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Vida Urbana
ANIVERSÁRIO NA PANDEMIA

Aniversário sem beijos ou abraços, mas com muito carinho

Publicado: 12/04/2020 às 14:13

Dona Maria de Lourdes Paiva, 96, ficou da sacada recebendo carinho de filhos, netos e bisnetos/Foto: Peu Ricardo / DP Foto

Dona Maria de Lourdes Paiva, 96, ficou da sacada recebendo carinho de filhos, netos e bisnetos/Foto: Peu Ricardo / DP Foto

Para uma pessoa 96 anos de idade, poucas são as coisas do mundo ainda desconhecidas, menos ainda as palavras do próprio idioma que não tenham sido escutadas ou vivenciadas, de alguma forma. Para dona Maria de Lourdes Paiva, entretanto, a que mais faz parte do vocabulário de bilhões de pessoas em todo o mundo, atualmente, ainda era inédita: pandemia. Embora lúcida, foi difícil para ela entender o significado deste vocábulo que fez com que, no dia do seu aniversário, parte da sua família estivesse tão perto e tão longe, ao mesmo tempo. Na sacada do primeiro andar da sua casa do bairro do Engenho do Meio, no Recife, dona Lourdinha viu filhos, netos e bisnetos cantarem, da calçada, o parabéns para você. A felicidade da presença dos seus entes queridos rivalizava com a tristeza por não poder fazer o que já era tradicional em todos estes anos: estreitá-los em um abraço.

À pergunta dos familiares “a senhora pensava que não iria ter festa?”, dona Lourdinha respondia: “Pensava, sim. E eu amo vocês”, pedindo, insistentemente, para chegar mais perto. “Me levem. Quero descer agora”, solicitava a matriarca de uma família de 90 descendentes entre nove filhos, netos, bisnetos e tataranetos. Ao seu lado, as filhas Deise e Célia, o genro Manoel e a neta Marcelly ofereciam os afagos que os outros não podiam dar. A comemoração foi organizada por um de seus mais de 20 netos, a administradora Juliane Azevedo, 34. A ideia surgiu na véspera do aniversário da avó. “Conversando no grupo dos primos, no whatsapp, tivemos a ideia. A gente sempre celebra, todos os anos, o aniversário dela e não poderíamos deixar passar em branco, desta vez. O bom é podermos comemorar, apesar de tudo”, afirma.

Outra das netas presentes, a dentista Priscila Albuquerque, 43, afirmou que dona Lourdes é a rainha família. “Hoje, domingo de páscoa e aniversário dela seria um dia de estarmos reunidos, comemorando duplamente. Ela ama festas, estar com todos e é uma pessoa muito querida no bairro. Então, esta foi a forma que encontramos de demonstrar o amor e carinho que sentimos por ela, até porque ainda não sabemos por quantos anos ainda a teremos ao nosso lado”, afirma. O advogado Alexandre Albuquerque, 46, também neto, levou, antes dos parabéns, outro mimo para a avó. “Ela é viciada em coxinha, então, fui mais cedo à casa dela e deixei o salgado que ela tanto gosta. Achei que amenizaria a dor pelo fato de ela não poder nos abraçar”, relata.

Valéria Albuquerque, psicóloga, 50, é a penúltima dos nove filhos e também estava na calçada, admirando a mãe. “Mesmo em uma época tão tenebrosa como esta, é um privilégio poder comemorar, mesmo à distância, o fato de ela completar 96 anos de idade, além de saber que toda a família tem consciência de que esta, além da oração, é a melhor forma de a gente conter essa situação e contribuir para que isto passe sem nenhuma frustração”, conclui.
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