O frevo é nosso desde 1906

Publicado em: 08/02/2020 14:12

 (Cepe/Divulgacao)
Cepe/Divulgacao
 
O frevo já é tão natural ao pernambucano que parece que o estado nasceu ao ritmo dele. Oficialmente, este estilo musical é comemorado no dia 9 de fevereiro, data que foi escolhida, desde 1990, por representar a primeira vez em que o termo “frêvo” – ainda grafado com acento – foi veiculado por um periódico que circulava na época, o Jornal Pequeno. A publicação de fim de semana do ano de 1907 trouxe uma nota assinada pelo jornalista Oswaldo Almeida sobre as músicas do ensaio do Clube de Empalhadores do Feitosa, na qual estava a canção O frêvo. Mas quem poderia imaginar que um fato tão tradicional também não carregasse suas surpresas?

Acontece que uma descoberta recente mexeu com a história. O frevo já havia sido citado pelo menos um ano antes do que a data que hoje marca seu aniversário, na coluna Vida Social, no Diario de Pernambuco. À época, mais precisamente no dia 11 de janeiro de 1906, a capa do mais antigo jornal em circulação na América Latina trazia: “A Troça carnavalesca mirim Tome Farofa realiza hoje, na Rua dos Ossos, às 7 horas da noite, ensaio de cantorias sendo executadas as seguintes marchas: O frêvo, Um nickel para bicala e Adubo da farofa.” Quem tenta trazer esta informação à luz é o pesquisador Roberto Vieira. Mesmo que sua especialidade seja o futebol, com mais de 10 livros publicados, o médico por formação tem o carnaval entre seus temas prediletos. Roberto passou dias no Arquivo Público procurando informações sobre a festa no estado. “É delicado tratar deste assunto porque mexe com a memória de Evandro Rabelo, pesquisador que encontrou no Jornal Pequeno a citação ao frevo e lutou com afinco, por muitos anos, para criar o dia do ritmo. Mas, para quem trabalha com história, uma informação destas não pode ser deixada de lado”, explica Vieira. “É como descobrir que o grito da independência foi dado no dia 6 de novembro.”
 
É bem verdade que o erro já havia sido observado, há 20 anos, pelo pesquisador e jornalista Leonardo Dantas Silva, que também já trabalhou na redação do Diário. Em seu livro Carnaval do Recife, o ex-diretor do Departamento de Cultura da Secretaria de Educação e Cultura do Estado chega a citar a edição de 1906, mas o fato acabou dividindo espaço com as muitas outras informações da publicação.

Simbolismo
Roberto Vieira destaca citação em matéria de 114 anos atrás (TARCISO AUGUSTO / ESP. DP FOTO)
Roberto Vieira destaca citação em matéria de 114 anos atrás (TARCISO AUGUSTO / ESP. DP FOTO)
 
“Preciso dizer que eu não fui o primeiro a perceber que comemoramos o dia do frevo na data “errada”, se é que podemos chamá-la assim, mas acredito que a primazia jornalística da publicação pertencer ao Diario de Pernambuco e não ao Jornal Pequeno deveria ter sido mais destacada”, comenta Vieira. “O fato é importante do ponto de vista histórico e carrega em si um simbolismo ímpar. Devia ter ficado registrado que o jornal mais antigo em circulação no continente chegou primeiro neste quesito. O Diário é um ponto tão formidável de nossa cultura quanto o ritmo do frevo”.

“Eu não tento modificar o dia de comemoração. Já está fincado na nossa história”, esclarece o pesquisador. “Na verdade, espero que todos tratem o resultado desta pesquisa como mais uma data para frevar. A gente não perde nada, só ganha.” Boa notícia para o povo pernambucano, que não precisa de motivo para fazer a festa.
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