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Design Thinking e a Inovação na Educação

Publicado em: 23/09/2019 10:49

Não há como traduzir a palavra “design” para a Língua Portuguesa. Pode significar projeto, concepção ou criação, a depender do sentido e do contexto. Como área formal de conhecimento, o Design surge no final do século 19, no auge da Revolução Industrial, mas foi no início do século 20 que passa a ganhar força, especialmente com a criação da Escola Bauhaus,na Alemanha, até hoje referência de vanguarda para a arquitetura, a pintura, o desenho industrial, dentre outras artes.

Um dos legados da Bauhaus foi mostrar a importância de desenvolver produtos e serviços a partir do equilíbrio entre os avanços tecnológicos da época com o fazer artesanal sob medida de antes, mais personalizado, centrado nas pessoas usuárias daqueles produtos ou serviços. Despontava aí o conceito chave do Design Thinking: combinar qualidade estética com funcionalidade e utilidade. Mas o termo Design Thinking, de fato, começou a ser popularizado nos anos 2000 pela IDEO, premiada agência de inovação do Vale do Silício, na Califórnia (EUA), cujos fundadores são professores Escola de Design da Universidade de Stanford (D School). No Brasil, chegou mais formalmente em 2010 por meio de cursos de extensão universitária e menção em grandes eventos como a conferência TED no Rio de Janeiro. Podemos definir o Design Thinking (DT) como um novo jeito de pensar e abordar problemas ou, dito de outra forma, um modelo de pensamento que coloca as pessoas no centro da solução de um problema. Isso porque os designers não pensam somente na beleza estética de um produto ou serviço, mas também na funcionalidade para quem vai utilizá-lo.

Essencialmente, o DT funciona como uma abordagem a partir de três pilares que se inter-relacionam: empatia, colaboração e experimentação. Nesse sentido, e é muito importante frisar, o DT, ao contrário do que possa parecer, não é uma (mais uma!) metodologia de ensino.

DT E A INOVAÇÃO NA EDUCAÇÃO

Se tem uma palavra que fica martelando na mente dos profissionais da educação e cuja definição, de certa forma, depende de interpretações subjetivas, essa palavra é “inovação”. Meu projeto é inovador? Uma nova ferramenta digital é inovadora? Nossa proposta curricular é inovadora? São muitas as dúvidas e respostas possíveis. Para o DT, no entanto, inovação tem a ver com valor percebido pelas pessoas e isso, normalmente, não é imediato, depende da apropriação, da utilidade de um produto ou serviço na vida das pessoas. A inovação no DT não surge, é consequência.

Um exemplo desse conceito de inovação que acontece (consequência) e que tem a ver com experimentação são os famosos post-its, aqueles papeizinhos coloridos adesivos que imediatamente vêm à mente quando se fala em DT. Poucas pessoas sabem que o produto não foi lançado exatamente como é hoje. Bem longe disso, ele foi resultado de uma cola fabricada que “não deu certo”, pois era fraca, não grudava direito. Algum tempo depois, bem depois, alguém viu que poderia usar aquele papel que colava e descolava com facilidade em diversas superfícies, para manter anotações em uma agenda, por exemplo, ou organizar ideias em uma reunião. Tal possibilidade foi se alastrando entre as pessoas até que se pudesse categorizar o produto como inovador. Em resumo, o produto, serviço ou projeto criado precisa ser comprovadamente útil e apreciado por quem vai usufruí-lo. Sem isso, não existe inovação sob a perspectiva do DT. Outro aspecto bem importante relacionado à inovação para o DT é que ele não acontece apenas “fora da caixa”, mas também “dentro da caixa”, ou seja, nem sempre é possível estabelecer grandes mudanças de gestão ou de processos institucionais para que haja inovação. Apenas “pensar fora da caixa” não é o bastante, mas sim considerar os entraves existentes e buscar alternativas de enfrentá-los.

Usar o DT na educação pressupõe empreender processos inovadores dentro de modelos estruturais pouco flexíveis (alguém lembrou de escola?). Somente a colaboração entre as pessoas vai permitir solucionar desafios com criatividade e sim, alguma dose de ousadia. Motivar e mobilizar para a ação tem tudo a ver com o uso do DT, mais ainda na educação.

Sem dúvida, estamos falando aqui de coletividade, de atividades em equipe, cooperação entre pares. No entanto, mesmo sozinho em sala de aula, o professor pode criar metodologias diversas baseadas no DT para trabalhar diferentes temáticas curriculares. O DT pressupõe intencionalidade pedagógica, claro, mas não se pode confundi-lo com metodologia de projeto, pois existe sempre um elemento inesperado a ser considerado no processo e, principalmente, o erro (o não dar certo).

Uma das principais referências em formação docente, o pedagogo norte-americano Donald Schön, em seu livro Educando o Profissional Reflexivo: um Novo Design para o Ensino e a Aprendizagem ressalta o componente surpresa da prática educativa como geradora de conhecimento e também uma possibilidade de refletir no meio da ação, sem precisar interrompê-la e, se preciso for, dar nova forma a essa mesma prática. De alguma forma, Schön já antevia os benefícios do DT para a educação.

* Diretora-executiva do Instituto Educadigital.
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