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'Bombei na internet', diz menino que fez trabalho escolar em loja

Publicado em: 11/11/2019 20:59 | Atualizado em: 11/11/2019 22:37

O trabalho feito no tablet garantiu nota 10 a Guilherme. (Foto: Leandro de Santana/Esp. DP.)
O trabalho feito no tablet garantiu nota 10 a Guilherme. (Foto: Leandro de Santana/Esp. DP.)

Guilherme Henrique Santos tem 10 anos. Aluno do o 5º ano do ensino fundamental, na Escola Municipal Abílio Gomes, localizada na comunidade do Entra Apulso, em Boa Viagem, Zona Sul do Recife, ele tinha uma missão: entregar um trabalho escolar de geografia. Diante da impossibilidade de fazer a atividade em casa, por falta de equipamentos, foi até uma loja de eletrônicos no Shopping Recife na última quinta-feira (7) e, em um dos tablets expostos no mostruário, começou a fazer a tarefa. O gesto simples do menino viralizou ao longo do fim de semana nas redes sociais, gerando comoção social

Enquanto a mãe do menino e a professora da escola tomaram um susto, Guilherme gostou de ter “bombado na internet”, como ele mesmo diz. Essa foi a quarta vez que a criança recorreu à loja para estudar - o celular de sua mãe foi roubado recentemente e seu celular pessoal pifou. “Não tenho wi-fi nem computador em casa. Então fui para o shopping. Cheguei na loja e comecei a fazer o trabalho em um celular. Aí chegou um vendedor e perguntou o que eu estava fazendo. Expliquei e ele me levou para o tablet, para ficar mais confortável”, explica.

O vídeo mostra Guilherme sereno, fazendo sua pesquisa no aparelho eletrônico, com mochila nas costas e caderno e caneta nas mãos. A primeira pessoa de sua família que soube foi a irmã, que avisou à mãe. “Coração ficou muito acelerado. Pressão subiu também. Mas tomei dois remedinhos e um suquinho de chuchu”, brinca a servente Rosali Santiago do Nascimento. Ela trabalha em outra escola da comunidade (Inalda Spinelli).

Guilherme junto com a colega Anna Beatryz, a professora Pâmela e o trabalho de geografia nota 10. (Foto: Leandro de Santana/Esp. DP.)
Guilherme junto com a colega Anna Beatryz, a professora Pâmela e o trabalho de geografia nota 10. (Foto: Leandro de Santana/Esp. DP.)

“O fim de semana foi agitado. Ele ficou doidinho, dizendo ‘mainha, eu arrasei. Meu sonho é ser famoso e comecei com o pé direito’”, acrescenta. O menino sonha em ser ator no futuro. Fora do horário escolar, faz aulas de dança: “Ele é louco por esses negócios (de dançar)”, conta Rosali. Nos momentos de lazer, gosta de ouvir e dançar K-pop (ritmo coreano) e ir à praia. 

E o trabalho?
O que levou Guilherme ao tablet da loja de eletrônicos era uma pesquisa sobre a Região Sul do Brasil, para um trabalho de Geografia. Ele não fez o trabalho sozinho. Contou com a ajuda da amiguinha de sala, Anna Beatryz Araújo, de 11 anos. “Quando ele me contou, fiquei emocionada. Porque já passei por isso quando não tinha tablet nem celular. Era a época que minha mãe não trabalhava. Então, só me restava ir para o shopping estudar”, conta.

E a repercussão, claro, afetou o cotidiano da escola. Ainda era horário de aula quando “todo mundo começou a vir atrás dele”, segundo a professora Pâmela Estoller, responsável pela atividade. “Primeiro ele chegou na escola sexta, à tarde, dizendo que estava ‘bombando’. Apresentou o trabalho e depois começamos a ver o que estava acontecendo”, recorda.

No futuro, Guilherme quer ser ator. (Foto: Leandro de Santana/Esp. DP.)
No futuro, Guilherme quer ser ator. (Foto: Leandro de Santana/Esp. DP.)

Por um momento, a professora chegou a ficar tensa pelo menino. “Ele estava no lugar certo, na hora certa. Talvez se fosse outro vendedor, não tivesse deixado ele fazer a tarefa. Fiquei com medo dele ser expulso ou constrangido da loja”, salienta. “A gente só sabe do que se passa na escola. Me surpreendeu quando ele falou o que fez. Apesar de todas as dificuldades que as crianças daqui passam, tento deixar a ideia de que elas não percam as esperanças de mudarem suas realidades. Tanto Guilherme quanto os colegas dele são capazes de ir a qualquer lugar e fazer qualquer coisa”, elogia.

O esforço resultou em uma nota 10. E com a repercussão do vídeo, ele ganhou um tablet de uma empresa de tecnologia e propostas de bolsas em curso de inglês e de informática. A mãe, Rosali, se enche de orgulho. “Ele teve criatividade, correu atrás e conseguiu. É o meu guerreirinho”, finaliza.
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