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Álcool combustível não é indicado para combater coronavírus

Publicado em: 30/03/2020 12:03

 (Foto: Paulo Paiva/DP foto)
Foto: Paulo Paiva/DP foto
Quando o álcool em gel 70% começou a faltar nas prateleiras, a cuidadora de idosos Elizete Maria dos Santos, 50 anos, correu para providenciar álcool combustível no posto mais próximo. Desde então, usa o produto para borrifar nas mercadorias compradas nos mercados. Assim, tenta aniquilar o coronavírus. O pouco de álcool em gel ainda guardado em casa, usa apenas para higienizar as mãos quando precisa sair do isolamento. Mas o álcool combustível é indicado para combater o coronavírus?

Assim como Elizete, moradora de Vicência, na Zona da Mata, outras pessoas têm adquirido o álcool combustível para higienizar maçanetas, interruptores e mercadorias que chegam em casa. Seja porque não encontram o produto indicado pelos especialistas para vender, seja porque o litro do álcool combustível 92% custa menos. “O álcool do posto é forte, mais de 70%, por isso acho que serve”, raciocina Elizete.

Em situação de rua, Shirley (nome fictício), 29, vive no Bairro do Recife. Ela disse que ouviu falar da importância de lavar as mãos com álcool e por isso comprou um pouco no posto de combustível. Disse que o preço é mais em conta.

O produto, alertam especialistas, não serve para combater o coronavírus e ainda coloca a vida do usuário em risco. O médico Marcos Barreto, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Queimados e chefe do Centro de Tratamento de Queimados do Hospital da Restauração (HR), disse que está preocupado com o uso do álcool, seja ele qual for. Segundo ele, a quantidade de pessoas queimadas com álcool é alto e tende a aumentar se as pessoas não tomarem cuidado. “O paciente queimado com álcool tem risco de vida muito grande e, se sobreviver, as sequelas são definitivas.”

Na semana passada, disse o médico, foram registrados nove internamentos por queimaduras no HR, a maior parte de donas de casa, além de uma funcionária de uma fábrica de álcool em gel, em Jaboatão dos Guararapes. Os acidentes aconteceram enquanto cozinhavam ou providenciavam a limpeza. Com mais crianças em casa por conta da suspensão das aulas, os cuidados com meninos e meninas também precisa ser redobrado.

“O álcool combustível não funciona. Ele evapora com muita rapidez. Não dá tempo de neutralizar o vírus. O risco de guardar o produto em casa é ainda mais alto porque geralmente as pessoas usam depósitos maiores, como garrafas pet de três litros, e isso pode ocasionar um incêndio em casa, alerta o médico Marcos Barreto. Além disso, falou o médico, usado na pele, pode causar lesões e, se atingir os olhos, pode lesionar a córnea.

Os especialistas reforçam que o álcool indicado para combater o coronavírus é em gel ou líquido, ambos 70%, este último mais inflamável, mas liberado para venda por conta da pandemia. Outra alternativa é diluir um pouco de água sanitária na água e borrifar em bolsas, chaves e mercadorias e em panos de chão dispostos na entrada da casa. “O ideal é usar o gel porque ele pega fogo com mais dificuldade. O líquido é mais para unidades hospitalares. Mas, na falta do gel, é possível usá-lo em casa nas maçanetas, corrimões, enfim, onde as pessoas usam as mãos”, ensina o médico.

Marcos Barreto acredita que com a tendência das pessoas ficarem cada vez mais em casa, o uso do álcool vai reduzir, já que nada substitui a água e o sabão para neutralizar o coronavírus.

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