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Covid-19

Após decreto, praia de Boa Viagem e parques do Recife amanhecem vazios

Publicado em: 05/04/2020 16:11

Praia de Boa Viagem após decreto de fechamento de parques públicos. (Foto: Leandro de Santana/DP Foto)
Praia de Boa Viagem após decreto de fechamento de parques públicos. (Foto: Leandro de Santana/DP Foto)

Após um final de semana movimentado na Praia de Boa Viagem nos dias 28 e 29 de março, a beira-mar Zona Sul do Recife se esvaziou de banhistas neste domingo (5). O cenário é resultado de um decreto da Prefeitura do Recife em conjunto com o Governo de Pernambuco, divulgado na última sexta para fechar Parques Municipais durante o final de semana. No calçadão, no entanto, foi possível ver pessoas correndo, caminhando, pedalando e praticando outros exercícios físicos, geralmente mantendo as distâncias recomendadas pelas autoridades da saúde. Houve até quem decidiu curtir a praia sentado nos bancos de cimento da orla.

Quem se arriscava a pisar na areia, era orientado a se retirar pela fiscalização da Guarda Civil Municipal em conjunto com a Polícia Militar. A Companhia de Trânsito e Transporte Urbano também participou da ação, sinalizando as 543 vagas fechadas na faixa litorânea urbana. No Recife, a ação de fechamento se estendeu a mais 11 espaços considerados parques: 13 de Maio, Jaqueira, Santana, Arnaldo Assunção, Robert Kennedy, Apipucos, Caiara, Arraia do Forte Novo do Bom Jesus, Dona Lindu, Macaxeira e Sítio Trindade.

CTTU isolou vagas de estacionamento em toda a orla. (Foto: Leandro de Santana/DP Foto)
CTTU isolou vagas de estacionamento em toda a orla. (Foto: Leandro de Santana/DP Foto)
Ailson Alves da Silva, 55, mora em Boa Viagem há 30 anos e revela que nunca viu a areia tão vazia. "Eu costumo caminhar 30 minutos por dia, como estou fazendo agora. Costumava praticar na areia, mas agora estou no calçadão como tantas outras pessoas. Entendo o problema da aglomeração, mas não compreendo a proibição de pisar na areia", comenta o aposentado. "Mas temos que acatar a lei. A lei é para ser cumprida. Só lamento a situação dos donos das barracas, que estão sem ganha pão", acrescenta. 

O professor Ricardo Simão, 49, mora próximo da Avenida Visconde De Jequitinhonha, e aproveitou a manhã para se exercitar. "A academia está fechada, mas não podemos ficar parados. Acredito também que dê para curtir a praia sem aglomerações, mas se os infectologistas estão pedindo para evitar a praia, acredito que não seja por acaso. Ainda bem que tudo em Boa Viagem está parado. Vemos menos carros nas ruas e poucas pessoas nas calçadas".

Bombeiros também auxiliaram na retirada de banhistas. (Foto: Leandro de Santana/DP Foto)
Bombeiros também auxiliaram na retirada de banhistas. (Foto: Leandro de Santana/DP Foto)
A empregada doméstica Maria Aparecida, 55, é moradora da comunidade do Entra Apulso, próxima do Shopping Recife. "Essa é uma situação que todo mundo deve ter consciência, pelo nosso bem. Não precisamos ir para a areia. Vi mais cedo um tumulto de 10 policiais para tirar apenas uma pessoa. Todos estão vendo na TV que não pode entrar na praia nem nos parques", diz. Maria foi à praia para relaxar após dias de isolamento social. "Lá perto de casa não tem ninguém nas ruas, pois o comércio era bastante ligado aos funcionários do shopping, que está fechado. Ninguém aguenta ficar só em casa. No domingo eu sempre venho para cá, nem que seja apenas para olhar o mar", acrescenta.

Silvia Pereira, 47, mora em Santo Amaro, e foi à praia com o marido Adeildo, 35, e a filha Tamires, 6. Eles ficaram sentados no banco de cimento da orla, bebendo vinho enquanto ouviam músicas em um caixa de som de bluetooth. Silvia estava bastante aborrecida, pois chegou na praia de 7h e não pôde pisar na areia. “Tinha mais gente sendo retirada no começo da manhã. Não insistimos em ficar. Fazer o que, né? Acho muito triste, porque não dá para proibir uma natureza de Deus ao povo. Ao mesmo tempo, existe o risco em qualquer lugar, né?. Eu vejo muita gente usando máscara, mas a partir do momento que estou aqui sentada eu já posso contrair o vírus”, complementa a doméstica, que afirmou que não foi dispensada pelos patrões após o início da pandemia. O marido faz bicos como eletricista, mas atualmente não tem achado serviços.

Entrada do Parque da Jaqueira. (Foto: Leandro de Santana/DP Foto)
Entrada do Parque da Jaqueira. (Foto: Leandro de Santana/DP Foto)
O Parque da Jaqueira, principal parque público da Zona Norte do Recife, amanheceu com os portões principais trancados com cadeado. Os guardas municipais permaneceram na guarita, observando o movimento externo e interno ao parque. O empresário Rodrigo Fernandes, 56, mora no bairro da Jaqueira e decidiu caminhar em volta do parque. “Eu costumo usar a pista de cooper do parque, mas agora estou improvisando por aqui. Gosto dessa área porque é bastante arborizada. Eu lamento o fechamento do parque, mas penso em famílias que podem vir para cá com crianças, por exemplo, porque ainda falta informação da sociedade e existe muito desinformação nas redes. Mas espero que isso passe logo”.

Valeria Maria, 55, trabalha em uma barraca de quitanda próxima da entrada do Parque da Jaqueira há 19 anos. O espaço costumava contar com a presença do marido, que está em casa pois tem hipertensão. “De segunda a sexta estava uma loucura de gente, não sei o que deu nas pessoas. Tinha aglomeração, sim. Desde o decreto, realmente caiu o número de pessoas. Isso faz falta para nós, que somos comerciantes. Tenho uma mãe de 84 anos e meu marido é doente, está se estressando em casa porque estou vindo para cá. Infelizmente tenho que vim”, desabafa a comerciante, que se equipou com álcool em gel na barraca. “Sei que o parque fechou por algo muito fora do normal, mas se é pelo bem temos que aceitar. Ao mesmo tempo, deve existir vários espaços públicos lotados por aí hoje”.

Parque da Jaqueira. (Foto: Leandro de Santana/DP Foto)
Parque da Jaqueira. (Foto: Leandro de Santana/DP Foto)
Além do decreto que fechou os parques, a Prefeitura do Recife informou na última sexta-feira que que as aulas da rede municipal, os equipamentos públicos não essenciais, shoppings e comércio em geral, com exceção dos estabelecimentos considerados essenciais ao enfrentamento da emergência em saúde pública e ao abastecimento das famílias permanecem fechados por tempo indeterminado. A administração reiterou a importância da manutenção do isolamento social neste momento de aumento de casos da Covid-19 em Pernambuco. Em boletim divulgado neste domingo (5), a Secretaria de Saúde confirmou mais  25 casos de coronavírus em Pernambuco, subindo para 201 as ocorrências da doença no estado.  Em relação aos óbitos, foram confirmados mais 7, totalizando 21.
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