Diario de Pernambuco
Busca

Mobilização

Artista plástico quer ajudar moradores de contêiner

Publicado em: 20/11/2019 08:06

 (Foto: Leandro de Santana/DP.)
Foto: Leandro de Santana/DP.
Marcado pelo abandono e pela destruição causada pelo fogo, o contêiner que já abrigou um restaurante de comida oriental na Avenida Rui Barbosa, Zona Norte, se tornou moradia para Filipe e Minho, que tiveram suas histórias contadas pelo Diario no último fim de semana. A ruína metálica passou a ser a estrutura que sustenta a fé por dias melhores e também o amor pela arte, compartilhado pelos dois.

Fé e arte se juntam, inclusive, em um dos únicos itens de decoração do lar improvisado, uma imagem religiosa que Filipe usa para ornar o contêiner. A obra foi produzida pelo artista urbano carioca Alberto Pereira, que se emocionou ao saber que sua arte é elemento de fé para o flanelinha e seu amigo.

“Eu passei dez dias no Recife porque estava participando de uma exposição, e o contêiner fazia parte do meu caminho. Resolvi colar nas paredes essa arte. Não sabia que tinha gente morando ali. Eu fiquei sabendo porque me enviaram a matéria e fiquei louco para saber a história de Filipe”, conta.

Apesar de não ter religião definida, Alberto explica que frequentava a igreja durante a adolescência, mas que a obra tem outro significado. “A ideia de fazer esse símbolo foi menos sobre o sagrado da religião e mais sobre o que eu quero ressignificar por meio de imagens. Quero mostrar a cor preta como sagrada, e não profana como é sempre vista”. Minho, que divide a “casa” com Filipe, é desenhista. Já tem proposta de uma amiga para lançar seu trabalho em uma exposição. Atualmente vende água, e passou a morar na estrutura metálica após a morte dos seus pais.

O desenhista já trabalhou em um estúdio de tatuagem, mas saiu depois de um desentendimento com outros tatuadores. Vivendo das suas obras, Alberto Pereira contou que a função da arte não é salvar ninguém e nem mudar o mundo, mas gerar sentimento e fazer com que as pessoas reflitam sobre o dia a dia, as injustiças e privilégios.

“Saber que há pessoas que se inspiram com a minha arte só valida a ideia de que eu tenho que continuar fazendo o meu trabalho, que é o de tocar as pessoas através da arte”, considera. O artista carioca criticou a falta de ação das instituições e de programas que incentivem as pessoas negras e em situação de rua a terem condições de vida básicas, além da falta de oportunidades na arte e no mercado de trabalho.
Os comentários abaixo não representam a opinião do jornal Diario de Pernambuco; a responsabilidade é do autor da mensagem.
MAIS NOTÍCIAS DO CANAL