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Quatro em cada dez nordestinos têm sintomas de refluxo, mas não sabem

Publicado em: 02/09/2019 15:57 | Atualizado em: 02/09/2019 16:11

Foto: Pixabay

Nos últimos seis meses, quatro em cada dez nordestinos tiveram um ou mais sinais da Doença do Refluxo Gastroesofágico (DRGE), porém a maioria deles sequer sabe disso. A pesquisa Mapa dos problemas Digestivos no Brasil, da biofarmacêutica Takeda e realizada pelo instituto GFK, mostrou que seis em cada dez pessoas na região desconhecem a doença e seus principais sintomas. A falta de conhecimento sobre essa enfermidade paira na população da região e do país, o que pode estar comprometendo a qualidade de vida de muita gente. A DRGE atinge cerca de 25% da população mundial. No Brasil, estima-se que sejam 40 milhões de pessoas doentes.

Essa doença se desenvolve quando o conteúdo do estômago reflui para o esôfago, isto é, volta. As principais causas são alterações no esfíncter que separa essas duas partes do corpo, uma hérnia de hiato ou fragilidades nas estruturas musculares da região. “O esfíncter funciona como uma espécie de válvula. Quando ele abre, você engole e ela volta a fechar. No refluxo, é quando essa válvula começa a abrir sem que você comande ela”, explica o gastroenterologista e doutor em Medicina pela Universidade de São Paulo (USP) Décio Chinzon. Há cerca de 30 anos, essa era uma doença que quase não chegava aos consultórios, explica gastroenterologista e endoscopista presidente da Federação de Gastroenterologia Capítulo Pernambuco Ana Botler, e quem vem tendo o crescimento associado à mudança de hábitos da população.

De acordo com Décio Chinzon, o refluxo é um fenômeno fisiológico que ocorre em todas as pessoas após as refeições. “É normal ter refluxos rápidos por curto período. Ele deixa de ser normal e se torna doença quando provoca sintomas e lesões”, explicou. No Brasil, os sintomas de DRGE mais recorrentes entre quem busca orientação médica são o próprio refluxo, a queimação no estômago e a azia. “O principal sintoma é a sensação de queimação que começa na boca do estômago e sobre até o peito, podendo chegar à garganta. Ou aquela sensação do alimento voltando. Há outros casos ainda de sintomas atípicos, que atingem 10% da população, como tosse, pigarro, dor torácica e até asma”, acrescentou Décio.

O perfil da pessoa que costuma ter a doença é aquela que come mal, tem uma dieta irregular, rica em gorduras, tem sobrepeso ou obesidade e não pratica exercícios físicos. “É aquela pessoa que costuma chegar à noite, comer bastante e logo em seguida dormir”, lembra o médico. Questões como não tomar líquido durante as refeições, evitar café em excesso, chocolate e bebida alcoólicas podem ajudar a evitar a diminuição do tônus da válvula do esôfago. “E principalmente evitar o excesso de peso, pois isso aumenta a pressão intra-abdominal, comprimindo o estômago e fazendo com que ele jogue o ácido para o esófago”, detalhou Ana Botler. Segundo ela, com a mudança de hábitos na população, a doença tem sido mais diagnosticada em pessoas mais jovens.

Um dos principais riscos da doença é o refluxo noturno, que pode levar à privação do sono, o que, por sua vez, está associada à pressão elevada, diabetes, obesidade, morte súbita e infarto. “A saliva age neutralizando o ácido, porém quando você está dormindo, você degluti menos. Com a sequência de refluxo, você pode favorecer a esofagite, a inflamação do esôfago”, explica Décio. A longo prazo, em alguns pacientes, isso pode se converter em câncer de esôfago. Um paciente com refluxo uma vez por semana tem duas vezes mais chances de ter esse tipo de neoplasia. Já aquele que tem mais de três refluxos por semana aumenta em até sete vezes as chances de desenvolver câncer de esôfago.

A pesquisa da Takeda e GFK mostrou que 58% dos pacientes nordestinos que sentem algum sintoma não sabem que ele pode estar associado à doença e que 37% disse não fazer nada quando tem crise, apenas deixa ela passar. A massoterapeuta Ana Cláudia Góis, 50 anos, teve refluxo há alguns anos. “Da primeira vez, senti uma queimação que vinha até a boca. Uma sensação de que eu iria regurgitar feito criança. Isso acontecia com alguns alimentos, como massas e me atrapalhava muito. Até dor no estômago eu tinha”, diz ela, que começou a fazer tratamento medicamentoso. “Deixei de comer alguns alimentos e procuro evitar ao máximo tomar líquidos durante as refeições”, conta. 
 
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