 anos, e duas filhas, de 15 e 14 anos. 
 
Casa Lotéria pintou bolas na calçada para demarcar posição das pessoas na fila (Foto: Bruna Costa / Esp. DP Foto)
Casa Lotéria pintou bolas na calçada para demarcar posição das pessoas na fila (Foto: Bruna Costa / Esp. DP Foto)
 

Circulando pela avenida principal do município, a reportagem flagrou lanchonetes, lojas de cosméticos e lojas de calçado abertas. Na Praça Antônio Vitalino, em frente a um supermercado de uma grande rede, os feirantes ocupavam boa parte do espaço. Um ponto de mototáxi também funcionava normalmente durante a tarde.

A exemplo do Recife - que proibiu o acesso a seus parques e praias -, na manhã desta segunda, a Prefeitura de Abreu e Lima cercou a Praça São José, a mais movimentada da cidade. "Cercamos a praça para impedir a aglomeração de pessoas, pois o espaço é muito frequentado por idosos e crianças. Mas é preciso que a população faça a sua parte e mantenha o isolamento social”, disse, por meio de nota, a secretária municipal Cristiane Moneta, coordenadora do Comitê de Enfrentamento ao Coronavírus de Abreu e Lima.
 
 (A feira na Praça Antônio Vitalino funcionava com bastante gente circulando)
A feira na Praça Antônio Vitalino funcionava com bastante gente circulando
 

A gestão municipal afirma que está fazendo rondas pela cidade para evitar que as pessoas corram mais riscos de contágio. “A Equipe Multidisciplinar da Prefeitura de Abreu e Lima intensificou a fiscalização educativa nos bairros da cidade para evitar que a população fique nas ruas e para que os estabelecimentos cumpram as determinações, de acordo com Decreto Municipal. As rondas são feitas, diariamente, pela manhã e à noite”, afirma outra nota da gestão.

“A equipe é composta pelas secretarias municipais de Planejamento e Gestão, Saúde, Ação Social, além da Vigilância Sanitária, com apoio da Polícia Militar e do Ministério Público, que também está engajado na prevenção e dando o suporte necessário, inclusive notificando os estabelecimentos irregulares”, continua o texto. A gestão do prefeito Pastor Marcos José (PSB) diz que as rondas estão sendo feitas desde o dia 18 de março. A prefeitura de Abreu e Lima também disse que ainda não está sendo cogitada a construção de um hospital de campanha pelo município, para atender os doentes de Covid-19. 

Os comentários abaixo não representam a opinião do jornal Diario de Pernambuco; a responsabilidade é do autor da mensagem.
MAIS NOTÍCIAS DO CANAL