Reconhecimento
Mozart Neves Ramos defende a educação básica ao receber título de professor emérito da UFPE
Por: Anamaria Nascimento
Publicado em: 10/10/2019 20:41 | Atualizado em: 10/10/2019 20:41
Mozart ressaltou que o Brasil convive com diferentes realidades na educação. Enquanto é o 13º maior produtor mundial de publicações de pesquisa (papers), passando da Coreia do Sul; o Brasil passa para as últimas posições quando o assunto é educação básica. "A universidade pública no Brasil tem que olhar profundamente para essa questão. Estou, inclusive, à disposição para ajudar nesse sentido. Está na hora de as universidades terem uma agenda com a educação básica deste país", pontuou.
Nova gestão
O reitor nomeado destacou ainda que, em seu programa de gestão, há destaque para a política de formação de professores, que envolve, na UFPE, o curso de pedagogia e 36 licenciaturas. "Vamos trabalhar na perspectiva de formação de novos professores e também da formação continuada deles. Esta é uma pauta fundamental, que já vamos discutir nos primeiros dias (do mandato). Vamos procurar os municípios, por meio da Undime (União Nacional Dirigentes Municipais Educação de Pernambuco) e da Amupe (Associação Municipalista de Pernambuco) para termos uma pauta efetiva", garantiu.
Sobre a nomeação confirmada nesta quinta no Diário Oficial da União, ele ressaltou que a comunidade acadêmica da UFPE recebeu com alegria a notícia. "Estávamos confiantes. Vamos trabalhar para retomar um protagonismo da nossa universidade, para que os estudantes tenham melhores condições", disse.
Perfil
Os primeiros anos da vida escolar do professor que foi reitor da UFPE, secretário estadual de Educação e que hoje dirige a área de Articulação e Inovação do Instituto Ayrton Senna além de fazer parte do Conselho Nacional de Educação (CNE), foram em instituições olindenses. Estudou no Instituto Domingos Sávio, no Carmo, e no Colégio de São Bento, no Varadouro. Já na universidade, foi chamado pelo colégio onde concluiu o científico (atual ensino médio) para dar aulas de física e química. “Passei um ano e meio ensinando no São Bento. Foi uma experiência muito rica e que fez com que eu me apaixonasse pela sala de aula”, contou.
Do São Bento, o recifense de Olinda foi para a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), onde cursou engenharia química de 1973 a 1977. A relação com a instituição foi além da graduação. Mozart tornou-se professor, pesquisador, pró-reitor Acadêmico e reitor da universidade. Antes de assumir os postos, foi estudar na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). O químico pernambucano havia sido selecionado para o mestrado, mas saiu de uma das maiores universidades da América Latina com o título de doutor. “Fui muito bem nas disciplinas do mestrado, o que resultou em um convite para fazer o doutorado”, explicou.
A temporada em Campinas chegou ao fim em 1982. De volta a Pernambuco, dedicou-se à produção científica na UFPE e recebeu como retorno o reconhecimento como um dos químicos mais produtivos do país. A alta produtividade o levou ao pós-doutorado no Politecnico di Milano, uma universidade italiana estatal de cunho científico-tecnológico. “Quando voltei, assumi a chefia do Departamento (de Química Fundamental da UFPE). Era como um castigo. Na época, todo mundo era jovem e não queria administrar. Só queríamos dar aula e pesquisar”, lembrou. Ele tinha 32 anos e, embora não fosse seu desejo na época, decidiu se empenhar na gestão do departamento. Nascia ali o Mozart gestor educacional.
O espírito jovem e inovador do novo chefe do Departamento de Química Fundamental chamou a atenção do então reitor da UFPE Éfrem Maranhão. Do Centro de Ciências Exatas e da Natureza, Mozart passou a ocupar a cadeira principal na Pró-Reitoria de Assuntos Acadêmicos da universidade, onde esteve de 1992 a 1995. Novamente, ganhou destaque na academia pela maneira como geria, o que o levou ao cargo máximo da instituição, o de reitor. “Investi muito no trabalho de extensão universitária. O campus tinha que ser bem cuidado, bonito e com a sociedade presente. Abrimos as portas para afastar a insegurança. Para isso, as pessoas tinham que cuidar, ocupar os espaços. Visitantes de outras universidades ficavam impressionados positivamente quando passavam pela UFPE”, recordou.
O próximo passo na ascensão enquanto gestor educacional foi dado fora do campus da UFPE. Convidado pelo ex-governador Jarbas Vasconcelos para ser secretário estadual de Educação, Mozart passou quatro anos à frente da pasta em Pernambuco. Chegou ao cargo em 3 de fevereiro de 2003.
Anos antes, na década de 1990, o Ginásio Pernambucano, na época chamado de Colégio Pernambucano, foi da glória à ruína. Ao entrar em decadência, a escola foi fechada por causa das péssimas condições de infraestrutura. Foi quando um grupo de empresários – liderados pelo ex-aluno e então presidente da Philips no Brasil e na América Latina, Marcos Magalhães – decidiu recuperar a estrutura física do prédio. Uma renovação na gestão da instituição foi iniciada. O projeto de recuperação do prédio levou dois anos e meio e um investimento de R$ 3 milhões, numa parceria público-privada. Mozart comandava no braço público da gestão a transformação da instituição de ensino mais antiga em atividade do país em pioneira no modelo de ensino médio integral. “Não sou político e não sou filiado a partido, mas sabia que naquele momento tinha uma contribuição a dar ao estado”, enfatizou.
Após passagens pela presidência da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior no Brasil e do movimento Todos pela Educação, Mozart, hoje, dirige a área de Articulação e Inovação do Instituto Ayrton Senna, ONG dedicada à educação básica. Em 2018, voltou ao Conselho Nacional de Educação (CNE), onde é relator do parecer da resolução sobre formação de professores para a Base Nacional Comum Curricular (BNCC). “É um trabalho que quero fazer com muita atenção e cuidado. Tenho certeza que será um capítulo que vai marcar uma parte importante da minha vida”, afirmou.
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