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Após receber alta, Débora quer inspirar outras mulheres com sua história
Publicado: 11/10/2019 às 10:56

Foto: Reprodução/Instagram./Foto: Reprodução/Instagram.

Dois meses após perder o couro cabeludo durante uma corrida de kart no Recife, a estudante Débora Dantas de Oliveira, de 19 anos, recebe alta do Hospital Especializado de Ribeirão Preto, no estado de São Paulo. A próxima etapa do tratamento da jovem será estética e deve começar no próximo ano. Após sair da unidade, neste sábado (12), ela ficará hospedada no município paulista até o final de outubro para fazer curativos duas vezes por semana.
Durante todo o tratamento, a jovem se manteve otimista e agora comemora que os riscos já foram descartados pelos médicos. “Eu, infelizmente, não vou poder viajar ainda para a minha cidade natal, mas quero aproveitar ao máximo os próximos dias. Minha cabeça está fechada e o risco de vida foi descartado. Agora será um processo de estética que tem média de dois a seis anos. Haverá muito trabalho realizado no rosto, mas já estou aliviada”, diz.
Como não será possível ter cabelos naturais, um dos planos da jovem é utilizar uma prótese. Sobre o novo visual, ela diz que não sente vergonha e que pretende incentivar outras mulheres com sua história. “É um dos desafios que eu vou ter que viver, pois para uma mulher é muito complicado perder essa parte da estética. Quanto a ao rosto, eu tenho certeza que vai haver um ótimo resultado. Eu não vou ter vergonha. Eu sinto que muitas das vezes nos escondemos com medo de nos sentirmos feias ou desaprovados e eu não quero sentir isso. Meu cabelo original pode ser transformado em prótese, que eu posso usar, se quiser e quando quiser. Já que eu tive repercussão, eu quero incentivar as mulheres a se sentirem bem, sem ficar aprisionadas em padrões de beleza impostos pela sociedade”, conta.
Débora foi transferida do Hospital da Restauração, no Recife, para o hospital especializado em microcirurgia reconstrutiva no dia 18 de agosto. Durante o período de internamento, foram necessários 15 procedimentos cirúrgicos para recompor os tecidos que revestiam a cabeça, como o transplante de pele e músculo que durou nove horas e uma cirurgia para enxerto de pele no final de setembro, que durou quatro horas. O tratamento foi acompanhado pelos cirurgiões plásticos Daniel Lazo e Alex Boso Fioravanti, além do cirurgião ortopedista Salomão Chade. Médicos do Baylor College of Medicine, localizado em Houston, nos Estados Unidos, também acompanharam o caso.
Até o fim deste mês de outubro a paciente ainda fará curativos para ter uma completa cicatrização. Somente no próximo ano que passará por enxerto de gordura e reconstrução dos supercílios. “Nessa fase, a ideia era primeiro preservar a vida. O crânio é responsável por proteger o sistema nervoso central. A ideia inicial era cobrir e posteriormente colocar uma prótese capilar, já que não será possível crescer cabelo. A partir de janeiro vamos enxertar gordura e reconstruir os supercílios. Em junho de 2020 será possível refazer exames ambulatoriais simples de serem resolvidos”, explica cirurgião Daniel Lazo, chefe da equipe.
Enquanto esteve internada, Débora usou as redes sociais para se manifestar de forma positiva com relação ao tratamento e recuperação, com mensagens sobre fé e autoestima. A jovem sonha estudar medicina e já recebeu propostas para cursar faculdades particulares. O grupo Desafio Pernambuco de Kart Indoor mantém uma campanha de arrecadação de fundos para o tratamento dela.

"Aqueles que se escondem por medo de rejeição e desaprovação apenas se machucam, afundam no seu próprio eu, se esforçando para ser outra pessoa. Aprendi a respeitar meu corpo, meus desejos e meus sonhos, sempre me esforçando ao máximo para conseguir conquistar as minhas coisas, sempre passei muita dificuldade mas nunca as deixei me dominarem. Jamais terei vergonha do que me tornei e nunca me esconderei, tenho orgulho de minhas cicatrizes internas e externas, agradeço todas as minhas dificuldades porque hoje sou uma pessoa melhor graças a elas", comentou em uma postagem.
Acidente
O acidente aconteceu durante uma corrida de kart, no dia 11 de agosto, no estacionamento do supermercado Walmart, no bairro de Boa Viagem, na Zona Sul do Recife. Os cabelos de Débora foram puxados pelo motor do veículo, provocando o escalpelamento. Ela foi socorrida para o Hospital da Restauração, no bairro do Derby, no Centro da capital, onde foi reimplantado 80% da área desde as sobrancelhas até a nuca.
Após o procedimento no HR, a paciente apresentou microtrombos na região afetada, provocados por coágulos nas veias. Somente sete dias depois ela foi transferida para o Hospital especializado em microcirurgia em um avião particular contratado pela rede varejista Walmart. Ao chegar em São Paulo, os médicos constataram que houve perda do reimplante realizado no HR por causa de uma trombose.
Internada na UTI, ela passou por transplantes microcirúrgicos, reconstruções e enxertos com pele de outras partes do corpo. O músculo foi refeito com material das costas e pedaços de pele da perna foram usados para cobrir a região da cabeça. O responsável pelo Hospital Especializado, Pedro Palocci, falou que casos de grande gravidade são comuns na unidade. “É importante o fato de ser um caso de repercussão nacional, mas ele não é necessariamente algo que chama atenção. É normal no ponto de vista do hospital receber pacientes em casos graves e é nossa função dar cobertura ao tempo que for necessário para que esse trabalho de recuperação da paciente seja feito de maneira adequada”, conta.
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