COVID-19

Coronavírus: grávidas não são grupo de risco

Publicado em: 16/03/2020 20:50

 (Foto: Jaqueline Maia/Arquivo DP)
Foto: Jaqueline Maia/Arquivo DP
“O medo do vírus, sua propagação e suas possíveis consequências para meu bebê e familiares tem afetado a minha gravidez”, diz a professora Isabela Falcão. Grávida de quatro meses, ela vê a rotina mudar para manter a si e ao seu filho protegidos do coronavírus, o COVID-19. Considerada pandemia pela Organização Mundial da Saúde (OMS), em Londres foi registrado o primeiro caso de um recém-nascido contaminado com o vírus. A criança teria adquirido a doença de sua mãe, que teve resultado positivo somente após o parto, mas foi considerada fora de perigo no último domingo (15). De acordo com boletim divulgado ontem pela Secretaria de Saúde do Estado, Pernambuco alcançou o número de 18 casos confirmados e 81 pacientes em investigação, sendo 3 destes prováveis infectados 

“Além da quarentena indicada para quem pode não sair de casa, estou lavando as mãos por pelo menos 30 segundos, limpando a casa com água sanitária e álcool. Ontem, por exemplo, tinha consulta, optei por não ir para evitar o contato desnecessário nas ruas”, comenta a professora. “A escola onde eu trabalho fechou, isto me deixou um pouco mais tranquila. Tendo em vista que, além de não podermos faltar as aulas, lidar com crianças todos os dias aumenta os riscos de contaminação tanto para mim e minha família, quanto para elas e suas famílias.” 
A professora Isabela Falcão, grávida de 4 meses, evita deixar a casa  (Foto: Cortesia / Whatsapp)
A professora Isabela Falcão, grávida de 4 meses, evita deixar a casa (Foto: Cortesia / Whatsapp)

A inquietação de Isabela também é a da analista de suprimentos Alice Santiago, que enfrenta uma gravidez a cinco meses. “Felizmente consegui no emprego liberação para trabalhar de home office, mas meu marido ainda precisa viajar a trabalho, o que nos deixa preocupados”, comenta. “Tenho focado mais na minha saúde física e mental, tentando aumentar a imunidade e, se precisar sair de casa para algum exame, tomo mais cuidado com a higiene pessoal.” 

O novo cenário faz pensar em novas alternativas. “O parto em casa não era uma opção antes, mas diante de tudo isso, estamos cogitando a possibilidade de evitar sair. Sempre quis parto normal, mas no hospital, me sentia mais segura. Agora não sei mais”, diz Alice. “Estou tentando focar para que corra tudo bem na gestação para ter um parto mais saudável possível, principalmente se tiver que ser em casa. Acho importante também não deixar o medo tomar conta.” 

O obstetra Thiago Saraiva, que atua no Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco e no Centro Integrado de Saúde Amaury de Medeiros da Universidade de Pernambuco (CISAM-UPE), recebeu tantas mensagens e ligações de grávidas aflitas com a proliferação do coronavírus que preparou um material informativo de 10 páginas. “Acredito que a comunicação acalma”, explica o médico. “Segundo estudos prévios, até o momento não temos porque estimular tratamentos preventivos diferentes para grávidas. As gestantes não parecem ser mais suscetíveis às infecções do que a população em geral. As recomendações são as mesmas: álcool em gel, higiene e etiqueta respiratória.” 

No material confeccionado pelo obstetra, com informações colhidas em publicações do Ministério da Saúde, da OMS e do Royal College Obstetricians and Gynaecologists, aparecem uma série de pesquisas que podem ajudar a tranquilizar as futuras mães. “Uma série de casos publicada por Chen et al testou líquido amniótico, sangue do cordão umbilical, amostras de esfregaços na garganta e amostras de leite materno de mães infectadas com COVID-19 e todas as amostras com resultado negativo para o vírus. Além disso, em outro artigo de Chen et al, três placentas de mães infectadas foram testadas e com resultado negativo para o vírus”, diz a cartilha. “Atualmente, não existem dados sugerindo um risco aumentado de aborto espontâneo ou perda precoce da gravidez em relação ao COVID-19. [...] Como não há evidência de infecção fetal intrauterina com COVID-19, atualmente considerado improvável que haja efeitos congênitos do vírus no desenvolvimento fetal.” 

Por prevenção, o Ministério da Saúde abraçou os cuidados já tomados para infecções respiratórias. Confira: 

Gestantes e puérperas com Síndrome Gripal e risco para COVID-19 

  • A presença de dispneia, ou dificuldade para respirar, deve ser observada; 
  • Gestantes e puérperas, mesmo vacinadas, devem ser tratadas com antivirais; 
  • Exames radiológicos devem ser feitos, em qualquer período gestacional, para averiguar hipótese diagnóstica de pneumonia; 
  • A elevação da temperatura deve ser controlada. A melhor opção é o paracetamol; 
  • Isolamento domiciliar é contraindicado.  
Puérperas classificadas como casos suspeitos e assintomáticas 
  • Isolamento domiciliar; 
  • Manter o recém-nascido em quarto privativo; 
  • Distância mínima do berço e da mãe de pelo menos 1 metro; 
  • Etiqueta respiratória; 
  • Higienização das mãos após tocar nariz, boca e sempre antes do cuidado com o recém-nascido; 
  • Máscara cirúrgica durante a amamentação e circulação pelo ambiente comum 

Puérperas classificadas como casos confirmados e assintomáticas 
  • Isolamento domiciliar; 
  • Interromper amamentação e começar o uso de fórmulas infantis; 
  • Isolar a mãe do recém-nascido até que os sintomas cessem. 

De acordo com a Secretaria Estadual de Saúde, o Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira (Imip), no bairro da Boa Vista, área central do Recife, está responsável por atender possíveis casos de coronavírus em gestantes. Junto ao Osvaldo Cruz e ao Correia Picanço, ele tornou-se referência no combate a pandemia. 
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