Confinada com o marido doente, idosa escreve e manda poesias pelo WhasApp
Por: Silvia Bessa
Publicado em: 22/03/2020 18:57 | Atualizado em: 22/03/2020 19:03
Arquivo de família/Cortesia |
Tem quem pense em si; tem quem pense em si e nos outros. Dona Rosa Maria da Fonseca, 67 anos, resolveu usar versos para chacoalhar a resiliência de quem ama, diante do caos provocado pelo coronavírus. Trancada em casa, cuidando do marido de 80 anos, paciente de uma aneurisma da aorta e muito vulnerável ao contágio, usa intervalos da dura rotina para escrever e multiplicar sentimentos bons. Desde a última quarta-feira, é assim: todos os dias escreve pequenos acrósticos - poesias em que as primeiras letras dos versos formam palavras fortes. Manda os mimos em escrita para amigos, parentes, ex-colegas de faculdade. Na manhã seguinte, olha para o céu, retoma o fôlego e redige à antiga, com o próprio punho, mais uma leva de pensamentos.
Neste domingo o conselho da professora Rosa, mestra depois dos 55 anos, especialista em ensinar autoestima para crianças carentes na rede pública de Olinda, dizia: é tempo de restaurar!
“Retome a fé
Escute mais, espere!
Seja suplemento
Transborde paz e
Alegria
Una-se aos demais
Reaja amando e
Amado, amparado
Reencontre-se”
Escrever acrósticos foi uma restauração também de uma prática antiga. A mãe dela sonhava em ser jornalista e tinha este hábito usando os nomes de pessoas como ponto de partida. Rosa seguiu a mãe, hoje falecida. Sobre o coronavírus, escreveu:
“Convocação mundial
Observada no
Retiro e Reflexão para
Oblação, como
Nascedouro de
Amor, na
Valorização do outro como
Irmão, na
Restauração do valor da
União e
Solidariedade.”
Rosa é uma mulher especial, daquelas cujas palavras vale a pena se inspirar, em especial em momentos como este em que a paz espiritual e a tranquilidade são raros. Dona de casa, mãe de três filhos, realizou seu sonho de prestar vestibular para pedagogia e ensinar tardiamente - com mais de 55 anos. Formou-se e passou a ser querida entre as crianças pobres de onde ensinava pela entrega e mente criativa. Agora com o isolamento social a que se submeteu, está “Vivendo a plenitude do tempo”, como diz o título do livro que escreveu há alguns anos e que aguarda o convite de uma editora para publicação. Rosa está em confinamento, mas tem o que dividir:
“Dê outro sentido e significado ao isolamento.
Imagine que
Solidariedando-se, será
Ombro amigo,
Leal,
Amoroso,
Movendo
Energia, removendo
Negatividades.
Tamanha força desse
Olhar ao outro”