Vida Urbana

/Foto: Peu Ricardo/DP
As lonas de plástico preto rasgam o cenário dos morros de Camaragibe, na Região Metropolitana do Recife (RMR). Na verdade, o que resta das lonas. No último inverno, o município foi o que mais sofreu, na RMR, os efeitos da chuva aliados à falta de intervenções públicas no morro. Sete pessoas morreram soterradas por barreiras em Camaragibe. Com a proximidade do inverno, as famílias voltam a ficar preocupadas. Para elas, lona é ação paliativa. E danificada, também perde essa função. Os muros de arrimo são a principal demanda de quem vive com medo de ser engolido pelo barro.
Gizele Ferreira, 28 anos, é desempregada. Mora sozinha com um irmão na mesma casa que foi dos pais dela. Cresceu observando o pai e a mãe reivindicarem um muro de arrimo junto à prefeitura. A cada ano, diz ela, um pedaço da barreira desaparece. Tornando mais estreita a distância entre o imóvel e o precipício. “Nossa situação é antiga, mesmo assim, nunca foi solucionada”, disse Gizele, moradora de Areinha. Perto dali, no Bairro dos Estados, sete pessoas morreram soterradas durante as chuvas de junho do ano passado.
Luana Lopes, 31, vive em Areinha desde que nasceu. Divide a casa com cinco pessoas, sendo duas crianças e duas mulheres adultas com deficiência. No ano passado, presenciou a barreira ceder perto do imóvel. Agora, conta, há menos de um palmo de distância entre a barreira e a parede da cozinha. “Eu só penso que vai acontecer algum acidente e vamos todos morrer. Precisamos de ajuda urgente. Toda vez que chove, acordo. Essa casa nossa mãe deixou para a gente. Não tenho para onde ir”, lamentou. A barreira que corta a casa de Luana é a mesma da residência de Gizele. As duas mulheres são primas. Conhecem, desde crianças, a geografia do medo.
Na divisa com Areinha está o Alto do Céu, no Recife, com habitantes nas mesmas condições. Maria Dolores chegou aos 85 anos sem ver a construção de um muro de arrimo na frente de sua casa. “Quando a gente chegou aqui era tudo verde. Agora tá cheio de casa. A cada ano, essa rua aqui fica ainda mais estreita porque a barreira tá sumindo”, lamentou. Sem muro de arrimo e sem rua calçada, sair de casa em uma cadeira de rodas é martírio para Dolores.
O presidente da Câmara de Vereadores de Camaragibe, Antônio Oliveira (PP), disse que vai levar a denúncia dos moradores de Areinha para o Ministério Público de Pernambuco (MPPE). “Esta casa já aprovou inúmeros requerimentos pedindo a construção de muros de arrimo para a localidade. Agora, vamos recorrer ao MP para apresentarmos uma solução aos moradores daquela área. A prefeitura sempre informa que não há recursos, mas gasta o erário público com coisas supérfulas, como uma decoração de Natal para a praça da cidade, orçada em mais de R$ 50 mil.”
A secretária de Defesa Civil, Kátia Marsol, calcula que seriam necessários R$ 5 milhões para sanar os problemas de encostas e drenagem nas áreas de morro. Valor que, segundo ela, Camaragibe não tem e sequer tem perspectiva de ter. “A prefeita (Nadegi Queiroz - PSDC) irá a Brasília para tentar emendas para o município. Por enquanto, estamos fazendo limpeza e recuperação das escadarias e canaletas com recursos próprios. Somente a recuperação das escadarias custa em torno de R$ 2 milhões”, afirmou.
O serviço de colocação de lonas começa no dia 15 de fevereiro em quatro áreas de morro de Camaragibe. “80% do município é formado por morro. Temos cerca de 2 mil pontos de risco. A partir de março, já temos previsão de chuva”, informou a secretária. Os pontos mais críticos são o Bairro dos Estados, Carmelitas, Areinha, Alto Santo Antônio, Córrego do Desastre, Vale das Pedreiras e Tabatinga. O número de telefone do plantão da Defesa Civil é 2129.9564.
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