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Saguis de Aldeia não morreram de febre amarela, diz governo de PE
Publicado: 22/01/2020 às 09:35

17 saguis foram encontrados mortos em condomínios de Aldeia nas últimas semanas./Foto: Ricardo Fernandes/Arquivo DP.
Os saguis encontrados mortos no bairro de Aldeia, em Camaragibe, na Região Metropolitana do Recife, não estavam com o vírus da febre amarela, conforme suspeita inicial da Secretaria Estadual de Saúde (SES). No entanto, os exames apontaram a presença dos vírus do zika e do herpes nos animais. Essa é a primeira vez que o zika é encontrado em macacos em Pernambuco, o que pode significar um ciclo silvestre de zika no estado. Nesse caso, o sagui é um hospedeiro vertebrado na transmissão e circulação do vírus em ambientes tropicais urbanos, o que facilita a reinfecção nos humanos. A suspeita está sendo investigada. No Brasil, há registros de zika em macacos em Minas Gerais e em São Paulo, mas ainda não há confirmação de ciclo silvestre no país.
Até agora, além da febre amarela, estão descartadas a dengue e a chikungunya nos animais analisados. Ainda estão sendo estudadas as possibilidades de morte por envenenamento, por raiva, além de por herpes e zika, esta última menos provável, já que normalmente não é letal no animal. O Laboratório Central da Bahia está analisando a presença da raiva nas amostras, enquanto a Polícia Científica de Pernambuco investiga o envenenamento. “Como há várias hipóteses, seria arriscado fechar em uma delas, mesmo sabendo que herpes é letal em macacos. O zika vírus nao é. Deixa o macaco letárgico, mas não é letal. Teve macaco com os dois vírus, do herpes e do zika, por exemplo”, explicou Luciana Albuquerque, secretária executiva de Vigilância em Saúde do Estado. O estado de letargia do animal, por sua vez, deixa ele mais vulnerável a uma ação humana violenta.
Entre os dias 26 de dezembro de 2019 e 7 de janeiro de 2020, a SES foi notificada da ocorrência de 17 macacos mortos em dois condomínios de Aldeia. Do total de animais notificados, em seis houve condições de coleta de material biológico para análise em dois laboratórios. No Instituto Evandro Chagas, no Pará, referência nacional para febre amarela, todas as amostras deram negativas para a doença em dois tipos de exame, o PCR e o imunoistoquímico. Pelo Laboratório Central de Saúde Pública (Lacen) e pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), ambos de Pernambuco, todos também deram negativo para febre amarela, desta vez somente pela técnica PCR. Das amostras, três foram positivas apenas para zika, duas para zika e herpes e uma apenas para herpes.
“Em Pernambuco, não tinha sido encontrado macaco com zika. No Brasil, sim. O que não quer dizer que a gente tem um ciclo silvestre do zika vírus. O Ministério da Saúde tem estudado sobre isso, a gente tem estudado junto com o ministério sobre essa hipótese, mas a gente ainda não pode afirmar”, pontuou Luciana Albuquerque. A secretária disse, ainda, que a infecção por herpes nos macacos se dá quando as pessoas alimentam esses animais.
Na investigação inicial da febre amarela, foi investigada a presença de dois possíveis vetores transmissores da doença, o Haemagogos e o Sabethes. Desta vez, será investigada a presença de um outro potencial vetor, o Aedes albopictus, um dos transmissores do vírus quando se fala em zika silvestre. “Ele pode servir de ponte para a transmissão silvestre e urbana porque se alimenta tanto de animais silvestres quanto do sangue humano, diferente do Aedes aegypti, que busca alimento nas pessoas”, explicou Constância Ayres, pesquisadora da Fiocruz em Pernambuco.
Segundo a pesquisadora, será possível analisar na Fiocruz se a quantidade de vírus zika foi capaz de matar os animais, identificar quais as espécies de mosquitos estão envolvidas na transmissão do vírus, se os mosquitos estão infectados pelo vírus e determinar a taxa de infecção.
O secretário estadual de Saúde, André Longo, disse que, se confirmado o ciclo de zika silvestre, o que vai acontecer é uma maior dificuldade de controle do zika em Pernambuco. “Isso porque a circulação silvestre do zika faz com que haja hospedeiro, que é o macaco, e isso faz com que tenhamos mais dificuldade de erradicar o vírus no estado.”
Quanto à febre amarela, o secretário tranquilizou a população e disse que vai “centrar fogo” na vacinação em todo o estado ao longo de 2020. “Vamos manter a vacinação em Camaragibe, mas não com ações pontuais em condomínios. Os postos vão continuar vacinando e vamos continuar vacinando nos municipios da terceira e quinta Geres, onde a ação já foi iniciada no início do ano. A partir de março, ampliamos para todos os municípios de Pernambuco.”
Desde 1938 não há circulação de febre amarela em Pernambuco. Os macacos não transmitem o vírus para os humanos, são apenas vítimas do vírus e servem para alertar autoridades sanitárias sobre a circulação do mesmo. A SES alertou que matar macacos é crime previsto em lei, com sanções como prisão e pagamento de multa.
Números da vacinação em Pernambuco
Em janeiro, 43 cidades que compõem a III e V Gerências Regionais de Saúde (Geres) estão no foco da vacinação contra a febre amarela
A proteção é voltada para crianças de 9 meses até adultos de 59 anos
A partir de março, a expansão acontece para todo o estado, totalizando 8,4 milhões de pessoas beneficiadas
Desde janeiro deste ano, mais de 8 mil pessoas foram vacinadas contra a febre amarela nos municípios das Geres III e V
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